BRASÍLIA — As autorizações para pesquisa em terras raras no Brasil saltaram de 40 em 2015 para 1.361 em 2024, com uma aceleração vertiginosa desde 2020, demostrando um aumento de interesse de mineradoras por estes recursos, aponta o chefe da Divisão de Minerais Críticos e Estratégicos da Agência Nacional de Mineração (ANM), Mariano Laio de Oliveira.
“Desde 2020, vem havendo um aumento abrupto das autorizares, com um pico em 2024 quando foram concedidos mais de 1,3 mil alvarás de pesquisa exclusivamente para terras raras”, conta.
“A gente vê uma concentração nos estados de Bahia, Goiás, Minas Gerais. A maioria das empresas é formada por capital estrangeiro, mas elas têm que abrir uma filial no Brasil e respeitar a legislação nacional”, explica.
Oliveira participou nesta quarta (10/9) de uma audiência pública da Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT) do Senado sobre o tema.
O encontro foi proposto pelo presidente da CCT, senador Flávio Arns (PSB/PR), que alertou para o interesse de potências estrangeiras nas reservas existentes no país.
“O Brasil figura entre os principais países com mais potencial geológico para a exploração de terras raras, chamando a atenção de grandes potências, notadamente os Estados Unidos”.
Para o senador, o Brasil ainda carece, no entanto, de uma indústria integrada que permita transformar seu potencial em liderança tecnológica e econômica.
As terras raras são um conjunto de 17 minerais usados como matéria-prima para setores considerados críticos, como mobilidade, defesa, eletrônica avançada e transição energética.
O diretor do Serviço Geológico do Brasil (SGB), Francisco Valdir Silveira, explica que o Brasil tem a segunda maior reserva mundial de terras raras — 23% do total. Apesar disso, ele observa que o país carece de pesquisas detalhadas sobre o potencial geológico do território.
“Existe um longo caminho a se trilhar, e esse caminho passa por pesquisas longas, demoradas, com muitas incertezas e caras. Até 1995, o Brasil tinha a cadeia de terras raras mais desenvolvida do planeta. Mas ela foi descontinuada. Esse é um problema do nosso país. Com um potencial desses, temos em torno de 30% do país conhecido. Falta 70% para a gente conhecer”, pontua.
Uma questão crucial é o investimento. O engenheiro Ysrael Marrero Vera, pesquisador do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), compara que enquanto o Cetem conta com um orçamento de US$ 3,3 milhões para aplicar em metalurgia extrativa e processamento mineral, órgãos equivalentes dos Estados Unidos e do Japão contam com US$ 250 milhões, cada.
“O Canadá, que é o segundo menor, tem US$ 30 milhões — quase dez vezes o que se investe por ano no Cetem”.
*Com informações da Agência Senado