O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, demonstrou preocupação em relação a prática de greenwashing na emissão de títulos verdes, ou green bonds.
A prática ocorre quando governos, instituições ou empresas se beneficiam de uma falsa aparência de sustentabilidade sem de fato praticá-la.
“Estou vendo muitos títulos verdes (…) Precisamos ter certeza de que não teremos [greenwashing] porque, se o fizermos, todos sofrerão com a reputação e você basicamente destruirá o mercado antes que ele nasça,” disse Campos Neto ao jornal Financial Times.
Em 2020, as emissões globais de títulos verdes superaram a marca de US$ 290 bilhões, somando US$ 1,1 trilhão, no acumulado desde 2006.
A busca por títulos rotulados como sociais, sustentáveis e verdes vem aumentando, por se tratarem de investimentos com maior resiliência e menor volatilidade em tempos de crise, como a desencadeada pela pandemia de covid-19.
Para emitir esses títulos, cabe aos próprios emissores rotular seus papéis, que depois são validados por auditorias externas. Entretanto, a ausência de uma taxonomia que defina critérios estandardizados pode levar ao greenwashing.
Para coibir essa prática e diminuir a confusão no mercado, países ao redor do mundo e o próprio Banco Central brasileiro vêm adotando alguns requisitos e padrões para definir negócios verdes ou sustentáveis.
No ano passado, a União Europeia criou um “rótulo verde”, em forma de lei, para orientar investimentos sustentáveis.
Para receber a certificação os projetos precisam cumprir, em linhas gerais, alguns requisitos como: mitigação das mudanças climáticas ou adaptação a elas; preservação de recursos hídricos e marinhos; transição para a economia circular e proteção da biodiversidade.
No Brasil, o BC abriu uma consulta pública para criação de um selo verde e sustentável, que auxilie instituições financeiras na avaliação de riscos em operações de financiamento ao agronegócio.
“Teremos um mapa de todo o país e poderemos ver quem está usando a terra que possui… foi invadido (..) Tudo vai se tornar muito transparente”, contou o presidente.
A proposta define três categorias de classificação para crédito rural:
– Projetos vetados por conta de dispositivos regulatórios de sobreposição com áreas indígenas, áreas desmatadas ilegalmente na Amazônia ou autuação por trabalho escravo;
– Projetos que podem ser qualificados como operações de crédito rural sustentável, desde que atendam a parâmetros de sustentabilidade socioambiental – como agricultura de baixo carbono, outorgas para uso de água, ou energia renovável gerada na propriedade;
– Projetos que podem ser financiados com crédito rural com indicação, pelo BC, de riscos socioambientais para a instituição financeira.
Este último critério, que seria uma espécie de intermediário entre sustentável e não sustentável, é criticado por entidades que avaliam uma brecha para financiamentos de projetos social e ambientalmente problemáticos.
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Títulos soberanos
Apesar dos gestos do BC, a expectativa do mercado era que o Brasil emitisse títulos soberanos. No ano passado, o próprio Roberto Campos chegou a declarar que o Banco Central trabalharia em estímulos para emissão de títulos verdes no Brasil, entretanto não há indícios que o governo irá emitir green bonds.
“Emissões soberanas são vistas como uma importante ferramenta para a mobilização de investimento verde para setores estratégicos. A emissão de um título soberano pelo Brasil enviaria um forte sinal para o mercado sobre o compromisso do país com uma economia de baixo carbono e também sobre o pipeline de ativos existentes”, explicou à epbr Leisa Souza, head da América Latina da Climate Bonds Initiative (CBI).
Até março deste ano, já foram emitidos US$ 8 bilhões em green bonds no Brasil, todos pela inciativa privada.
Contudo, o país vem perdendo a liderança no mercado de títulos rotulados na América Latina para o Chile. O país vizinho já emitiu US$ 6.1 bilhões em green bonds soberanos, segundo o CBI, e aproximadamente US$ 12,6 bi se somadas todas as emissões em títulos soberanos rotulado como ESG, segundo dados do Ministério da Finanças do Chile.
“A Climate Bonds Initiative tem visto um crescimento na emissão de títulos soberanos rotulados como verde, sustentável e social. Já são 22 títulos emitidos no mercado global”, concluiu Leisa Souza.
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