BRASÍLIA — O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), disse à Band News nesta segunda-feira (4/8) que o Brasil e os Estados Unidos podem fazer um acordo de cooperação para minerais críticos e terras raras.
Mas acrescentou que o comércio internacional “não pode ser utilizado para fins eleitorais de um país que quer ver o Brasil ser governado por forças que querem entregar as riquezas nacionais”.
Neste ponto, o ministro se referia não só a minerais críticos, mas à regulação de big techs e Pix, todas essas são questões citadas pelo presidente norte-americano, Donald Trump, ao impor taxas de 50% para a importação de alguns produtos brasileiros.
“Nós temos hoje o maior potencial, em termos de custo-benefício, de produção de energia eólica e solar para data centers. Hoje, 60% dos nossos dados estão sendo mandados para fora para serem processados. E nós temos que ter a capacidade de processar aqui, por uma questão de soberania nacional”, defendeu Haddad.
O ministro lembrou que os EUA já representaram 25% das exportações brasileiras, mas hoje respondem por algo em torno de 12%.
Reforçou, também, que o governo não sairá da mesa de negociações até que haja um acordo e que não está trabalhando com “datas finais”, um referência à entrada em vigor das tarifas, adiadas de 1º de agosto para o dia 6.
“Um acordo pressupõe vontade comum, porque uma coisa imposta de fora para dentro não é um acordo. Então, hoje, nós não estamos numa situação de um acordo. O Brasil, nesses termos, não vai, evidentemente, fazer um acordo, porque não há o menor sentido na taxação que está sendo imposta ao país”, enfatizou.
Disputa mineral nos bastidores
No final de julho, o principal representante diplomático dos Estados Unidos no Brasil confirmou que a negociação das taxas impostas pelo presidente Donald Trump passa pelo acesso privilegiado a recursos estratégicos brasileiros para a transição energética.
Em reunião com representantes do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), o encarregado de negócios da embaixada norte-americana em Brasília, Gabriel Escobar, vinculou a negociação das taxas a acordos para minerais críticos. (O Globo)
O movimento indica uma estratégia mais ampla: usar tarifas como moeda de troca para garantir o suprimento de matérias-primas que hoje dependem fortemente da China.
O Brasil é considerado um fornecedor estratégico — com a maior reserva mundial de nióbio, a segunda maior de grafite e terras raras, e a terceira de níquel, cruciais para a fabricação de baterias, turbinas eólicas e motores de veículos elétricos, por exemplo.
A aproximação não é novidade, no entanto. Muito menos exclusividade do governo republicano.
Em 2024, ainda sob a gestão de Joe Biden, Brasil e EUA anunciaram a criação da “Nova Parceria Brasil-EUA para a Transição Energética”, durante a Cúpula de Líderes do G20, no Rio de Janeiro. O objetivo era fortalecer a cadeia de suprimento de tecnologias limpas — com destaque para minerais estratégicos.
Já em junho de 2025, dias antes de Trump anunciar que taxaria os produtos brasileiros em 50%, a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) e a U.S. Chamber of Commerce entregaram aos governos brasileiro e norte-americano uma proposta conjunta de cooperação estratégica para o fortalecimento da cadeia de minerais críticos.
Potencial nos biocombustíveis
Haddad também mencionou que busca parcerias na questão da transição energética e que os dois países têm interesses em comum na energia solar, eólica e biocombustíveis.
Tanto o Brasil quanto os EUA têm vocações para as energias renováveis. No caso dos biocombustíveis, os dois países são grandes produtores de etanol — produto que ficou de fora das exceções e está com a tarifa adicional mantida.
Nesta segunda, a Bioenergia Brasil e a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) manifestaram apoio à atuação do governo federal na defesa dos interesses do setor de biocombustíveis.
As entidades também mencionaram programas como o RenovaBio, o Combustível do Futuro e o Mover como provas da coerência entre a política energética nacional e os compromissos internacionais assumidos pelo país, como o Acordo de Paris.
Consulta à OMC
O Conselho de ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex) aprovou a abertura de uma consulta na Organização Mundial do Comércio contra o tarifaço de Donald Trump.
“Está aprovado pelo conselho de ministros e o presidente Lula vai decidir como fazê-lo e quanto fazê-lo”, disse o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin.