diálogos da transição

Brasil aumentou emissões desde que assinou acordo global de metano

Em 2022, emissões de metano alcançaram recorde de 21,6 milhões de toneladas no Brasil, puxadas pela pecuária

Abiogás contesta setor de resíduos, representado pela Abren, em disputa sobre soluções para o lixo, entre elas a incineração para produção de energia (ou waste to energy). Na imagem: Aterro Sanitário de Brasília, entre Ceilândia e Samambaia; com área de 760 mil m², dos quais 320 mil são destinados a receber rejeitos (Foto: Gabriel Jabur/Agência Brasília)
Aterro Sanitário de Brasília, entre Ceilândia e Samambaia; com área de 760 mil m², dos quais 320 mil são destinados a receber rejeitos (Foto: Gabriel Jabur/Agência Brasília)

NESTA EDIÇÃO. Desde que assinou compromisso internacional para reduzir emissões de metano, Brasil bateu recordes no lançamento do gás de efeito estufa na atmosfera.

Pecuária é o principal desafio. Mas país desperdiça oportunidades nos setores de resíduos e energia, mostra estudo.


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Ao invés de reduzir, o Brasil está aumentando suas emissões de metano, gás de efeito estufa com potencial de aquecimento global 28 vezes maior que o do CO2, ao longo de um século. 
 
Entre 2020 e 2023, o crescimento foi de 6%, de acordo com dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (Seeg) divulgados nesta quarta (27/8). 
 
A explicação, segundo o Observatório do Clima, está no pasto: a maior parcela do metano emitido tem origem na fermentação entérica (o “arroto” do boi”), com 14,5 milhões de toneladas CH4  em 2023 — mais do que todos os gases de efeito estufa emitidos pela Itália no mesmo ano.
 
E expõe a dificuldade de o Brasil cumprir compromissos climáticos internacionais, a começar pelo Compromisso Global do Metano.
 
Assinado por mais de 150 países em novembro de 2021, durante a COP26, em Glasgow, o acordo prevê a redução de 30% nas emissões globais até 2030, em relação aos níveis de 2020. 
 
O Brasil, que aderiu ao compromisso em setembro, antes mesmo da COP26, no entanto, está indo em direção contrária desde então.
 
Já no ano seguinte, em 2022, as emissões de CH4 alcançaram um recorde de 21,6 milhões de toneladas. E em 2023, ficaram no segundo maior nível desde a década de 1990, com 21,1 milhões de toneladas. 
 
“O Brasil é o quinto maior emissor de CH4  do mundo (atrás de China, Estados Unidos, Índia e Rússia), mas, assim como outros grandes emissores, não fez quase nada para implementar o compromisso de Glasgow”, critica o OC.



O estudo lançado hoje (.pdf) delineia o perfil das emissões de metano no Brasil e aponta caminhos para mitigação em diferentes setores. 

Energia (0,55 Mt) e processos industriais e uso de produtos (0,02 Mt), por exemplo, são áreas com peso menor no volume de CH4 lançado pelo Brasil, mas suas principais fontes já são tecnicamente controláveis.

Mais da metade das emissões vem utilização precária de lenha em residências, o que poderia ser resolvido com acesso universal a fogões eficientes a gás ou eletricidade.

Outro problema são as emissões fugitivas da cadeia de petróleo e gás, que vêm de pequenos vazamentos, flares e outros escapes no processo de produção e refino, também solucionável com tecnologias disponíveis hoje

Atrás do agro (15,7 Mt), o setor de resíduos é o segundo maior poluente em metano no país, com 3,1 Mt emitidas em 2023. Sua principal fonte são os dejetos orgânicos despejados em lixões. 

Também é uma área onde já existe solução e o país desperdiça dinheiro e energia. 

O documento aponta que é possível reduzir quase um terço as emissões do setor com o fechamento de todos os lixões até 2028, ampliação de reciclagem e melhor aproveitamento do biogás dos aterros sanitários


Transição sul-americana. A América do Sul precisará investir cerca de US$ 500 bilhões por ano nas próximas décadas para viabilizar sua transição energética, estima a Agência Internacional de Energia Renovável (Irena, na sigla em inglês). Mas, sem integração regional, o caminho para a neutralidade de carbono em 2050 será inviável.
 
Tarifa social. A instalação da Comissão Mista que vai analisar a MP 1300/2025, da reforma do setor elétrico, enfim, saiu do papel, com a promessa de confirmar a reforma da tarifa social de energia elétrica no Congresso Nacional nas próximas semanas. 

  • A comissão seguiu o acordo que havia sido firmado para designar o senador Eduardo Braga (MDB/AM) para a presidência da mesa e o deputado federal Fernando Coelho Filho (União/PE) como relator do projeto, ambos ex-ministro de Minas e Energia.

Minerais críticos. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou nesta quarta-feira (27/8), ter discutido com o presidente Lula (PT) a aprovação de um marco regulatório da mineração para o país e ressaltou que a medida precisa ser aprovada ainda este ano.
 
Brasil e Arábia Saudita iniciaram na terça-feira (26/8) a implementação do acordo energético assinado em junho. A reunião de abertura marcou o primeiro passo para detalhar projetos conjuntos em petróleo, gás natural, energia elétrica, renováveis e hidrogênio, informou o MME.
 
Certificados de biometano. A Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo (Semil) prorrogou para setembro o prazo da consulta pública sobre a criação do certificado de garantia de origem do biometano paulista. O governo estadual busca contribuições de empresas e associações para a política de incentivo local
 
Cidades resilientes. O BNDES apoiará cidades e estados na estruturação de projetos para enfrentar desafios urbanos e climáticos. Segundo o diretor de Planejamento e Relações Institucionais do banco, Nelson Barbosa, houve um aumento no interesse por esses projetos.
 
Educação financeira. Estão abertas até a próxima sexta-feira (29/8) as inscrições do curso on-line que a Cemig está oferecendo para os estudantes do ensino médio de escolas públicas de Minas Gerais. A iniciativa gratuita faz parte do programa de voluntariado da Companhia. Nesta edição, as aulas vão trabalhar, pela primeira vez, o tema Educação Financeira. As vagas são limitadas.

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