NESTA EDIÇÃO. Relatório da Irena aponta redução de 93% nos custos dos sistemas BESS desde 2010. Em 2023, capacidade instalada chegou a 89 GW.
Integração de baterias com solar e eólica já compete com combustíveis fósseis em mercados como Austrália, China, EUA, Índia e União Europeia.
Apesar do potencial, o Brasil está atrasado na adoção de baterias, com metas modestas para a próxima década.
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Solução para a intermitência das renováveis que dependem da irradiação solar ou da força dos ventos para gerar eletricidade, as baterias estão em uma trajetória acelerada de redução de custos, à medida em que ganham escala e fabricantes investem em inovação. E a China foi chave para isso.
É o que mostra um relatório (.pdf) lançado nesta terça (22/7) pela Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena, em inglês).
Desde 2010, o custo dos sistemas de armazenamento de energia por bateria (BESS) caiu 93%, atingindo US$ 192/kWh para sistemas em escala de utilidade pública em 2024, aponta o levantamento.
Já as instalações avançaram a uma taxa de 4.350% entre 2015 e 2023, de 2 GW para 89 GW e hoje a tecnologia responde por 1% da capacidade renovável global.
Ainda é pouco, mas está no caminho para alcançar a meta de triplicar renováveis até 2030.
Para a Irena, a emergência climática está ajudando a impulsionar a inovação e os investimentos em tecnologias de transição energética.
É o caso também das fontes solar fotovoltaica e eólica onshore, hoje mais competitivas que os combustíveis fósseis.
“A nova energia solar fotovoltaica tem superado as novas usinas termelétricas a carvão e gás na maior parte do mundo há seis anos, e a diferença em seus custos médios de geração de eletricidade ao longo da vida útil continua a aumentar em favor da energia solar”, pontua o relatório.
“Enquanto isso, a capacidade global de fabricação de tecnologias de energia renovável está superando a demanda: os projetos anunciados de energia solar fotovoltaica e baterias já podem cobrir as necessidades globais de implantação da meta de triplicar a capacidade renovável até 2030”, completa.
Competindo com carvão
Energias renováveis integradas a sistemas de armazenamento com baterias (BEES) estão se tornando cada vez mais competitivas com as termelétricas a carvão e a gás em mercados-chave como Austrália, China, União Europeia, Índia e Estados Unidos, segundo o mapeamento da Irena.
A expectativa é que os custos continuem a cair rapidamente nos próximos anos.
Em 2024, por exemplo, 17 projetos em operação nos EUA atingiram um custo nivelado de energia (LCOE) médio de US$ 0,079/kWh, bem próximo dos US$ 0,076/kWh térmicas a gás de ciclo combinado e abaixo dos US$ 0,118/kWh das usinas a carvão.
Vale dizer que o cenário de competitividade das renováveis nos EUA está cada dia mais incerto, em meio à política do atual presidente, Donald Trump, em direção à expansão fóssil.
Outro exemplo mencionado pela Irena é a Austrália, onde oito projetos híbridos combinando energia solar, eólica e baterias relataram um LCOE médio de US$ 0,051/kWh, abaixo de novas térmicas a carvão (US$ 0,084/kWh) e a gás (US$ 0,103/kWh).
“O mercado global de baterias está avançando rapidamente, com o aumento acentuado da demanda e a contínua queda dos preços”, aponta.
“Houve forte crescimento tanto no setor de energia — para projetos de baterias em larga escala, bem como minirredes e sistemas solares residenciais — quanto no setor de transportes, como componente essencial dos veículos elétricos”, explica.
Só em 2023, 42 GW de capacidade de armazenamento foram adicionados aos sistemas elétricos em todo o mundo.
Brasil na retaguarda
Quarto no ranking global de adições renováveis e um dos mercados com maior competitividade na geração solar e eólica, o Brasil fica para trás quando o assunto é armazenamento.
Em 2015, quando a então presidente da República, Dilma Rousseff, levantou a bola de que um dos desafios da expansão eólica era “estocar o vento”, a expressão foi motivo de piada.
- Na Coluna do Gauto: Do meme à missão: por que estocar vento (e sol) é urgente
Uma década depois, o tema está em alta nas discussões sobre transição energética, mas o país ainda demonstra dificuldade em assimilar as baterias.
Lançada na última semana, a meta para o setor de energia no Plano Clima projeta 800 MW de baterias no sistema brasileiro até 2035 — bem abaixo dos 2 GW projetados pelo mercado para o futuro leilão prometido pelo governo.
Cobrimos por aqui
Curtas
Baixo carbono e baixo custo. No total, 91% dos novos projetos de geração renovável comissionados no último ano foram mais econômicos do que qualquer nova fonte fóssil, de acordo com relatório publicado nesta terça (22/7) pela Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena, em inglês).
Segurança energética. Até 2035, o Paraguai vai depender de 50% da energia gerada pela usina hidrelétrica de Itaipu, o que deverá ter reflexos no SIN. Com menos potência proveniente da empresa binacional, o Brasil precisará buscar outras fontes firmes para garantir a segurança do suprimento.
Concentração de veículos elétricos. O estado de São Paulo concentra um terço dos veículos elétricos do Brasil, apontam dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) compilados pela NeoCharge. Até abril de 2025, o país tinha 441,3 mil veículos elétricos, dos quais 146,3 mil estavam no estado.
Apagão em SP. A CGU divulgou, na segunda (21/7), relatório de auditoria sobre as interrupções de distribuição de energia elétrica em 2023 e 2024, com ênfase na área de cobertura da concessionária Enel, na região metropolitana de São Paulo. Segundo o órgão, houve falhas no acionamento do plano de contingência da Enel.
Leilão de PCHs. A Aneel aprovou nesta terça (22/7) o edital do leilão de pequenas centrais hidrelétricas. Alterações promovidas pela medida provisória 1304/2025, a MP dos Vetos, geraram questionamentos entre os diretores da agência.
Crise fiscal. A ANP informou nesta terça (22/7) que os R$ 10 milhões liberados pelo governo federal para a agência trata-se de antecipação de limites de movimentação de empenho. A medida amplia o limite global até julho de R$ 57,5 milhões para R$ 67,5 milhões.
Petróleo russo. O senador norte-americano Lindsey Graham fez uma ameaça sobre a possibilidade de os Estados Unidos aplicarem tarifa adicional a países que continuarem comprando petróleo da Rússia, citando a possibilidade de impor uma alíquota de 100%. O Brasil seria um dos potenciais alvos.
Guerra comercial. A posição da China sobre tarifas é a de buscar pontos de entendimento com o governo dos Estados Unidos, disse o porta-voz chinês Guo Jiakun, nesta terça (22/7). Esquivando-se de responder especificamente sobre se a próxima rodada de conversas com os EUA tratará das compras de petróleo russo pelos chineses, o representante disse que espera construir um “diálogo, promovendo o desenvolvimento estável, saudável e sustentável das relações bilaterais.”
Clima extremo. As secas estão causando devastação recorde, de acordo com um relatório apoiado pela ONU. O desmatamento e os incêndios em curso também ameaçam transformar a Amazônia de um “sumidouro de carbono em uma fonte de carbono”, alertam os especialistas.
Capacitação offshore. O curso gratuito de capacitação Reação Offshore está com 60 vagas para pessoas em situação de vulnerabilidade social no Espírito Santo. Promovido pela associação Todos na Luta e com apoio da PRIO, o programa oferece capacitação para o trabalho embarcado. As inscrições vão até 9 de agosto.