RIO — A norte-americana Plug Power e a brasileira GH2 Global firmaram recentemente uma parceria visando acelerar a adoção de hidrogênio em motores com células a combustível, substituindo diesel, baterias de chumbo-ácido, GNL e gás natural em frotas logísticas, empilhadeiras, e em aplicações industriais.
A estratégia das duas companhias é desenvolver hubs de produção e abastecimento e replicar no país modelos que já funcionam nos Estados Unidos e na Europa.
“Acredito que em alguns anos o hidrogênio vai competir muito com o diesel e iremos poder converter a frota de diesel para frotas de hidrogênio”, afirma Markus Lehmman, sócio da GH2, em entrevista à agência eixos.
A GH2 nasceu em 2024 como uma afiliada da Gali Energia, que atua em projetos industriais e de infraestrutura no Brasil.
Segundo Lehmman, a parceria com a Plug Power é estratégica para introduzir soluções de “ecossistema de hidrogênio” no país.
Modelo de negócios integrado
A Plug Power opera nos Estados Unidos três plantas de hidrogênio verde, produzido a partir da eletrólise, e fornece soluções de célula a combustível para gigantes como Amazon e Walmart, bem como atua na distribuição, via caminhões, do hidrogênio liquefeito.
O vice-presidente de vendas da companhia, Christopher Barnett, explica, em entrevista à agência eixos, que o diferencial é oferecer uma solução completa.
“No início, o Plug era apenas um fornecedor de combustíveis, e dependíamos de outras empresas de combustíveis industriais para o fornecimento. Depois de ouvir nossos clientes, eles queriam garantir que toda a solução fosse concentrada por uma única companhia. Então, implementamos uma solução completamente integrada”.
Barnett espera que o mesmo modelo possa ser replicado no Brasil em parceria com a GH2.
“Temos grandes clientes nos EUA, nossos dois principais são a Amazon e a Walmart. O Walmart tem hoje mais de 19 mil motores a células a combustível funcionando em suas instalações (…) Esperamos trazer esse mesmo modelo de negócios para o Brasil”.
Concorrência com baterias
Questionados sobre a competição do hidrogênio com alternativas como eletrificação direta, os executivos destacam as vantagens da célula a combustível.
Barnett defende que a tecnologia oferece ganhos de eficiência e economia operacional, uma vez que, ao contrário da bateria, não é necessário “carregar muitas vezes por várias horas por dia”.
“Ao fazer a transição de baterias de chumbo ácido para células de combustível, estima-se mais de um milhão de dólares de economia, considerando um centro de distribuição típico que gira 200 motores, o que é muito significativo”, diz Barnett.
O executivo enxerga modelos em que o hidrogêno na forma de gás seja produzido e cosnumido localmente, em hubs regionais, e grandes plantas de liquefação de hidrogênio sejam voltadas para a exportação.
Segundo ele, todas as grandes montadoras da automóveis no EUA hoje adotam a tecnologia.
“Isso os permite fazer com mais eficiência, e diminui o custo total de gestão dos equipamentos”.
Lehmman reforça o caráter complementar das tecnologias de baixo carbono.
“O hidrogênio não está aqui para tentar derrubar soluções. É um aspecto complementar na completa série de soluções necessárias na transição de energia”.
“Para o uso contínuo, é perfeito. O grande benefício da eficiência é o uso contínuo da unidade. Isso é algo que se a unidade estiver trabalhando 16 horas ou mais por dia, ela terá dificuldade em recarregar durante esse tempo operacional de recarga. E é aí que o hidrogênio entra”, explica Lehmman.
Hidrogênio azul e verde
Sobre o debate internacional em torno do hidrogênio azul, produzido a partir de gás natural com captura de carbono, Barnett afirma que “no final, o hidrogênio é hidrogênio”, ainda que o foco da companhia seja no desenvolvimento de eletrolisadores.
Para Lehmman, a eletrólise tende a ser mais competitiva no Brasil, principalmente, devido ao grid majoritariamente renovável.
“Gás no Brasil não é barato”, destaca.
“Produzir hidrogênio verde é ainda mais competitivo do que o método de reforma, dependendo dos modelos e das aplicações (…) Se conseguirmos preços de eletricidade mais baixos, ficaremos ainda mais competitivos”, avalia Lehmman.