NESTA EDIÇÃO. Adições renováveis ficam abaixo do necessário para meta de 11,2 TW em 2030, mas setor está otimista.
Solar é a única fonte cujas instalações estão triplicando desde 2019.
EDIÇÃO APRESENTADA POR

O mundo está entrando “em sua última milha” para alcançar a meta de triplicar renováveis até o final da década e, pela primeira vez, as projeções despertam otimismo, disse nesta terça (14/10) o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), Francesco La Camera.
“Podemos dizer que a transição energética está crescendo. Pela quarta vez seguida, há recorde na capacidade instalada de renováveis. E, em 92% dos casos, é a forma mais competitiva de produzir energia”, disse a jornalistas.
Na visão do diretor da Irena, essa competitividade e expansão apontam para um caminho sem volta.
“A transição energética é imparável. Ninguém pode reverter esse processo. Nós alcançamos um ponto de não retorno aonde a participação das renováveis será cada vez maior”.
A expectativa da agência é que, em 2025, as adições superem 750 GW, um novo recorde, mesmo diante dos ataques de Donald Trump aos projetos eólicos e solares nos Estados Unidos.
“É a primeira vez em seis anos que sinto que estamos muito, muito próximos. Estamos na última milha. Se fizermos as escolhas certas, acho que no próximo ano estaremos reduzindo a diferença e possivelmente estaremos alinhados com a meta”, diz La Camera.
Mas como diz o ditado: a última milha é a mais difícil…
Mesmo com recordes de instalações em 2024, o mundo ainda tem um longo caminho até sua meta de 11,2 TW de capacidade de fontes renováveis até 2030, mostra o relatório divulgado hoje pela Irena, Presidência Brasileira da COP30 e Aliança Global de Energias Renováveis (GRA).
O estudo foi apresentado durante um evento de alto nível pré-COP30 em Brasília alerta que está ficando mais difícil cumprir o acordo da COP28.
Em 2024, as adições globais de capacidade renovável atingiram recorde de 582 GW, mas faltaram 462 GW para ficar dentro da média anual de acréscimos prevista na edição anterior do relatório.
Agora, serão necessários 1.122 GW de capacidade adicional a cada ano a partir de 2025, exigindo que o crescimento anual acelere para 16,6% ao longo da década — em um contexto de guerras violentas e tarifárias e disputas por suprimentos.
Se o ritmo de crescimento atual — na casa dos 15% — se mantiver, em 2030 a capacidade alcançará 10,3 GW.
Ainda assim, há um otimismo por parte do setor privado.
Ben Backwell, presidente da GRA, uma coalizão de empresas do setor energético, estima que os investimentos devem alcançar US$ 800 bilhões até 2026.
Ele avalia que independente de ventos contrários, os investimentos devem seguir firmes.
“Há alguns países com narrativas diferentes, realidades alternativas, mas os números falam. E acho que a direção do caminho está clara. São muitos países que estão acelerando”, disse a jornalistas nesta terça.
Acordo para triplicar renováveis
Em 2023, na COP28 de Dubai, quase 200 países concordaram com a meta de triplicar a capacidade renovável para 11,2 TW até 2030, além de dobrar a eficiência energética.
A Irena ficou responsável por monitorar e relatar o progresso anual dessas instalações. O relatório desta terça é a segunda edição do balanço (.pdf).
Ele conclui que a meta do Consenso dos Emirados Árabes Unidos continua ao alcance, mas desequilíbrios tecnológicos e geográficos ameaçam “uma transição eficaz, justa e inclusiva”.
Publicado a menos de um mês da COP30, o relatório aponta que a atualização de 60 NDCs apresentadas até setembro indica um incremento de 112 GW nas instalações.
Ainda assim, coletivamente, as promessas precisariam dobrar para alcançar a meta de Dubai.
Só a solar no ritmo
A energia solar foi responsável por mais de três quartos das novas adições de capacidade em 2024.
Com 452,1 GW (27% a mais do que em 2023), foi a maior adição anual de qualquer tecnologia de energia renovável em um único ano, segundo a Irena.
O relatório aponta que a capacidade global de energia fotovoltaica triplicou entre 2019 e 2024 e, no ritmo atual, a meta de 6,15 TW para 2030 parece alcançável, exigindo 716 GW de capacidade a cada ano entre 2025 e 2030.
É a única fonte com expansão animadora. Todas as outras ficaram abaixo do nível necessário para 11,2 TW.
Na eólica, os 114,3 GW adicionados em 2024 ficaram ligeiramente abaixo do registrado em 2023.
Enquanto as instalações onshore expandiram (de 103,7 GW adicionados em 2023 para 105,7 GW adicionados em 2024), a offshore desacelerou de 11,6 GW em 2023 para apenas 8,6 GW em 2024.
Já a bioenergia instalou cerca de 5,1 GW, elevando a capacidade acumulada para 151 GW. Para colaborar com a meta global, é preciso chegar a quase 310 GW, o que significa adicionar 26 GW por ano.
Cobrimos por aqui
Curtas
4x combustíveis sustentáveis. O diretor do Departamento de Energia do Itamaraty, João Marcos Paes Leme, confirmou nesta terça (14/10) a apresentação formal de uma proposta de compromisso para elevar quatro vezes, a nível global, a produção e o uso de combustíveis sustentáveis até 2035.
- A iniciativa é encabeçada por Brasil, Japão, Itália e Índia. A intenção é mobilizar adesões até a COP30, marcada para novembro, em Belém (PA).
MP 1304. Depois das articulações nos bastidores, o Congresso Nacional começou a dar tração esta semana às discussões sobre a MP 1304/2025, que herdou praticamente todas as propostas do governo de alterações no setor elétrico.
- Com o início das audiências públicas, a expectativa é acelerar as negociações em torno do relatório.
Apagão. O ONS informou que a interrupção no fornecimento de eletricidade que atingiu parte do país na madrugada de terça-feira (14/10) foi causada por um incêndio em um reator na subestação de Bateias, no Paraná.
- A ocorrência, registrada às 0h32, cortou cerca de 10 mil MW de carga nos quatro subsistemas: Sul, Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste e Norte. Entenda
Renovação de concessões. Também nesta terça, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), disse que a Enel São Paulo só renovará o contrato de concessão se forem cumpridas todas as exigências técnicas e regulatórias. O processo precisa do aval da Aneel.
Brasil amplia exploração de óleo. O governo publicou, nesta terça-feira (14/10), as resoluções do CNPE sobre a adição de blocos localizados além das 200 milhas náuticas no regime de partilha e a inclusão de mais três blocos na oferta permanente de partilha.
Capacitação em energia. A Universidade do Setor de Petróleo e Gás (UnIBP) está com inscrições abertas para cursos gratuitos na área de energia e inteligência artificial. Os cursos são ofertados na modalidade Ensino a Distância (EAD). Veja as opções no site.