diálogos da transição

Falta de estratégia atrasa cadeia de valor do hidrogênio verde no Brasil

Sem estratégia clara, Brasil pode ficar para trás no desenvolvimento da indústria de hidrogênio verde

Dário Durigan, governador Eumano de Freitas, Lula e Alexandre Silveira durante sanção de marco do hidrogênio, no Porto do Pecém no Ceará, em 2/8/2024 (Foto Ricardo Stuckert/PR)
Dário Durigan, governador Eumano de Freitas, Lula e Alexandre Silveira durante sanção de marco do hidrogênio, em agosto de 2024, no Porto do Pecém no Ceará (Foto Ricardo Stuckert/PR)

NESTA EDIÇÃO. Ausência de estratégia nacional clara e metas para o desenvolvimento da indústria atrasam competitividade do hidrogênio verde brasileiro, aponta EY.

Mapeamento aponta que Brasil ainda está focado em projetos-piloto enquanto, em outras partes do mundo, empreendimentos em escala industrial avançam para fase de desenvolvimento.


EDIÇÃO APRESENTADA POR

Com mais de R$ 454 bilhões em investimentos anunciados em hidrogênio verde, o Brasil ainda precisa superar quatro desafios para que eles saiam do papel: planejamento, políticas estratégicas, adequação da infraestrutura e fornecimento de energia renovável.
 
A conclusão é de um estudo da EY-Parthenon, braço de estratégia e transações da EY, que vê a molécula obtida a partir da eletrólise uma alternativa essencial na transição de setores mais difíceis de reduzir emissões, como aço, cimento, fertilizantes e transportes pesados.
 
O Brasil é central neste debate. Segundo a BloombergNEF, ele é um dos poucos com condições de fornecer hidrogênio verde a um custo competitivo de US$ 1,47/kg até 2030.
 
Mas é preciso acelerar. O relatório da EY alerta que ainda não há uma estratégia clara para o energético no planejamento nacional, o que atrasa o desenvolvimento de uma cadeia de valor mais competitiva, tanto para atender a demanda doméstica quanto a global. 
 
“A estrutura atual da cadeia de valor do hidrogênio verde favorece a produção em larga escala para exportação em regiões específicas, mas ainda não está claro como distribuir competitivamente o H2V para zonas industriais e mercados no país, que, como sabemos, tem uma extensão continental”, comenta Diogo Yamamoto, sócio da EY-Parthenon.
 
Em 2024, o país aprovou um marco regulatório para o hidrogênio de baixo carbono, com a previsão de R$ 18,3 bilhões em subsídios para dar o pontapé nessa indústria.
 
Falta definir os critérios de acesso aos recursos, que devem priorizar o desenvolvimento de cadeias de valor nacionais, segundo o Ministério da Fazenda. O decreto com as regras do jogo, no entanto, está atrasado. E não é só isso.



Embora o Ministério de Minas e Energia (MME) tenha lançado metas para hubs de hidrogênio de baixa emissão até 2035, incorporada no Plano Clima, o levantamento da EY mostra que, por enquanto, os projetos mais avançados no Brasil são pilotos — enquanto lá fora grandes empreendimentos já avançam para a fase de desenvolvimento.
 
Um exemplo é o da bp na Espanha, que anunciou, em julho de 2024, a decisão final de investimento (FID) na planta de 2 GW de capacidade de eletrólise que irá fornecer hidrogênio verde para substituir o fóssil na refinaria de Castellon. Um dos produtos será  o combustível sustentável de aviação (SAF, em inglês).
 
Há, pelo menos, 45 memorandos de entendimentos (MoUs) assinados no Brasil, com projeções de 2 milhões de toneladas de hidrogênio por ano em 2030. A maioria mira exportação.
 
Além do desafio de desenvolver a demanda interna, é preciso olhar para trás e criar também uma cadeia de fornecimento nacional. Algo que esteve presente nos discursos do governo durante a discussão do marco legal, mas ainda não se materializou em política e planejamento.
 
“Países desenvolvidos já estabeleceram marcos regulatórios para promover essa indústria, aqui estamos com certo atraso. Não temos, por exemplo, nenhuma meta nacional de fabricação de eletrolisadores”, critica Yamamoto.

A matriz elétrica quase 90% renovável do Brasil é um diferencial em relação a concorrentes como Austrália, Holanda e Reino Unido. Mas a conta não é tão simples.
 
Há uma disputa, já em andamento, pelo acesso à rede elétrica brasileira, expondo um dos gargalos de infraestrutura que o país precisará enfrentar.
 
Some-se a isso a alta demanda energética dos eletrolisadores, o que também gera uma demanda pela expansão da geração de eletricidade de fontes como eólica e solar.
 
E, claro, infraestrutura para escoar a produção, adaptando portos e dutos para armazenamento e transporte do gás renovável e altamente inflamável e volátil.
 
“Os gasodutos representam a escolha mais econômica a longo prazo para distribuição local de hidrogênio, mas essa rede no país está concentrada nas áreas costeiras, dificultando a distribuição de hidrogênio para outros polos industriais”, explica o sócio da EY.


Thyssenkrupp desiste de hidrogênio verde nos EUA. A Thyssenkrupp está ajustando a estratégia global para o hidrogênio verde diante da retirada de incentivos fiscais nos Estados Unidos e a demora no amadurecimento do mercado europeu. 

Lula convida Trump para COP30. O presidente Lula confirmou envio de uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, convidando-o para participar da COP30. O petista também reiterou que, ainda nesta semana, pretende manter diálogo com líderes de países como África do Sul, Alemanha, França e México para construir uma reação conjunta às tarifas dos EUA.
 
MP do tarifaço. O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos/PB), afirmou que o Congresso Nacional tratará como “prioridade” a Medida Provisória que oferece um pacote de socorro a empresas afetadas pelo tarifaço do presidente dos Estados Unidos a produtos brasileiros.
 
Acionamento de térmicas. O abastecimento de energia elétrica no Brasil deverá contar com maior participação de usinas termelétricas nos próximos meses, segundo avaliação do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, órgão vinculado ao MME. A medida foi indicada pelo ONS diante do aumento previsto na demanda combinado à estação seca.
 
Eólicas offshore sob consulta. O Ministério de Minas e Energia reabriu a consulta pública sobre  metodologia para seleção de áreas destinadas à geração de energia eólica offshore no Brasil. Os interessados podem contribuir até 1º de setembro.
 
ANP busca servidores. A agência reguladora iniciou um processo interno para requisitar de volta os quadros da agência espalhados por órgãos federais — entre eles, o MME.Trata-se uma mudança nas regras para cessão, restringindo a possibilidade apenas para a ocupação de cargos de maior nível hierárquico.
 
Leilão do GSF. A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) realizou nesta quarta-feira (14/8) a liquidação financeira do leilão do GSF (sigla em inglês para fator de geração), totalizando R$ 1,34 bilhão em passivos. A negociação busca encerrar ações judiciais movidas pelas geradoras. 
 
Novo vale-gás. Um dos impasses para o anúncio do programa do governo Gás para Todos foi ultrapassado esta semana, segundo informações do Estadão/Broadcast, com a aceitação, pelas distribuidoras, da venda do gás liquefeito de petróleo (GLP) ao preço de atacado, e não a varejo como pretendiam.

Newsletter diálogos da transição

Inscreva-se e fique por dentro de tudo sobre Transição Energética