Tarifas de 50%

Abpip enxerga espaço para exportar petróleo para outros mercados com tarifaço de Trump

Segundo o gerente executivo, Lucas Lima, exportações para os EUA representam uma pequena parcela do total e poderiam ser absorvidas por mercados asiático e europeu

Diretor executivo da Abpip, Lucas Mota de Lima. Foto: Abpip/Divulgação
Diretor executivo da Abpip, Lucas Mota de Lima. Foto: Abpip/Divulgação

BRASÍLIA — A venda de petróleo para os Estados Unidos representa uma fatia pequena do comércio dos produtores independentes no Brasil e, caso as tarifas impostas pelo presidente Donald Trump entrem em vigor, será possível migrar de mercado. Essa é a posição do gerente executivo da Associação Brasileira dos Produtores Independente de Petróleo e Gás (Abpip), Lucas Lima.

Segundo ele, o momento é de cautela, mas há opções.

O petróleo passou a ser o principal produto de exportação do Brasil em 2024, superando a soja. Mas, embora em uma curva crescente, a venda de petróleo para os Estados Unidos representa uma parcela menor do comércio para as petroleiras independentes.

“Existem alternativas de mercado. Hoje, uma pequena parte da nossa produção é vendida para os Estados Unidos. Caso as tarifas venham, de fato, ser aplicadas, outros mercados poderiam absorver essa produção, principalmente o asiático e europeu. A gente está observando com cautela todos os próximos passos desse tema”, frisou Lima, que assumiu o cargo em maio.

Na segunda-feira (14/7), o presidente Lula assinou o decreto que regulamenta a Lei da Reciprocidade Econômica, que permite ao governo brasileiro responde às tarifas de 50% impostas pelos EUA aos produtos brasileiros, previstas para entrar em vigor a partir de agosto.

O texto estabelece mecanismos para que o governo possa buscar uma resposta à eventual taxação de produtos brasileiros em segmentos específicos da economia.

Crise fiscal

Por outro lado, a Abpip vê como desanimador para novos investimentos o cenário de dificuldade do governo brasileiro em manter o equilíbrio fiscal — e a resistência no Congresso às alternativas apresentadas, como o aumento do IOF.

Também contribuem para isso a taxa de juros elevada e o câmbio.

“A gente está com uma taxa de juros muito alta e isso dificulta a atração de investimentos. Hoje é muito mais fácil, se você tiver muito capital, colocar o dinheiro investido em taxas básicas, rendendo 15% ao ano, do que investir. Então, quando a gente fala no setor de petróleo e gás, isso com certeza tem um impacto na captação de verba, de capital”, explicou Lima.

Segundo o diretor, o cenário dificulta não apenas a atração de novos investimentos, mas o decorrer e desenvolvimento de projetos já estabelecidos.

Custo de abandono de poços

Uma das grandes preocupações dos produtores independentes é o aumento do custo para o abandono de poços, o que tem impactado diretamente as garantias e encarecido financiamentos e seguros.

Para o diretor da Abpip, a regulação precisa ser adequada ao cenário em que estão inseridos os operadores. A regra aplicada estabelece que seja considerado o custo médio por bacia.

“Temos um ambiente de heterogeneidade dos campos, dos poços, em todos os ambientes. Nesse último ciclo, houve um impacto gigantesco em determinadas operadores, elevando de forma considerável a garantia a ser depositada para o descomissionamento dos ativos”, afirmou.

Em alguns casos, a diferença entre o que foi estimado pelo produtor e o valor calculado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) é dez vezes maior.

Tanto a Abpip quanto o Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás (IBP) tiveram os pedidos de acesso às memórias de cálculos dos custos de abandono dos poços negados pela ANP.

Sem consenso até o momento, produtores, bancos e seguradoras participarão de um workshop em 14 de agosto para discutir os custos de garantia. Evento semelhante ocorreu no início do ano, mas as sugestões apresentadas não foram acolhidas pela agência.

Desinvestimento da Petrobras

Lima reiterou que as empresas independentes seguem de olho em eventuais oportunidades de vendas de ativos da Petrobras, embora não haja previsão de novos processos no curto prazo.

Este mês,  a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, admitiu que considera novamente vender o Polo Bahia Terra, conjunto de 28 campos que chegou a ser negociado com operadores independentes, mas teve sua venda encerrada em 2023.

“A Petrobras está focando nos novamente nos ativos mais produtivos, mais rentáveis. Está indo na mesma linha que já adotou, privilegiando os campos de alta produtividade. Se ocorrer [o desinvestimento] é uma grande oportunidade para as empresas independente, sim”, disse Lima.

Antes de entrar na Abpip, Lima atuou como assessor técnico no Ministério de Minas e Energia (MME) entre 2017 e 2020. Ele foi responsável por coordenar o Programa Nacional de Revitalização das Atividades de Exploração e Produção de Petróleo e Gás em Terra (REATE), em meio aos processos de desinvestimentos da Petrobras.

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