Acabei de voltar de um dos principais encontros globais dedicados ao debate sobre mudanças climáticas e transição energética. Realizada em paralelo à Assembleia Geral da ONU, a Climate Week NYC discutiu soluções concretas para acelerar compromissos em direção a uma economia de baixo carbono.
Este foi um espaço estratégico onde foram apresentados planos e destacadas oportunidades de parcerias que podem transformar setores inteiros.
Foi uma “prévia” da COP30, evidenciando que o debate global sobre descarbonização evoluiu do campo das intenções para o da execução, em que empresas de diferentes setores apresentam planos robustos, com estratégias concretas, escaláveis e replicáveis para reduzir suas emissões.
Neste cenário em transformação, o Brasil desponta como um protagonista natural, não apenas por sua matriz energética majoritariamente limpa, mas pela capacidade técnica e industrial de oferecer soluções escaláveis para uma economia verde.
Há uma busca mais intensa por dados, rastreabilidade e soluções práticas, especialmente em setores historicamente difíceis de descarbonizar.
As discussões deixaram de lado generalidades e passaram a se concentrar em rotas tecnológicas viáveis e em parcerias capazes de gerar impacto em larga escala.
Um exemplo do real potencial de impacto é o setor marítimo, hoje uma das frentes mais promissoras da transição energética.
Desde 2012, o transporte por navios vem registrando aumento nas emissões globais, mas a Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês) estabeleceu metas ambiciosas para reverter esse cenário: reduzir as emissões em 20% a 30% até 2030, em 70% a 80% até 2040 e alcançar a neutralidade total até 2050.
Só a demanda marítima tem potencial para atrair cerca de US$ 90 bilhões em investimentos no Brasil até 2050, segundo o Boston Consulting Group (BCG).
O recado é claro: o futuro da transição energética passa pelo mar e o biodiesel brasileiro pode ser um dos grandes protagonistas dessa rota.
Não se trata de uma aposta distante. O Brasil já demonstrou sua capacidade de inovar e escalar soluções sustentáveis.
De todos os cases que vêm sendo levantados para a COP30, a maioria é brasileira, revelando a força de um ecossistema que alia biodiversidade, tecnologia e produção em larga escala.
A indústria de biodiesel, em especial, tem se destacado. De resíduos às culturas regionais, o setor brasileiro demonstra que é capaz de gerar energia renovável, fortalecer cadeias produtivas e criar empregos em diferentes territórios, respeitando e valorizando nossos biomas.
O país tem consolidado sua imagem como um dos polos mais relevantes para a revolução energética global, o que tem ecoado internacionalmente e faz o Brasil aparecer nos debates não apenas como fornecedor de recursos, mas como parceiro estratégico na construção de rotas Net Zero viáveis e replicáveis.
Essa visão de neutralização de carbono precisa ser multimodal.
O biodiesel já vem avançando no transporte rodoviário e tem potencial para avançar em frentes como o setor marítimo e a geração elétrica por termelétricas, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis em pontos estratégicos da matriz.
O que chegou a ser visto como um desafio logístico hoje é encarado com mais clareza: a transição é viável, desde que se compreenda que biocombustíveis e combustíveis fósseis não são comparáveis. São produtos distintos, com cadeias de valor e externalidades completamente diferentes.
De um lado, um biocombustível que fortalece os pilares ESG e impulsiona a economia nacional; de outro, um combustível fóssil cujo legado é apenas emissões e dependência externa.
A mensagem que trago de Nova York é inequívoca: grandes empresários estão definitivamente convencidos que os biocombustíveis brasileiros são determinantes como solução global para a transição energética.
O Brasil tem competência técnica, biodiversidade, mercado e espaço para todos os tipos de biocombustíveis. Cabe a nós, agora, transformar esse reconhecimento internacional em liderança efetiva.
Não se trata mais de “se posicionar” no debate, mas de assumir compromissos concretos, compartilhar soluções e construir alianças estratégicas, evitando soluções que não se adaptam à nossa realidade.
É uma transição de discurso para ação e o Brasil tem muito a contribuir nesse novo capítulo.
Estamos em um momento decisivo. A descarbonização é uma agenda técnica, urgente e, sobretudo, econômica.
O Brasil já tem uma solução pronta. Seja no transporte rodoviário, no setor marítimo ou na geração elétrica, o biodiesel tem condições de situar o país no centro da transição energética global.
Para que isso aconteça de forma sustentável, é necessário unir visão de negócio, capacidade técnica e responsabilidade ambiental. Temos a oportunidade de construir, com protagonismo, um futuro energético mais colaborativo e renovável.
André Lavor é CEO e cofundador da Binatural. Ele é Administrador de Empresas com especialização na Columbia University, Stanford University, FGV e Fundação Dom Cabral. Possui um histórico comprovado de 25 anos liderando empresas de agronegócio e energia no país, sendo considerado um dos mais jovens empresários e empreendedores nesta área de atuação.
Liderou projetos ousados, apoiando a indústria brasileira de biodiesel em seus estágios iniciais, desenvolvendo ações de preservação do meio ambiente e fortalecimento da Agricultura Familiar em nosso país, apoiando a transformação da matriz energética brasileira.