NESTA EDIÇÃO. MP condiciona isenções fiscais a contrapartidas como uso de energia renovável, gás natural ou nuclear.
Governo reservou R$ 5,2 bilhões no PLOA 2026 para dar início ao programa.
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Assinada pelo presidente Lula (PT) na tarde desta quarta-feira (17/9), a Medida Provisória da Política Nacional de Data Center — o tão aguardado Redata — estabelece entre as contrapartidas para benefícios fiscais o uso de energias renováveis, gás natural ou nuclear.
A publicação da MP está prevista para amanhã (18), quando os detalhes serão divulgados.
De acordo com as informações do governo, o incentivo aos investimentos inclui a desoneração do imposto de importação para produtos sem similar nacional, além de PIS/Pasep, Cofins e IPI, pelo prazo de cinco anos.
Expectativa é atrair até R$ 2 trilhões em investimentos na cadeia de serviços digitais em dez anos.
Em contrapartida, será preciso cumprir critérios ambientais, de uso de energia renovável e limpa (gás natural e nuclear) e eficiência hídrica, entre outras condições a serem definidas em regulamentação nos próximos meses.
Além disso, empresas beneficiadas terão que aplicar 2% de seus investimentos em P&D no Brasil e reservar ao menos 10% da prestação dos serviços para o mercado doméstico.
Vale lembrar que em julho o governo publicou a MP 1307 voltada aos data centers, mas sem eles, obrigando a contratação de energia renovável nova por empresas instaladas em ZPEs.
Agora, o Redata amplia o escopo para incluir projetos termelétricos a gás e nuclear.
Isenções para atrair estrangeiros
A MP antecipa os efeitos da Reforma Tributária sobre a desoneração de investimentos.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o governo reservou R$ 5,2 bilhões no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) 2026 para dar início ao programa.
Já a partir de 2027, começa a valer parcialmente a reforma. A desoneração dos impostos atuais vai demandar a alocação no orçamento.
O Redata foi assinado em um pacote que incluiu a sanção do Projeto de Lei 2628/25, sobre a proteção de crianças e adolescentes em ambientes digitais; o envio ao Congresso Nacional de um PL de iniciativa do Executivo para tratar da concorrência no mercado digital e a criação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados, também via MP.
“As portas do futuro estão abertas para empresas nacionais e estrangeiras dispostas a contribuir para o desenvolvimento do nosso país” discursou Lula, e direcionou uma mensagem ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que usou a regulação brasileira às big techs entre os pretextos para aplicação de tarifas sobre exportações brasileiras.
“Espero que o presidente Trump assista este ato, porque é uma demonstração de que não há veto a nenhuma empresa, seja do país que for, que queira vir trabalhar no Brasil e produzir atendendo a legislação brasileira”, disse Lula.
Próximos passos
Em nota, a Associação Brasileira de Data Centers (ABDC) diz que a iniciativa representa “um passo decisivo para colocar o Brasil em condições de igualdade” com países vizinhos que disputam os investimentos estrangeiros.
“Trata-se de uma medida estratégica para consolidar o país como um dos mais importantes hubs digitais do mundo”, diz a ABDC.
A organização pontua que o desafio agora está em garantir a aprovação imediata no Congresso Nacional.
Em agosto, quando o Redata ainda estava cercado de incertezas quanto à sua publicação, o relator do Projeto de Lei 2338/23 que regulamenta o uso da inteligência artificial (IA) no Brasil, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP/PB), indicou a possibilidade de incorporação da política ao texto em tramitação na Câmara.
A intenção do parlamentar era ter ambos — incentivo aos data centers e regulação da IA — aprovados até o fim do ano.
Nova demanda de energia
A MP do Redata chega um dia após o Brasil incluir no acordo Mercosul-EFTA uma cláusula condicionando a prestação de serviços digitais por parceiros estrangeiros à participação de 67% de energia renovável na matriz elétrica do país de origem.
Avanço da digitalização e do uso de inteligência artificial na economia são fatores que estão alavancando as instalações de data centers no mundo. Grandes consumidores de energia, esses empreendimentos buscam regiões com preços competitivos e fornecimento firme.
Ter a combinação desses fatores e uma matriz com 90% de capacidade renovável são pontos positivos para o Brasil. Mas a concorrência pelo acesso à rede tem demonstrado que há outras barreiras a serem superadas.
Em junho, os pedidos para conexão de data centers à rede básica do Sistema Interligado Nacional (SIN) somavam 52 solicitações.
Segundo estimativas da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), os data centers irão consumir cerca de 3,6% da energia gerada no Brasil em 2030.
Projeções da entidade — anteriores à publicação da MP — indicavam R$ 774 bilhões em investimentos no Brasil até 2028 em tecnologias de transformação digital, incluindo a chegada de novos data centers. As áreas que devem receber maior aporte são nuvem (R$ 331,9 bilhões) e inteligência artificial (R$ 145,9 bilhões).
Cobrimos por aqui
Curtas
Reforma tributária. A indústria automotiva pretende brigar no plenário do Senado para incluir um teto para as alíquotas do Imposto Seletivo (IS) no PLP 108/2024. A manobra pode garantir carga tributária menor que a atual e conta também com articulação dos setores de bebidas alcoólicas, refrigerantes e bebidas açucaradas.
Tarifa social. Por 352 votos a 93, a Câmara dos Deputados aprovou a redação final da MP 1300, da nova tarifa social de energia elétrica, na tarde desta quarta (17/9). A medida segue para votação no plenário do Senado ainda hoje — último dia do prazo de vigência.
Cooperação verde. A União Europeia anunciou uma nova estratégia para aprofundar as relações com a Índia. A estratégia estabelece cinco áreas prioritárias, entre elas prosperidade, sustentabilidade, tecnologia e inovação. Na área energética, são propostas ações em renováveis, hidrogênio verde e financiamento sustentável.
Margem Equatorial. O deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB/DF) quer destinar 20% dos royalties da exploração de petróleo da Margem Equatorial para financiar a transição energética. Em entrevista ao estúdio eixos nesta quarta (17/9), durante o Fórum Nacional Energético, ele explica a proposta do PL 4147/2025, que prevê a divisão de recursos com os Fundos Amazônia, Clima e de Desenvolvimento Industrial.
Leilão de térmicas. Contribuições do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema) à consulta pública do Leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP) previsto para 2026 defende a inclusão de soluções como armazenamento em baterias, térmicas a biomassa, hidrelétricas reversíveis e programas de resposta à demanda.
- Para o instituto, as diretrizes devem abrir espaço para tecnologias alinhadas às metas climáticas e que minimizem a necessidade de operação das termelétricas fósseis. O Iema aponta risco de aumento dos cortes de energia renovável com os critérios divulgados pelo MME.
Biometano na Tramontina. A Tramontina passou a consumir biometano, em substituição parcial ao gás natural, em duas de suas unidades industriais no Rio Grande do Sul. O biocombustível será fornecido pela Ultragaz.