RIO — O CEO da Acelen, Luiz de Mendonça, garantiu, na quinta (14/8), que a companhia já tem contratos de venda de longo prazo para 80% da futura produção de combustível sustentável de aviação (SAF, em inglês), de sua planta em desenvolvimento na Bahia.
Os clientes são dos Estados Unidos, Europa e também Brasil.
Contudo, o executivo demonstrou preocupação com a revisão de créditos fiscais nos EUA para biocombustíveis importados e a dificuldade do setor aéreo europeu em cumprir os mandatos.
“Já temos os contratos de off-take para 80% do volume, 20% a gente vai deixar no mercado spot porque nos dá oportunidade de arbitrar. A planta é flexível, SAF e diesel renovável (HVO), isso dá um preço mínimo aceitável também”, disse Mendonça, durante o Fórum NetZero, da Honeywell, no Rio de Janeiro.
A biorrefinaria tem início da operação previsto para o começo de 2028, e pretende produzir 1 bilhão de litros de combustíveis por ano.
A produção deve começar com óleo de soja e UCO (óleo de cozinha usado) e introduzir gradualmente o óleo de macaúba — resultado de um projeto de florestas plantadas em terras degradadas, na Bahia e Minas Gerais
Incerteza nos EUA
Nos Estados Unidos, mudanças na política federal — com a redução do crédito fiscal previsto no 45Z e um corte de 20% nos incentivos para SAF produzido com matéria-prima importada — favorecem o uso de insumos domésticos e criam barreiras a produtores internacionais.
“Com essa certa insegurança nos Estados Unidos, às vezes fica difícil calcular qual é o tamanho do crédito, se for um SAF que venha de fora ou não, de uma matéria-prima que venha de fora ou não”, comenta o CEO da Acelen.
Apesar disso, o executivo disse acreditar na demanda voluntária de algumas companhias aéreas, visando a redução das emissões, além de mandatos estaduais para SAF, como a exemplo da Califórnia.
Mandatos sustentam demanda
Na Europa, o mandato ReFuelEU Aviation estabelece percentuais obrigatórios de mistura de SAF ao combustível fóssil, mas já enfrenta resistência das companhias aéreas europeias que consideram as metas para 2030 inatingíveis.
No início de junho, a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês) publicou um relatório calculando que serão necessários um milhão de toneladas de SAF para cumprir os mandatos europeus em 2025, a um custo de US$ 1,2 bilhão.
A meta é sobre os fornecedores, que devem colocar no mercado o suficiente para substituir 2% do querosene fóssil por renovável. O percentual aumenta para 6% até 2030, atingindo 70% até 2050.
No entanto, o SAF pode custar até cinco vezes mais do que o combustível de aviação convencional dependendo da origem e rota de produção.
Mendonça alerta que é preciso garantir previsibilidade.
“É muito importante que não mude o mandato, porque o empresário toma as decisões contando com o mandato. Se o mandato mudar, pode quebrar o investimento”.
Diferente da União Europeia, o mandato criado no Brasil é sobre redução de emissões das companhias aéreas domésticas com o uso de SAF. A lei do Combustível do Futuro estabelece 1% de redução em 2027 chegando a 10% até 2037.
Isso deve demandar 1,1 bilhão de litros de combustíveis sustentáveis até 2037.
A planta de SAF da Acelen será construída ao lado da Refinaria de Mataripe. Cerca de 20% da produção de macaúba virá de agricultura familiar, segundo Mendonça.
“O segredo está no feedstock. Domesticar a macaúba é um pouquinho mais complicado e acho que é o grande desafio, mas é isso, é um projeto integrado que traz, além do aspecto de sustentabilidade, competitividade”.