RIO — Os investimentos para produção de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, na sigla em inglês) serão direcionados principalmente para regiões com abundância de matérias-primas, segundo o diretor sênior comercial para América Latina da Honeywell, Willian Luvazio.
Para ele, mesmo diante da revisão de incentivos fiscais nos Estados Unidos, que trouxe incertezas ao setor global de renováveis, os investimentos no Brasil e na América Latina seguem firmes, impulsionados pela disponibilidade de insumos.
“O Brasil e a América Latina têm uma abundância muito grande de matéria-prima. No negócio de SAF, de biocombustível, é isso que impulsiona os investimentos”, afirma o executivo em entrevista à agência eixos.
A avaliação é que embora a volatilidade geopolítica aumente a percepção de risco, o horizonte de longo prazo permanece atrativo.
“Esses investimentos, visando prazos mais longos, persistem”, diz Luvazio.
Por aqui, a Honeywell participa de dois grandes projetos de SAF — o de coprocessado da Petrobras, prometido para este ano, e a planta de biorrefino com óleo de macaúba, em desenvolvimento pela Acelen, na Bahia.
Desafios regulatórios e de certificação
O Brasil dispõe de uma variedade de matérias-primas para produção de SAF, como óleo de soja, biomassa e etanol, além de novas cadeias como a macaúba.
Esse potencial garante competitividade e pode consolidar o país como um dos principais atores globais no setor.
No entanto, a consolidação desse papel exigirá clareza regulatória e reconhecimento internacional das particularidades do país, de forma que as cadeias de produção não sejam penalizadas por questões como o uso indireto da terra.
“Essas discussões têm que ser levadas a cabo para que a gente possa ter o preço da matéria-prima e o preço do combustível dentro do modelo de negócio e avançar com os projetos”, defende Luvazio.
O executivo pondera que os projetos enfrentam a falta de harmonização regulatória e de certificações nos diferentes mercados compradores de SAF.
A multiplicidade de certificações desafia a cadeia do combustível sustentável, na medida em que a diversidade regulatória fragmenta o mercado e pode aumentar custos.
Enquanto o ASTM D7566 assegura a viabilidade técnica do combustível, os critérios de sustentabilidade variam entre diferentes sistemas — como o CORSIA, da Icao, a RED II da União Europeia, o GREET e o RFS nos EUA, além de certificações voluntárias como RSB e ISCC — cada um com regras próprias de emissões, matérias-primas e requisitos socioambientais.
Traduzindo: significa que o SAF aceito na Europa pode não ser reconhecido nos EUA, e vice-versa, exigindo que produtores busquem múltiplas certificações. Além de elevar a burocracia e dificultar a escala, isso cria “ilhas regulatórias” e distorções na competição por matérias-primas.
“Dependendo de como é a legislação de um certo país ou região, uma matéria-prima pode ser classificada como um rejeito, então ter um impacto maior na descarbonização. Se [no outro país] não é um rejeito, há uma redução dessa descarbonização”, exemplifica.
A diplomacia brasileira tem trabalhado a questão da “tropicalização” de critérios sobre o uso indireto da terra e, recentemente, obteve uma vitória com o reconhecimento dos atributos do cultivo de milho safrinha.
“Nessa mesma área a gente produz duas vezes. E não estavam levando em consideração isso, que é algo muito importante”, ressalta Luvazio.
Ele conta que a Honeywell participa dessas discussões técnicas e regulatórias, tanto em fóruns nacionais quanto internacionais.
Para o executivo, esse processo de diálogo é essencial para que os modelos de negócio se consolidem, considerando tanto a complexidade tecnológica quanto as exigências ambientais e econômicas da transição energética.
“Esse enquadramento é fundamental para definir o preço final do combustível e a viabilidade do investimento”, completa.