Enquanto a sustentabilidade deixa de ser um diferencial de marketing, programas estruturados de certificação e asseguração ESG estão mostrando que é possível transformar compromissos em resultados concretos, medidos e auditáveis.
A pressão aumentou e, com ela, a necessidade de ferramentas que tragam transparência e credibilidade aos compromissos assumidos na Agenda 2030, no Acordo de Paris e em outras iniciativas globais.
Não basta se declarar “sustentável” ou “responsável”: investidores, reguladores e a sociedade querem ver resultados de verdade, como quem confere a nota fiscal das compras no mercado ou o extrato da conta no banco.
A pressão regulatória e de mercado impulsionou um aumento significativo na demanda por certificações verdes no Brasil e na região.
Empresas de setores-chave como energia, agroindústria, construção civil, indústria de transformação e financeiro buscam na certificação não apenas legitimidade, mas também acesso a capital, resiliência e competitividade em mercados internacionais cada vez mais exigentes.
Os setores de energia e combustíveis fósseis, por exemplo, carregam a responsabilidade de reduzir drasticamente suas emissões sem comprometer a segurança energética.
A indústria farmacêutica e de saúde é cada vez mais cobrada por demonstrar cadeias de suprimentos sustentáveis.
Já a economia circular emerge como pilar indispensável para transformar modelos de consumo, exigindo métricas robustas que comprovem avanços reais.
As certificações ESG funcionam como uma espécie de “selo de confiança” que mostra se uma empresa realmente cumpre o que promete em termos ambientais, sociais e de governança. Elas funcionam por meio de auditorias independentes, realizadas por especialistas que verificam dados, processos e resultados.
Por exemplo, o GHG Protocol ajuda a medir de forma precisa as emissões de gases de efeito estufa, a ISO 14001 organiza a gestão ambiental de forma sistemática, e a ISO 45001, que garante que as práticas de saúde e segurança no trabalho estejam alinhadas a padrões reconhecidos internacionalmente.
Há ainda certificações estratégicas ligadas a setores específicos, como o Bonsucro, que comprova a produção sustentável de açúcar e etanol, e o EDGE, que atesta eficiência energética e construções verdes.
Essas certificações não só fortalecem a credibilidade da empresa, como também abrem portas para mercados internacionais que exigem padrões rigorosos de sustentabilidade.
O problema ao meu ver é que muitas empresas ainda cometem erros ao comunicar seus compromissos ESG sem contar com certificações verificáveis. Entre os mais comuns estão o greenwashing, em que companhias se apresentam como ambientalmente responsáveis sem cumprir, de fato, critérios consistentes de sustentabilidade.
Felizmente, já existem iniciativas voltadas a enfrentar o greenwashing, que são capazes de garantir clareza nas informações e evidenciar resultados concretos.
Por meio da verificação de dados, da certificação de práticas e da auditoria de relatórios, asseguram que os compromissos ESG se transformem em efeitos mensuráveis, e reforçam a credibilidade junto a investidores, consumidores e órgãos reguladores.
Também há casos de companhias que ignoram padrões internacionais reconhecidos, comunicam iniciativas isoladas sem conexão com a estratégia corporativa e destacam apenas resultados positivos, omitindo desafios e falhas de operação e gestão. Todos esses deslizes acabam minando a credibilidade e aumentando o ceticismo de investidores, clientes e reguladores.
Diante deste cenário, precisamos, cada vez mais, reforçar o impacto positivo das certificações: além dos processos auditáveis ajudarem a combater o greenwashing ao exigir evidências e informações transparentes, reduzindo o espaço para discursos vazios; eles geram confiança em stakeholders estratégicos desde clientes internacionais até bancos e fundos de investimento que integram critérios ESG em suas análises de risco.
Grandes empresas como Natura e Raízen, por exemplo, já demonstram na prática como a certificação reforça a credibilidade corporativa e abre portas em mercados altamente regulados, como Europa e América do Norte.
Evidentemente que os desafios existem. Para o setor de energia, integrar novas métricas a operações consolidadas implica investimento e adaptação regulatória.
Na agroindústria, a rastreabilidade da cadeia e as condições de trabalho são fatores críticos. Na construção, o desafio está em superar resistências culturais e assumir custos iniciais mais altos.
No entanto, os benefícios superam essas barreiras, especialmente em um cenário de transição energética, bioeconomia e maior escrutínio global.
Nos próximos cinco anos, especialistas preveem um endurecimento regulatório, maior padronização de métricas globais e crescente pressão por relatórios auditados, com foco não apenas em carbono, mas também em biodiversidade, economia circular e soluções baseadas na natureza.
A América Latina tem uma oportunidade única: consolidar-se como fornecedora estratégica de matérias-primas certificadas, bioenergia renovável e produção agroalimentar sustentável para o mundo.
Podemos dizer que a certificação ESG vai muito além de um diferencial de reputação: ela é a prova de que uma empresa está realmente cumprindo o que promete.
É o caminho para transformar compromissos em ações concretas, resultados que podem ser medidos e verificados, e que inspiram confiança em clientes, investidores e toda a sociedade.
No final das contas, operar de forma transparente e responsável não é apenas uma exigência do mercado global, mas a base para construir negócios competitivos e verdadeiramente sustentáveis.
Gustavo Venda é gerente de Negócios de Sustentabilidade na SGS