diálogos da transição

Brasil inicia corrida do SAF com tanque baixo

Projeções do governo mostram que oferta de SAF no Brasil ficará aquém da demanda criada por mandatos doméstico e internacional

Centro de Tecnologia e Inovação Agroindustrial da Acelen Agripark, em Montes Claros (MG), para produção SAF e diesel verde (HVO) a partir de macaúba (Foto: Ricardo Botelho-MME)
Centro de Tecnologia e Inovação Agroindustrial da Acelen Agripark, em Montes Claros (MG), para produção SAF e diesel verde (HVO) a partir de macaúba (Foto: Ricardo Botelho-MME)

NESTA EDIÇÃO. PDE 2035 mostra insuficiência na produção de combustíveis sustentáveis para atender mandatos de descarbonização do transporte aéreo.

Sem SAF suficiente, Brasil precisará ajustar rota.


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Os projetos de biorrefino em escala comercial anunciados no Brasil somam uma oferta de 1,7 bilhão de litros em 2030 e cerca de 2,8 bilhões em 2035, mas serão insuficientes para atender a demanda projetada por mandatos do Combustível do Futuro e Corsia.
 
As projeções estão no Caderno de Oferta de Biocombustíveis do Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2035 publicado nesta segunda (8/9), pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
 
A partir de 2027, companhias aéreas nacionais precisarão descarbonizar 1% de suas operações com o uso de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, em inglês), para cumprir a lei do Combustível do Futuro.
 
Ao mesmo tempo, no cenário internacional, começa a fase obrigatória do Corsia, um acordo global do transporte aéreo para neutralidade climática onde o SAF também desempenha um papel importante.
 
Juntos, esses mandatos vão significar o consumo de 1 bilhão a 3 bilhões de litros de SAF por ano nos voos que decolam no Brasil em 2027 — também acima do previsto para entrar em operação até lá (661 milhões de litros) e se tudo der certo.
 
As plantas mapeadas pela EPE são as refinarias da Petrobras (Regap, Reduc e Revap) que já em 2025 devem fornecer 18 milhões de litros de combustível coprocessado com óleos vegetais. Esse volume considera apenas a parcela renovável.
 
Outros 43 milhões de litros de SAF coprocessado pela petroleira devem entrar no mercado em 2027 a partir da Replan.
 
As projeções do PDE também contam com o projeto de US$ 3 bilhões da Acelen, na Bahia, incrementando em 600 milhões de litros a oferta de combustível renovável naquele ano.
 
A companhia, no entanto, atualizou suas projeções e indica que deve iniciar a operação apenas em 2028 — já com 80% do seu volume vendido.



De acordo com a EPE, a capacidade estimada dos projetos anunciados no Brasil representa, em média, 20% da demanda esperada entre 2027 e 2035. 

A partir de 2032, com a entrada em operação de projetos com volumes maiores de SAF, a participação ultrapassa 20% e chega até 28% em 2035, quando todas as biorrefinarias anunciadas estiverem produzindo.

A lista também é dominada pela Petrobras.

Riograndense (2028) e RPBC (2029) produzindo, cada uma, 520 milhões de litros/ano usando óleos vegetais, pela rota HEFA; Boaventura (2032) com 660 milhões de litros/ano também pela HEFA e Replan (2033) com 420 milhões de litros/ano pela rota ATJ, que utiliza etanol como matéria-prima.

Entre 2027 e 2035, os projetos anunciados atendem, em média, cerca de 66% das metas de redução de emissões de gases de efeito estufa definidas pelo Corsia e pelo Combustível do Futuro.
 
Dá para cumprir só o Combustível do Futuro em 2035, mas atender a demanda de companhias aéreas internacionais que decolam no Brasil também é um fator de competitividade para as viagens.
 
Isso porque, de uma forma ou de outra, as empresas precisarão cumprir as metas do Corsia. Ter um combustível sustentável, em escala e a preços competitivos é estratégico para atrair mais voos.
 
No PDE, a empresa de pesquisa energética identifica um potencial de elevar para aproximadamente 3,5 bilhões de litros a oferta brasileira de SAF em 2035 — 35% da demanda doméstica de combustível de aviação —, ao diversificar as rotas de produção e matérias-primas.
 
Embora reconheça que essa diversificação ainda requer investimentos para alcançar escala, indica uma oportunidade para o desenvolvimento regional e recuperação de pastagens degradadas.


Decreto do biometano publicado. O governo federal concluiu a regulamentação da política de biometano criada pelo Combustível do Futuro. O objetivo é elevar a participação do gás renovável no mercado, começando com uma meta anual de 1% em 2026, mas podendo chegar a 10% no futuro. 

  • A meta será verificada por meio dos CGOBs, os certificados de origem do biometano, que terão um registro específico para isso, sem consumir o atributo ambiental, que poderá ser comercializado.

Eletrificação lenta. O Brasil precisa modernizar sua infraestrutura e regulação para acelerar a eletrificação da frota, aponta estudo da Thymos. A consultoria avalia que a expansão de veículos elétricos no Brasil está lenta em comparação com China e União Europeia.
 
Novos diretores da ANP. Artur Watt e Pietro Mendes, tomaram posse na sexta-feira (5/9), no Rio de Janeiro, e, em comum, destacaram prioridades para o setor: combate a fraudes, reforço do orçamento da agência e avanço da transição energética. Os novos diretores defenderam uma regulação que incentive tecnologias limpas e novos combustíveis.
 
Reforço no Ibama. O Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) autorizou a nomeação de 460 aprovados de nível superior no concurso público de 2025 do Ibama. Desse total, são 130 vagas para o cargo de analista administrativo. As demais, 330 vagas são do cargo de analista ambiental. (Agência Brasil)
 
Saúde indígena. O primeiro Centro de Referência em Saúde Indígena (CRSI Xapori Yanomami) do país iniciou os atendimentos no último sábado (6/9), no Território Yanomami, em Roraima. Com investimento federal de cerca de R$ 29 milhões, a unidade amplia a capacidade de atendimento às comunidades indígenas da Amazônia.

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