Quase 40% das empresas de capital aberto estão associadas à perda de biodiversidade, aponta Moody’s

Exportação de soja por Roosewelt Pinheiro, Agência Brasil

Após avaliar 5.300 empresas globais de capital aberto, a Moody’s ESG Solutions conclui que mais duas mil delas, ou 38%, possuem pelo menos uma instalação associada à perda de habitat, de acordo relatório (.pdf) divulgado nesta quarta (26).

Para chegar ao resultado, foram considerados três critérios: proximidade da instalação a áreas de alto valor de biodiversidade; perda significativa de floresta nativa na área circundante à instalação nos últimos anos; e instalação associada a uma indústria com alto impacto ambiental e uso de recursos naturais.

A maioria dessas empresas (85%) tem cerca de 10% de suas instalações, próprias ou operadas, enquadradas em todos os três critérios.

O estudo também aponta para um descompasso entre os compromissos firmados pela maioria das empresas e as medidas tangíveis para reduzir seus impactos sobre a biodiversidade.

Um dos exemplos seria o setor da construção civil, em que 61% das companhias avaliadas apresentam compromissos com práticas sustentáveis, mas menos de 10% do setor conta com uma pontuação “robusta” ou “avançada” para implementação dos mesmos compromissos.

“Nossa análise visa fornecer transparência ao mercado sobre como as operações das empresas podem afetar a biodiversidade, sua dependência de sistemas naturais e em que medida as empresas estão tomando medidas para mitigar esses impactos em suas cadeias de valor”, explica Emilie Mazzacurati, chefe global de Soluções Climáticas da Moody’s.

Segundo ela, o relatório tenta traçar um paralelo entre o impacto causado pelas empresas na biodiversidade e os riscos nos negócios das companhias.

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Caso Bunge no Brasil

O relatório cita como exemplo as operações Bunge no Brasil que estariam relacionadas à perda local de biodiversidade e, consequentemente, a um maior risco atrelado aos negócios da gigante do agronegócio.

Globalmente, cerca de 20% das 935 instalações da Bunge avaliadas estão associadas à perda de habitat, representando a mais alta porcentagem de todas as empresas avaliadas.

Contudo, a Moody’s não apresenta dados que comprovem a relação direta das ações da empresa com possíveis danos ambientais.

Dessas instalações, 60% estariam em território brasileiro, envolvendo a produção de cana-de-açúcar, soja, frutas, tabaco, óleos vegetais, entre outros, além de atividades de transporte e armazenamento, segundo o relatório.

“Os setores de commodity e agricultura juntos são responsáveis por 83% da perda de florestas tropicais e subtropicais no Brasil, onde as operações da Bunge estão localizadas. Isso sugere uma relação entre as instalações da Bunge e as mudanças observadas no uso da terra”, afirma o levantamento.

A Moody’s observa que o possível impacto ambiental causado pela Bunge coloca a própria companhia “vulnerável a seus efeitos”. Mas também indica que a empresa, por controlar “sua própria cadeia de abastecimento e fornecimento”, possui “uma posição única para melhorar a transparência e garantir que os produtos sejam adquiridos, produzidos e transportados de forma sustentável”.

Em nota enviada à epbr, a Bunge disse desconhecer as fontes utilizadas pelo relatório e que, diferente do que é apontado, não possui operações de frutas frescas e vegetais, tabaco ou realiza compra de gado no Brasil.

A companhia também destaca que todos os progressos na sua política Global de Não-Desflorestamento são reportados em relatórios periódicos — o mais recente publicado hoje (26).

“O documento detalha  todos os esforços de rastreabilidade e monitoramento da cadeia de suprimentos da companhia, bem como iniciativas de engajamento de fornecedores e agricultores, inclusive ferramentas digitais e incentivos”, diz a nota, cuja íntegra está publicada no final da matéria.

Bunge e Biodiversidade

No documento anual de sustentabilidade da empresa publicado hoje, que incluiu o Relatório Global de Não-Desmatamento (.pdf), a companhia apresenta o progresso no combate ao abastecimento de soja proveniente de regiões de maior risco de desmatamento, como o Cerrado e a Amazônia brasileira.

