diálogos da transição

Lítio no Sul, lucro no Norte

Transição injusta: Sul Global tem 70% dos minerais essenciais à transição, mas só 3% dos investimentos em energia limpa

Montadoras Volkswagen e BYD disputam lítio no Brasil; entenda o que está em jogo com aquisição da Sigma Lithium. Na imagem: Contêineres içados despejam grande volume de lítio em embarcação para exportação (Foto: Divulgação Sigma Lithium)
Exportação de lítio extraído no Vale do Jequitinhonha (MG) para a China (Foto: Divulgação Sigma Lithium)

NESTA EDIÇÃO. Em discurso na ONU, Lula reforça cobrança por financiamento para transição energética em países emergentes e em desenvolvimento.

Estudo da Oxfam mostra concentração de lucros e investimentos renováveis no Norte Global e China, chamando atenção para uma “transição injusta”.


O presidente Lula (PT) foi à Assembléia Geral das Nações Unidas em Nova York esta semana com a clara missão de reforçar a cobrança por recursos para que países de renda média e baixa — muitos deles ricos em minérios críticos — possam ser integrados à transição energética.
 
Em discursos na terça (23/9) e nesta quarta (24), Lula disse que a cúpula climática marcada para novembro deste ano, em Belém (PA), será a “COP da verdade”, um momento de demonstração se os governos estão de fato incorporando a crise climática em suas ambições. [Veja mais abaixo nas Curtas
 
“As Contribuições Nacionalmente Determinadas são o mapa do caminho, uma oportunidade para repensar modelos e reorientar políticas e investimentos”, discursou durante evento da ONU sobre Clima para chefes de Estado hoje.
 
“Para que isso ocorra em escala global, nações ricas precisam antecipar suas metas de neutralidade climática e ampliar o acesso a recursos e tecnologias a países em desenvolvimento. O princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas, continua atual”, completou.
 
Segundo o presidente brasileiro, a transição energética abre as portas para uma transformação produtiva e tecnológica “equiparável à Revolução Industrial”.
 
O dinheiro para isso, no entanto, precisa ser mais bem distribuído.
 
A menos de 50 dias da COP30, um estudo da Oxfam (.pdf) revela que, embora os países do Sul Global detenham 70% das reservas de minerais essenciais para a transição energética, os investimentos em energia renovável estão concentrados no Norte Global (46%) e na China (29%).
 
E ainda: a maior parte dos lucros fica com a parcela de 1% mais ricos do planeta, que também consome energia suficiente para atender sete vezes as necessidades básicas de todas as pessoas que ainda não têm acesso à eletricidade.



Chamado “Transição Injusta”, o relatório da ONG Oxfam publicado também nesta quarta mostra que, em 2024, a América Latina possuía 3% dos investimentos globais em energia limpa, embora a região seja uma importante fornecedora de insumos para tecnologias de geração renovável e armazenamento.
 
A América Latina tem quase metade das reservas mundiais de lítio, mas retém só cerca de 10% do valor desse mercado.
 
A Oxfam aponta que as projeções de extração são tão intensas que, em apenas 11 anos, o Triângulo do Lítio (Chile, Argentina e Bolívia) deve produzir mais mineral para baterias do que o império espanhol extraiu em prata em 300 anos de domínio colonial.
 
A estimativa é de 1,6 milhão de toneladas de lítio extraídos na região entre 2015 e 2030 – o suficiente para cobrir toda a cidade de Madrid com uma camada de 5 mm de “ouro branco”.
 
Só que 90% do lucro com a cadeia de valor ficará com companhias da China, Europa e Estados Unidos.
 
Sudeste Asiático, Oriente Médio e África também são símbolos do dilema da transição.
 
Eles receberam somente 2% dos investimentos no último ano, cada, apesar de a África Subsaariana concentrar 85% da população mundial sem acesso à eletricidade.


NDCs em cima do prazo. O fim do prazo para as novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês) é 30 de setembro, mas apenas 50 países, dentre mais de 190, entregaram suas ambições. De acordo com a WRI, os compromissos entregues até o início do mês alcançavam apenas 24% das emissões globais.
 
China promete seis vezes mais eólica e solar. Maior emissora global, a China anunciou sua nova NDC na tarde desta quarta (24/9), com previsão de reduzir de 7% a 10% suas emissões até 2035 em relação ao pico. (DW)

  • O plano de mitigação inclui elevar a participação de fontes não fósseis no consumo total de energia para mais de 30% e expandir a capacidade de energia eólica e solar para mais de seis vezes o nível de 2020, chegando a 3,6 TW.

Foz do Amazonas. O Ibama aprovou a Avaliação Pré-Operacional (APO) realizada pela Petrobras para a emissão da licença de perfuração do poço exploratório bloco FZA-M-59. No entanto, o parecer técnico do órgão solicita ainda alguns ajustes antes da conclusão do processo. 

Data centers no Ceará. O governador Elmano de Freitas (PT) prometeu um sistema de tratamento de água para abastecer as empresas de armazenamento e processamento de dados que se instalarem no estado. O complexo do Porto do Pecém, região metropolitana de Fortaleza, vai receber o novo polo industrial.
 
Volkswagen testa B100. Junto com a EcoRodovias, a Volkswagen Caminhões e Ônibus iniciou a avaliação do uso de biodiesel puro (B100) no abastecimento da frota. Os testes vão durar 12 meses e serão aplicados em um caminhão pipa e três guinchos
 
Aliança pelos biocombustíveis. O MME abriu uma chamada para representantes da sociedade civil ligados ao setor de biocombustíveis apresentarem candidaturas para o Conselho Consultivo da Indústria da Aliança Global pelos Biocombustíveis (GBA, em inglês). As candidaturas devem ser enviadas em inglês para o Secretariado da GBA.
 
Futuras cientistas. Com inscrições abertas até 6 de outubro, o programa Futuras Cientistas do MCTI tem 470 vagas para estudantes e professoras de todo o país. São 160 para alunas do 2° ano do ensino médio de escolas regulares, 160 para estudantes do mesmo período de escolas integrais e 150 para professoras de escolas públicas estaduais. 

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