diálogos da transição

COP30 quer resposta política às metas fracas

Sexta carta da presidência da COP30 pede apresentação urgente das NDCs para 2035

Sexta carta da COP30 defende resposta política às metas climáticas fracas (Foto: Rafael Medelima/COP30)
Presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago (Foto: Rafael Medelima/COP30)

NESTA EDIÇÃO. Em sexta carta, presidência da COP30 diz que é responsabilidade dos negociadores converter metas insuficientes em ambições compatíveis com realidade.

Chega no mesmo dia em que o Brasil dá mais um passo confuso em sua política ambiental.


EDIÇÃO APRESENTADA POR

Publicada nesta terça (19/8), a sexta carta da presidência da COP30 trouxe o primeiro esboço de qual será a estratégia para a cúpula climática marcada para novembro, em Belém (PA).
 
Assinado pelo embaixador André Corrêa do Lago, presidente da conferência, o documento indica a necessidade de uma resposta política à insuficiência das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, em inglês), que precisam ser atualizadas pelos signatários do Acordo de Paris.
 
“Se a imagem apresentada pelo conjunto de nossas NDCs se revelar decepcionante, é nossa responsabilidade coletiva convertê-la em um quadro que assegure um planeta habitável, proteja todas as economias e melhore os padrões de vida”, diz a carta.
 
E faz um apelo para que os países entreguem suas ambições a tempo de serem incluídas no relatório síntese — até o momento, 22 dos mais de 190 signatários apresentaram suas NDCs para 2035.
 
Além disso, a presidência quer construir o maior consenso possível antes da abertura da conferência, em questões como mitigação, adaptação e financiamento.
 
Na mensagem desta terça, Côrrea do Lago reconhece que os resultados das negociações em Bonn, em junho, foram insatisfatórios. O encontro que antecede as COPs tenta ajustar uma agenda para facilitar os debates da conferência climática.
 
Mas pede união para “desencadear a próxima onda de ações climáticas ambiciosas”.
 
“Não temos escolha senão alcançar avanços exponenciais por meio de resultados concretos”.



Diante do desafio de avançar com a pauta até novembro, a presidência da COP30 lançou um cronograma de consultas para aprofundar o debate: no dia 25 de setembro, em Nova York, e no dia 15 de outubro, em Brasília, durante a Pré-COP. Além de encontros virtuais previstos para começar nas próximas semanas.
 
Tradicionalmente, as consultas da Presidência começam na segunda semana das conferências do clima. A antecipação é uma tentativa de engajar a comunidade internacional.
 
Vale dizer que, a 90 dias da cúpula em Belém, o evento vem sofrendo pressões de todos os lados: de crise de hospedagem a ameaça de boicotes de países, passando também por contradições que o Brasil como anfitrião tem deixado escapar (leia mais abaixo).
 
Meta Global de Adaptação, Programa de Transição Justa e o Diálogo sobre a implementação dos resultados do Balanço Global, serão alguns temas tratados nas consultas. 
 
Para o Observatório do Clima, o presidente da COP30, finalmente, atacou os elefantes na sala. A começar pelas NDCs, que, por enquanto, levariam o planeta a um aquecimento de 2,7ºC – quase o dobro do limite de 1,5ºC acordado
 
“Corrêa do Lago acerta ao focar a carta na resposta às NDCs, um item que determinará como Belém será julgada – se sucesso ou fracasso. (…) Segundo a ciência, as metas precisariam levar a uma redução de 43% nas emissões do planeta até 2030, mas hoje, tal qual estão propostas, elas podem até mesmo levar a um discreto aumento na poluição climática”, diz a organização em nota.

A carta de Côrrea do Lago chega no mesmo dia em que a Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) determinou a traders de soja a suspensão do acordo da Moratória da Soja dentro de 10 dias, sob pena de multas pesadas. 
 
A medida preventiva instaura um processo administrativo contra as associações e empresas signatárias do acordo, sob a justificativa de que a prática — que impede a compra de produtores que tenham desmatado áreas na região amazônica após julho de 2008 — é anticompetitiva. (Reuters/G1).
 
E deixou organizações ambientais alarmadas.
 
“Ao suspender a moratória, o Cade não apenas estimula o desmatamento, mas também silencia o direito do consumidor de escolher produtos que não contribuam para a devastação da Amazônia”, diz o Greenpeace em nota.
 