O compromisso da empresa é ter cadeias de suprimentos livres de desmatamento até 2025. Na caso da Amazônia, por exemplo, a Bunge afirma que 100% da soja é proveniente de áreas livres de desmatamento desde 2008.

“Temos o compromisso global de não desmatamento mais ambicioso do setor — pelo menos cinco anos à frente de nossos principais concorrentes. Inclui todas as colheitas que obtemos, em todos os lugares onde estamos”, afirmou, em comunicado, Rob Coviello, diretor de sustentabilidade da Bunge.

No relatório de sustentabilidade, a empresa também diz que desde 2017 monitora mais de 8.300 fazendas (11,6 milhões de hectares) no Cerrado em regiões sujeitas a maior risco de desmatamento da vegetação nativa.

“Nosso monitoramento cobre 96% do volume de soja que compramos diretamente, e até inclui fazendas monitoradas das quais não compramos mais. Nosso alvo intermediário é atingir 98% dos volumes monitorados no Cerrado até o final de dezembro de 2021”, diz o documento.

Nota da Bunge:

A Bunge desconhece as fontes utilizadas pelo referido relatório e esclarece que, diferentemente do que é apontado, inclusive em arte gráfica, a companhia não possui operações de frutas frescas e vegetais, tabaco, indústria química ou realiza compra de gado no Brasil.
 
Reiteramos que, por meio de nossa política Global de Não-Desflorestamento, a Bunge está comprometida em alcançar cadeias de fornecimento livres de desmatamento até 2025. Esse é o compromisso mais ambicioso nesta escala em nosso setor e nós vamos continuar a usar nossa posição de mercado para liderar o progresso da indústria nessa direção. Esse compromisso se estende a todas as regiões onde nós operamos, incluindo fornecimento direto e indireto e engloba a conversão de vegetação nativa em geografias apropriadas. 
 
Todos os nossos progressos em direção a esse compromisso são reportados em relatórios periódicos – o mais recente publicado hoje, em 26 de maio de 2021, pode ser consultado aqui.  O documento detalha  todos os esforços de rastreabilidade e monitoramento da cadeia de suprimentos da companhia, bem como iniciativas de engajamento de fornecedores e agricultores, inclusive ferramentas digitais e incentivos. 
 
A Bunge é signatária da Moratória da Soja, compromisso internacionalmente reconhecido que proíbe a compra de soja cultivada em áreas desmatadas após 2008 na Amazônia e tem o monitoramento com apoio de imagens de satélite mais extensivo no Cerrado — 8.300 fazendas, alcançando mais de 11,6 milhões de hectares (28,6 milhões de acres), que correspondem por 96% da soja comprada diretamente naquela região.  
 
Em apoio aos nossos compromissos de sustentabilidade, lançamos, em março deste ano, um programa sem precedentes para monitorar compras indiretas de soja no Cerrado. O Programa Parceria Sustentável Bunge ajuda revendas de grãos a implementarem sistemas de verificação de cadeias de fornecimento, incluindo satélite e imagens na escala das fazendas. As revendas podem adotar serviços de imagem ou usar a estrutura de monitoramento geoespacial da Bunge sem nenhum custo. Com o engajamento das revendas, a Bunge, que já rastreia e monitora 30% de suas compras indiretas no Cerrado, espera alcançar 100% até 2025.
 
A Bunge reconhece o importante papel que pode desempenhar, mas acredita que qualquer solução duradoura e escalável vai demandar participação e engajamento com nossos parceiros ao longo da cadeia de fornecimento, de produtores a clientes, com compensação aos produtores que no fim das contas terão que abdicar de seu direito de produzir na terra que possuem e preservam. Esse é o motivo pelo qual nós trabalhamos por meio de associações, e iniciativas como o Soft Commodities Forum, e em parcerias indiretas com nossos pares na cadeia de fornecimento para garantir sucesso em toda a indústria. A Bunge continuará trabalhando para promover as melhores práticas de mercado e para desenvolver modelos práticos e sustentáveis. Isso é parte de nossa estratégia, e nós vamos continuar comprometidos com essa jornada.

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