Armazenamento

Brasil vai acompanhar União Europeia na queda do custo de baterias, aponta Aurora Energy Research

Com reforma do setor elétrico, ritmo de crescimento da geração deve diminuir e investidores veem armazenamento como a próxima fronteira para investimentos em renováveis no país

Diretor geral da Aurora Energy Research no Brasil, Rodrigo Borges
Diretor geral da Aurora Energy Research no Brasil, Rodrigo Borges

RIO DE JANEIRO — O investimento (capex) para a instalação de um sistema de armazenamento em baterias no Brasil vai cair 16% nos próximos 25 anos, estima a Aurora Energy Research. O patamar é similar ao previsto para a União Europeia, onde o capex necessário para esses projetos deve ter uma redução de 17% no mesmo período. 

O investimento em um sistema com capacidade de até quatro horas de duração no Brasil deve cair de uma média de R$ 5 mil por quilowatt (kW) em 2025 para R$ 4,23 mil por kW até 2050, aponta a consultoria. 

O Brasil também vai acompanhar os europeus na redução dos custos fixos para operação (opex) desses sistemas. Para os projetos brasileiros, a previsão é de uma retração de 15% nos custos de operação até 2050. Já os empreendimentos europeus devem ter uma redução de 14% em 25 anos. 

Enquanto esse segmento ainda engatinha no país, a Europa já é um mercado mais maduro para o armazenamento em baterias, com a expectativa de alcançar 50 gigawatts (GW) em capacidade instalada até o final da década. 

Reforma do setor amplia interesse 

A queda global nos custos faz com que investidores em energias renováveis no Brasil olhem para as baterias como a próxima vertical para crescimento no país, sobretudo em meio às discussões da reforma do setor elétrico, que deve alterar os incentivos para essas fontes. 

“Grande parte desses investidores vêem nessa tecnologia uma forma de completar o portfólio e continuar a tese de crescimento no setor de energia no Brasil”, diz o diretor geral da Aurora no Brasil, Rodrigo Borges. 

A reforma do setor foi encaminhada pelo governo em maio, por meio da medida provisória 1300/2025, que propõe uma alteração nos atuais descontos pelo uso do fio dado a fontes incentivadas. 

A discussão do texto no Congresso Nacional deve começar ainda este mês, já que a MP perde a validade em 17 de setembro. 

Segundo Borges, a medida provisória gera dúvidas sobre como vai ser o futuro dos investimentos em renováveis no Brasil. Além disso, essas fontes também vêm sofrendo cortes de geração, devido a questão na infraestrutura de transmissão e distribuição nacional. 

Por isso, os investidores olham para o armazenamento com maior atenção, dado que o cenário agora é de uma taxa de crescimento menor para as renováveis.

Esse interesse deve crescer sobretudo para as soluções “por trás do medidor”, nas quais o uso da energia armazenada na bateria é gerido pelo próprio operador ou consumidor do projeto. 

Incertezas rondam leilão para suprimento de potência

Em paralelo, o armazenamento em baterias também vai começar a ter espaço nos próximos anos no suprimento de potência no Sistema Interligado Nacional (SIN). Nesse caso, os projetos são despachados pelo Operador Nacional do Sistema (ONS). 

O governo prepara um leilão para contratar projetos para esse fim, com previsão para ocorrer em 2026. 

A Aurora calcula que o Brasil vai demandar 47 gigawatts (GW) de capacidade de geração firme até 2045 para garantir a segurança do suprimento em meio à expansão das fontes renováveis, que são intermitentes. 

A projeção leva em consideração que a geração total de energia elétrica no Brasil alcançará 1.108 terawatts-hora (TWh) até 2060, sendo 493 TWh (44%) provenientes de eólica e solar. 

Essa demanda por capacidade firme será atendida, sobretudo, por usinas termelétricas, baterias e por projetos de repotenciação de hidrelétricas, aponta Borges.  

Na corrida pelo suprimento de potência, a redução do custo também dá vantagens competitivas para as baterias. A Aurora calcula que baterias de 4 horas podem custar até 27% menos que térmicas a gás e evitar a emissão de cerca de 20 toneladas de CO2 por MW a cada ano. 

Há receios, no entanto, sobre o real espaço que será aberto para a contratação de baterias para esse fim no país. 

Entidades do mercado pedem pela contratação de pelo menos 2 GW de baterias no leilão, mas especialistas apontam que o mais provável é que a negociação fique em torno de 1 GW. 

O pesquisador associado sênior da Aurora, Matheus Dias, aponta que discussões no governo e no Congresso Nacional podem alocar um espaço maior para outras fontes no suprimento de potência ao sistema. 

Ele lembra, por exemplo, que a medida provisória 1304/2025 (MP dos Vetos), editada em julho, priorizou a contratação de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). 

“Essas discussões saem num ambiente muitas vezes mais técnico e vai para um ambiente muito mais político”, aponta Dias. 

Ele ressalta que o ambiente ainda é de muitas incertezas para os investidores interessados no leilão de baterias no Brasil. 

“Está faltando um direcionamento mais claro por parte do planejador de isso aqui será priorizado”, diz. 

Mesmo assim, a tendência é de uma grande oferta de projetos na concorrência. Segundo Borges, mesmo que ainda existam incertezas em relação aos produtos ofertados, os investidores estão se preparando para reagir rápido. 

“Os players estão se preparando para uma demanda que vai ser limitada e um leilão que vai ser muito competitivo. Tem muita gente querendo participar”, aponta. 

O governo já indicou que só vai prosseguir com o certame das baterias após o leilão de reserva de capacidade (LRCAP) de termelétricas e hidrelétricas, que estava previsto para junho deste ano, mas foi cancelado com a judicialização das regras e ainda não tem uma nova data. 

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