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Etanol com CCS estreia no mercado de carbono brasileiro

FS anuncia a primeira venda futura de créditos de remoção de carbono no Brasil, com projeto BECCS no Mato Grosso

Vista aérea das instalações de usina de etanol de milho FS Bioenergia (Foto Rafael D Marques/Secom-MT)
Usina de etanol de milho FS Bioenergia (Foto Rafael D Marques/Secom-MT)

NESTA EDIÇÃO. FS anuncia venda futura de primeiros créditos de carbono BECCS a preço médio de US$ 150.
 
Ativos serão classificados como créditos de remoção e seguirão a metodologia Gold Standard.


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A produtora de etanol de milho FS anunciou nesta segunda (1/9) que firmou os primeiros acordos para a venda futura de créditos de carbono derivados do seu projeto de captura e armazenamento (BECCS, em inglês).
 
Com títulos negociados ao preço médio de US$ 150, as transações marcam as primeiras vendas de remoção de carbono atrelada à produção de biocombustíveis do Brasil. 
 
Segundo a companhia, o recente aval da ANP para o projeto em Lucas do Rio Verde (MT) avançar com estudos do subsolo onde o carbono será injetado, e a Licença Provisória emitida em 30 de julho pela Secretaria do Meio Ambiente do Mato Grosso ajudaram a viabilizar os acordos.
 
“A viabilidade geológica e a evolução do quadro regulatório atraíram compradores para créditos de carbono derivados desta iniciativa. Planejamos iniciar a construção do sistema BECCS assim que as aprovações de licenciamento forem concedidas, e a nossa meta é iniciar as operações de injeção de carbono até julho de 2026”, conta o vice-presidente de Sustentabilidade e Novos Negócios da FS, Daniel Lopes.
 
O volume de créditos negociados, contudo, não foi divulgado. 
 
O plano é capturar o CO2 da produção de etanol de milho e armazená-lo no solo por 30 anos. A FS estima que até 12 milhões de toneladas de carbono podem ser injetadas ao longo de três décadas.
 
Esse montante considera o depósito de todas as emissões de carbono atuais da usina — totalizando 423 mil toneladas por ano. Mais do que vender créditos, a meta é ser carbono negativo na produção de biocombustíveis.
 
Os contratos de venda futura foram assinados com o escritório de advocacia Pinheiro Neto Advogados, SLB (empresa global de tecnologia energética), e a Rubicon Carbon & YvY Capital, fornecedora de soluções de carbono.
 
Os ativos serão classificados como “créditos de remoção” e seguirão a metodologia Gold Standard.



Estudos da Strategy&, da PwC, indicam que, até 2030, a oferta potencial de créditos de carbono no Brasil — considerando os diferentes recursos disponíveis — pode chegar a cerca de 370 MtCO₂e.
 
O volume é quase nove vezes superior à demanda doméstica estimada em 17 a 72 MtCO₂e. O que significa que a maior parte deve ser exportada.
 
Para isso, o país precisará se conectar a mercados externos, seja no voluntário ou via Artigo 6 do Acordo de Paris, por exemplo, aponta a consultoria. 
 
A PwC calcula ainda que os créditos brasileiros representam cerca de 7% da demanda global, podendo responder por 12% a 13% nos próximos anos. 
 
“Transformar esse potencial em vantagem competitiva dependerá de uma regulação efetiva, combinada com mecanismos robustos de rastreabilidade e uso sustentável dos recursos naturais”, aponta o estudo.
 
Ao mesmo tempo, a expansão dos mecanismos de precificação de carbono no mundo está transformando a lógica da competitividade internacional, a exemplo do mecanismo de ajuste de fronteira de carbono da União Europeia (CBAM).
 
A PwC projeta que o custo oculto do carbono, pode chegar a representar mais de 1,5% do valor de produção de setores carbono-intensivos, como aço, cimento e químicos, e 10% para eletricidade nos países do G20.
 
Mas no caso de empresas brasileiras, esse preço pode ser fonte de vantagem competitiva, considerando a menor intensidade de carbono potencial do país, que opera com abundância de recursos naturais e fontes renováveis de energia. 
 
No setor de energia, um preço de carbono teórico de US$ 35/tCO2 coloca o Brasil em vantagem em relação à China, de quase US$ 17/MWh na energia elétrica e de US$49/tep na energia primária.


Transição chinesa. A China está finalizando o maior complexo solar do planeta, instalado em 610 km2 da região do Tibete — área comparável à cidade de Chicago. O empreendimento terá capacidade de geração equivalente ao consumo de cerca de 5 milhões de residências e integra a estratégia nacional de reduzir o uso de combustíveis fósseis.
 
Financiamento climático. Os fundos de investimento sustentável alcançaram um patrimônio líquido de R$ 36,8 bilhões em julho de 2025, uma alta de 48,4% ante dezembro de 2024 e de 89% ante o mesmo período do ano passado, aponta a Anbima. A captação líquida de quase R$ 8 bilhões neste ano indica que serão superados os R$ 9,4 bilhões de 2024.
 
Tarifaço. Cerca de 130 empresários embarcam para os Estados Unidos nesta semana, em missão empresarial organizada pela CNI. O objetivo é abrir caminhos para reverter a taxa de 50% aplicada sobre produtos brasileiros. Os setores mais afetados pelo tarifaço também estarão representados, como máquinas e equipamentos, madeira, café e cerâmica.
 
Bandeira vermelha. As contas de energia elétrica permanecem com acréscimo de R$ 7,87 para cada 100 kWh consumidos em setembro. Segundo a Aneel, a bandeira vermelha patamar 2 será mantida devido à necessidade de acionamento de usinas termelétricas
 
Deflação. A tarifa de eletricidade residencial foi o principal fator de queda do IPC-S em agosto, segundo a Fundação Getulio Vargas. O item passou de -2,51% na terceira quadrissemana do mês para -4,76% na última leitura.
 
Conecta Caldeira. O EQT Lab do Grupo Equatorial lançou um desafio global para startups e scale-ups em busca de soluções que utilizem visão computacional e inteligência artificial para otimizar o processo de inspeção preditiva de redes de distribuição em alta tensão. A iniciativa faz parte do programa Conecta Caldeira, em parceria com o Instituto Caldeira. Inscrições até 6 de setembro.

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