NESTA EDIÇÃO. FS anuncia venda futura de primeiros créditos de carbono BECCS a preço médio de US$ 150.
Ativos serão classificados como créditos de remoção e seguirão a metodologia Gold Standard.
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A produtora de etanol de milho FS anunciou nesta segunda (1/9) que firmou os primeiros acordos para a venda futura de créditos de carbono derivados do seu projeto de captura e armazenamento (BECCS, em inglês).
Com títulos negociados ao preço médio de US$ 150, as transações marcam as primeiras vendas de remoção de carbono atrelada à produção de biocombustíveis do Brasil.
Segundo a companhia, o recente aval da ANP para o projeto em Lucas do Rio Verde (MT) avançar com estudos do subsolo onde o carbono será injetado, e a Licença Provisória emitida em 30 de julho pela Secretaria do Meio Ambiente do Mato Grosso ajudaram a viabilizar os acordos.
“A viabilidade geológica e a evolução do quadro regulatório atraíram compradores para créditos de carbono derivados desta iniciativa. Planejamos iniciar a construção do sistema BECCS assim que as aprovações de licenciamento forem concedidas, e a nossa meta é iniciar as operações de injeção de carbono até julho de 2026”, conta o vice-presidente de Sustentabilidade e Novos Negócios da FS, Daniel Lopes.
O volume de créditos negociados, contudo, não foi divulgado.
O plano é capturar o CO2 da produção de etanol de milho e armazená-lo no solo por 30 anos. A FS estima que até 12 milhões de toneladas de carbono podem ser injetadas ao longo de três décadas.
Esse montante considera o depósito de todas as emissões de carbono atuais da usina — totalizando 423 mil toneladas por ano. Mais do que vender créditos, a meta é ser carbono negativo na produção de biocombustíveis.
Os contratos de venda futura foram assinados com o escritório de advocacia Pinheiro Neto Advogados, SLB (empresa global de tecnologia energética), e a Rubicon Carbon & YvY Capital, fornecedora de soluções de carbono.
Os ativos serão classificados como “créditos de remoção” e seguirão a metodologia Gold Standard.
Fornecedor global
Estudos da Strategy&, da PwC, indicam que, até 2030, a oferta potencial de créditos de carbono no Brasil — considerando os diferentes recursos disponíveis — pode chegar a cerca de 370 MtCO₂e.
O volume é quase nove vezes superior à demanda doméstica estimada em 17 a 72 MtCO₂e. O que significa que a maior parte deve ser exportada.
Para isso, o país precisará se conectar a mercados externos, seja no voluntário ou via Artigo 6 do Acordo de Paris, por exemplo, aponta a consultoria.
A PwC calcula ainda que os créditos brasileiros representam cerca de 7% da demanda global, podendo responder por 12% a 13% nos próximos anos.
“Transformar esse potencial em vantagem competitiva dependerá de uma regulação efetiva, combinada com mecanismos robustos de rastreabilidade e uso sustentável dos recursos naturais”, aponta o estudo.
Ao mesmo tempo, a expansão dos mecanismos de precificação de carbono no mundo está transformando a lógica da competitividade internacional, a exemplo do mecanismo de ajuste de fronteira de carbono da União Europeia (CBAM).
A PwC projeta que o custo oculto do carbono, pode chegar a representar mais de 1,5% do valor de produção de setores carbono-intensivos, como aço, cimento e químicos, e 10% para eletricidade nos países do G20.
Mas no caso de empresas brasileiras, esse preço pode ser fonte de vantagem competitiva, considerando a menor intensidade de carbono potencial do país, que opera com abundância de recursos naturais e fontes renováveis de energia.
No setor de energia, um preço de carbono teórico de US$ 35/tCO2 coloca o Brasil em vantagem em relação à China, de quase US$ 17/MWh na energia elétrica e de US$49/tep na energia primária.
Cobrimos por aqui
Curtas
Transição chinesa. A China está finalizando o maior complexo solar do planeta, instalado em 610 km2 da região do Tibete — área comparável à cidade de Chicago. O empreendimento terá capacidade de geração equivalente ao consumo de cerca de 5 milhões de residências e integra a estratégia nacional de reduzir o uso de combustíveis fósseis.
Financiamento climático. Os fundos de investimento sustentável alcançaram um patrimônio líquido de R$ 36,8 bilhões em julho de 2025, uma alta de 48,4% ante dezembro de 2024 e de 89% ante o mesmo período do ano passado, aponta a Anbima. A captação líquida de quase R$ 8 bilhões neste ano indica que serão superados os R$ 9,4 bilhões de 2024.
Tarifaço. Cerca de 130 empresários embarcam para os Estados Unidos nesta semana, em missão empresarial organizada pela CNI. O objetivo é abrir caminhos para reverter a taxa de 50% aplicada sobre produtos brasileiros. Os setores mais afetados pelo tarifaço também estarão representados, como máquinas e equipamentos, madeira, café e cerâmica.
Bandeira vermelha. As contas de energia elétrica permanecem com acréscimo de R$ 7,87 para cada 100 kWh consumidos em setembro. Segundo a Aneel, a bandeira vermelha patamar 2 será mantida devido à necessidade de acionamento de usinas termelétricas.
Deflação. A tarifa de eletricidade residencial foi o principal fator de queda do IPC-S em agosto, segundo a Fundação Getulio Vargas. O item passou de -2,51% na terceira quadrissemana do mês para -4,76% na última leitura.
Conecta Caldeira. O EQT Lab do Grupo Equatorial lançou um desafio global para startups e scale-ups em busca de soluções que utilizem visão computacional e inteligência artificial para otimizar o processo de inspeção preditiva de redes de distribuição em alta tensão. A iniciativa faz parte do programa Conecta Caldeira, em parceria com o Instituto Caldeira. Inscrições até 6 de setembro.