Trump quer minerais

Haddad admite acordos de cooperação para minerais críticos com os EUA

Ministro também citou possibilidade de cooperação em energias renováveis e atração de data centers

Fernando Haddad participa de mesa para discussões com investidores TFFF, em 24 de setembro de 2024 (Foto Ministério da Fazenda)
Fernando Haddad participa de mesa para discussões com investidores TFFF, em 24 de setembro de 2024 (Foto Ministério da Fazenda)

BRASÍLIA — O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), disse à Band News nesta segunda-feira (4/8) que o Brasil e os Estados Unidos podem fazer um acordo de cooperação para minerais críticos e terras raras.

Mas acrescentou que o comércio internacional “não pode ser utilizado para fins eleitorais de um país que quer ver o Brasil ser governado por forças que querem entregar as riquezas nacionais”.

Neste ponto, o ministro se referia não só a minerais críticos, mas à regulação de big techs e Pix, todas essas são questões citadas pelo presidente norte-americano, Donald Trump, ao impor taxas de 50% para a importação de alguns produtos brasileiros.

“Nós temos hoje o maior potencial, em termos de custo-benefício, de produção de energia eólica e solar para data centers. Hoje, 60% dos nossos dados estão sendo mandados para fora para serem processados. E nós temos que ter a capacidade de processar aqui, por uma questão de soberania nacional”, defendeu Haddad.

O ministro lembrou que os EUA já representaram 25% das exportações brasileiras, mas hoje respondem por algo em torno de 12%.

Reforçou, também, que o governo não sairá da mesa de negociações até que haja um acordo e que não está trabalhando com “datas finais”, um referência à entrada em vigor das tarifas, adiadas de 1º de agosto para o dia 6.

“Um acordo pressupõe vontade comum, porque uma coisa imposta de fora para dentro não é um acordo. Então, hoje, nós não estamos numa situação de um acordo. O Brasil, nesses termos, não vai, evidentemente, fazer um acordo, porque não há o menor sentido na taxação que está sendo imposta ao país”, enfatizou.

Disputa mineral nos bastidores

No final de julho, o principal representante diplomático dos Estados Unidos no Brasil confirmou que a negociação das taxas impostas pelo presidente Donald Trump passa pelo acesso privilegiado a recursos estratégicos brasileiros para a transição energética.

Em reunião com representantes do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), o encarregado de negócios da embaixada norte-americana em Brasília, Gabriel Escobar, vinculou a negociação das taxas a acordos para minerais críticos. (O Globo)

O movimento indica uma estratégia mais ampla: usar tarifas como moeda de troca para garantir o suprimento de matérias-primas que hoje dependem fortemente da China.

O Brasil é considerado um fornecedor estratégico — com a maior reserva mundial de nióbio, a segunda maior de grafite e terras raras, e a terceira de níquel, cruciais para a fabricação de baterias, turbinas eólicas e motores de veículos elétricos, por exemplo. 

A aproximação não é novidade, no entanto. Muito menos exclusividade do governo republicano. 

Em 2024, ainda sob a gestão de Joe Biden, Brasil e EUA anunciaram a criação da “Nova Parceria Brasil-EUA para a Transição Energética”, durante a Cúpula de Líderes do G20, no Rio de Janeiro. O objetivo era fortalecer a cadeia de suprimento de tecnologias limpas — com destaque para minerais estratégicos. 

Já em junho de 2025, dias antes de Trump anunciar que taxaria os produtos brasileiros em 50%, a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) e a U.S. Chamber of Commerce entregaram aos governos brasileiro e norte-americano uma proposta conjunta de cooperação estratégica para o fortalecimento da cadeia de minerais críticos. 

Potencial nos biocombustíveis

Haddad também mencionou que busca parcerias na questão da transição energética e que os dois países têm interesses em comum na energia solar, eólica e biocombustíveis.

Tanto o Brasil quanto os EUA têm vocações para as energias renováveis. No caso dos biocombustíveis, os dois países são grandes produtores de etanol — produto que ficou de fora das exceções e está com a tarifa adicional mantida.

Nesta segunda, a Bioenergia Brasil e a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) manifestaram apoio à atuação do governo federal na defesa dos interesses do setor de biocombustíveis.

As entidades também mencionaram programas como o RenovaBio, o Combustível do Futuro e o Mover como provas da coerência entre a política energética nacional e os compromissos internacionais assumidos pelo país, como o Acordo de Paris.

Consulta à OMC

O Conselho de ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex) aprovou a abertura de uma consulta na Organização Mundial do Comércio contra o tarifaço de Donald Trump.

“Está aprovado pelo conselho de ministros e o presidente Lula vai decidir como fazê-lo e quanto fazê-lo”, disse o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin.

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