Combustível do Futuro

Yara vê risco de aumento de custos com início de mistura obrigatória de biometano

Para CEO da Yara, em um primeiro momento, mandato pode pressionar os preços do gás renovável em um mercado ainda com pouca oferta

Presidente da Yara no Brasil, Marcelo Altieri (Foto: Divulgação)
Presidente da Yara no Brasil, Marcelo Altieri (Foto: Divulgação)

RIO — O presidente da Yara no Brasil, Marcelo Altieri, avalia que a regulamentação da lei do Combustível do Futuro, que obriga produtores e importadores de gás natural a adquirirem biometano para reduzir as emissões das suas atividades, pode pressionar, em um primeiro momento, os preços do gás renovável em um mercado ainda com pouca oferta.

“O Combustível do Futuro é uma alavanca. Mas, no curto prazo, tem o efeito contrário. Tem pouco biometano e mais pessoas demandando, então o custo está para cima”, disse o executivo a jornalistas, durante evento promovido pela Noruega, na semana passada.

A Yara opera hoje em Cubatão (SP) a única unidade de produção de amônia renovável da América Latina, feita a partir de biometano. Mas a baixa oferta do combustível limita a escala da operação.

Atualmente, apenas 3% do gás consumido na fábrica é biometano, o resto é gás natural.

“Gostaríamos de aumentar, mas a disponibilidade [de biometano] é o primeiro desafio”, afirmou Altieri. 

O executivo também vê grandes desafios na infraestrutura de distribuição, em especial, olhando o enorme potencial do estado de São Paulo na produção de biometano a partir de resíduos do setor sucroenergético

“Tem que acontecer um investimento para conectar onde você gera o biometano com os gasodutos. É um investimento forte para que esse biometano chegue até a indústria. Hoje não tem, não está acontecendo isso”, pontuou.

O contrato com a Raízen prevê o fornecimento de cerca de 20 mil metros cúbicos por dia do biocombustível produzido em Piracicaba (SP), a partir de resíduos da cana-de-açúcar, como vinhaça e torta de filtro. O biogás é distribuído pela rede da Comgás para a planta da Yara. 

Preço do biometano é uma barreira

Apesar de a empresa querer ampliar a fatia de amônia verde na produção, a expansão depende de competitividade.

O preço do biometano no Brasil, segundo Altieri, pode chegar a ser 20 vezes maior que o gás natural da Rússia – origem da maior parte dos fertilizantes nitrogenados consumidos no Brasil.

“Para destravar esses investimentos é muito importante ter competitividade. Porque é uma transição. Você não pode ir de 8 a 80”.

O presidente da Yara também enxerga espaço para que acordos comerciais ampliem a demanda por produtos agrícolas de baixo carbono no Brasil — e, por consequência, por fertilizantes verdes. 

Ele cita o pacto firmado recentemente entre Mercosul e Efta, que pode abrir novos mercados para cadeias como a do café.

Os quatro países da Efta — Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça — eliminarão 100% das tarifas sobre produtos industriais e pesqueiros. Quase 99% das exportações brasileiras destinadas ao bloco terão livre acesso.

“Os agricultores que exportam para a Europa, para a Efta, eles sim vão ter um benefício. E nós estamos falando de um mercado que consome produtos sustentáveis, produtos de valor agregado”, disse. 

Para ele, produtores que buscam acessar consumidores mais exigentes, como os países nórdicos, terão condições de obter um prêmio verde na remuneração por alimentos certificados, o que tende a estimular também o uso de insumos de baixa pegada de carbono.

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