“Os números da Moratória da Soja mostram que ela tem sido um dos maiores sucessos na contenção do desmatamento da floresta desde sua implementação em 2006”, aponta a WWF
 
Segundo a ONG, entre 2006 e 2014, a área plantada com soja na Amazônia aumentou em 1,64 milhão de hectares, mas apenas 0,88% do desmatamento na região entre 2006 e 2008 foi atribuído à sojicultura.
 
A COP da Amazônia também promete ser regada a petróleo.
 
Na segunda (18/8), a sonda contratada pela Petrobras para o simulado na Bacia da Foz do Amazonas chegou ao bloco FZA-M-59, a 175 quilômetros da costa do Amapá.
 
A unidade NS-42, da Foresea, fará o simulado exigido pelo Ibama antes da liberação da licença para a perfuração de um poço exploratório em águas profundas.
 
O projeto de exploração de óleo na região começa a caminhar, apesar dos apelos ambientais contra combustíveis fósseis. 


Etanol no tarifaço. Governo e indústria brasileira defenderam, na segunda (18/8), que Brasil e Estados Unidos — dois maiores produtores e exportadores globais de etanol — se unam para abrir novos mercados ao biocombustível, aproveitando, inclusive, oportunidades no setor de aviação.

R$ 32 bi para renováveis. O financiamento para geração de energia renovável no Brasil cresceu 6,5% em 2024 em comparação com o ano anterior, segundo estudo da Cela. O volume chegou a R$ 32,5 bilhões no ano passado, ante R$ 30,5 bilhões em 2023. No entanto, houve queda de quase 30% nos créditos para as usinas eólicas de grande porte.

Tarifa social. A Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee) vê como um risco a possibilidade de a MP 1300/2025 ser fatiada e aprovada no Congresso apenas com a ampliação da tarifa social, sem discutir os subsídios. O prazo de vigência da MP termina em 19 de setembro e a comissão mista que analisará o texto sequer foi instalada

Leilão de baterias. O diretor-geral da Aneel, Sandoval Feitosa, disse nesta terça (19/8), que há frustração de expectativas com a ausência de “sinalização” sobre leilão de baterias. Ele indicou a possibilidade dessa tecnologia entrar já nos próprios leilões de transmissão de energia elétrica.

  • Nesta terça, a agência autorizou a abertura de consulta pública sobre o edital do leilão de transmissão 1/2026, marcado para 27 de março. 

Nova direção. A Comissão de Infraestrutura do Senado aprovou, nesta terça-feira (19/8), as indicações de Artur Watt e de Pietro Mendes para a ANP; e de Willamy Frota e Gentil Nogueira de Sá para a Aneel. Após as sabatinas, os nomes ainda precisam passar por votação no plenário do Senado, que pode ocorrer nesta terça (19/8) ou quarta (20/8).
 
Cessão de servidores. A ANP prorrogou até quarta-feira (20/8) o prazo da consulta interna sobre a mudança das regras para cessão de servidores. A proposta em discussão restringe a possibilidade apenas para a ocupação de cargos de maior nível hierárquico, a partir de DAS-5.
 
Renovação da Enel SP. A procuradoria da Aneel está avaliando se o processo de renovação contratual de Enel SP só poderá avançar para a votação após a conclusão do relatório sobre eventuais falhas e transgressões da concessionária, em processo paralelo.
 
E da Enel Rio. A agência reguladora também recomendou a renovação do contrato de concessão da Enel Rio até 2056. O processo foi aprovado nesta terça-feira (19/8) em uma votação com quatro votos a favor e um contra.
 
Fundo para florestas. Impulsionados por Colômbia e Brasil, os países da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) devem assinar, na próxima sexta-feira (22/8), uma declaração conjunta de apoio ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, em inglês), que será lançado na COP30. 
 
Aprovação do regimento do Firece. A Aneel aprovou o regimento interno do comitê de participação do Fundo de Apoio à Infraestrutura para Recuperação e Adaptação à Eventos Climáticos Extremos (Firece). A resolução foi publicada no Diário Oficial da União desta terça (19/8).

Newsletter diálogos da transição

Inscreva-se e fique por dentro de tudo sobre Transição Energética