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Resposta brasileira a tarifas dos EUA acende alerta sobre inflação dos combustíveis

Governo indicou que vai recorrer à Lei de Reciprocidade Econômica

Lula durante entrevista coletiva à imprensa em Moscou, capital russa, em 10 de maio de 2025 (Foto Ricardo Stuckert/PR)
Lula durante entrevista coletiva à imprensa em Moscou, capital russa, em 10 de maio de 2025 (Foto Ricardo Stuckert/PR)

NESTA EDIÇÃO. Calibragem da resposta às tarifas dos EUA pode ter impactos sobre o mercado de combustíveis no Brasil. 

Opep vê Brasil entre os maiores impulsionadores de oferta e demanda de petróleo no mundo nas próximas décadas. 

Com bandeira vermelha, energia elétrica pesa na inflação de junho.

Governo publica decreto com alíquotas do IPI Verde; carros a gasolina vão pagar mais imposto que modelos a etanol.


EDIÇÃO APRESENTADA POR

A resposta do governo brasileiro ao anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que vai adotar uma taxa de 50% sobre todos os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto gera temores sobre os preços dos combustíveis

  • O presidente Lula (PT) indicou que pretende responder às tarifas unilaterais com base na Lei de Reciprocidade Econômica.
  • Sancionada em abril, a lei permite ao governo adotar medidas de retaliação comercial contra países que adotem barreiras a produtos nacionais.
  • O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou que o decreto regulamentador da lei da reciprocidade será publicado nos próximos dias.
  • O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), indicou que vê espaço para negociação, dadas as conversas estabelecidas com o país depois do anúncio das primeiras taxas, em abril. 

Também vai ser criado um comitê com empresários para avaliar a política comercial brasileira na relação com os EUA.

  • O governo Lula afirma que os impactos sobre a economia brasileira são reflexo de interferências políticas externas indevidas por parte de Trump, em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro. 

A calibragem da resposta pode ter sérios impactos sobre o mercado de combustíveis no país. 

  • O Brasil é dependente de derivados dos EUA, com destaque para o diesel e a gasolina.
  • Segundo a StoneX, 34% da importação brasileira de gasolina no primeiro semestre de 2025 veio dos EUA. O país também forneceu 24% do volume internalizado de diesel

Mais uma vez, o Brasil se encontra em um dilema devido à baixa capacidade de processamento: as refinarias brasileiras não são capazes de atender toda a demanda nacional por combustíveis. 

  • Por isso, a adoção de tarifas de retaliação vai aumentar os custos de importação dos combustíveis. 

Sem as importações dos EUA, o Brasil terá que recorrer a outros supridores, que têm custos logísticos e operacionais mais altos — caso da Europa e da Índia — ou são mais arriscados, como a Rússia.

  • O cenário tende a aumentar a pressão inflacionária nos preços e margens ao longo da cadeia de refino e distribuição, segundo o BTG Pactual

Entretanto, as perspectivas ainda são incertas, já que não há clareza se algum produto pode ficar isento das tarifas. 

  • As primeiras taxas dos EUA contra o Brasil, de 10%, deixavam de fora commodities.
  • Atualmente, o petróleo bruto é o principal produto exportado para os EUA.
  • Entretanto, caso o petróleo esteja sujeito às taxas dessa vez, os analistas indicam que não há risco estrutural para o escoamento da produção brasileira, pois é possível redirecionar as vendas para refinarias na China, Índia, Europa e no Oriente Médio. 

O Instituto Brasileiro do Petróleo e do Gás (IBP) pediu diálogo entre lideranças brasileiras e estadunidenses para encontrar uma solução diplomática.



Por outro lado, barril tem alívio. O Brent para setembro recuou 2,21%, a US$ 68,64 o barril, na quinta-feira (10/7), impactado pela nova rodada de tarifas impostas por Donald Trump.

  • O movimento ocorre em meio a informações sobre aumento de oferta pelos Emirados Árabes Unidos e a uma possível pausa no aumento da produção pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+).
  • Entretanto, o CEO da estatal Nigerian National Petroleum Company, Bayo Bashir Ojulari, afirmou que o país busca ampliar sua capacidade de produção. Ele salientou que qualquer decisão será tomada em conexão com a Opep+.

Petróleo brasileiro em alta. O Brasil está entre os maiores impulsionadores do aumento de oferta e demanda de petróleo no mundo nas próximas décadas, segundo relatório divulgado na quinta (10/7) pela Opep.

  • O país, que já é o oitavo maior exportador global da commodity, deve ver sua demanda saltar de 3,4 milhões de barris/dia em 2024 para 4,8 milhões de barris/dia em 2050, impulsionado principalmente pelo transporte rodoviário e pela aviação.

Inflação também na eletricidade. A energia elétrica residencial aumentou 2,96% em junho e foi o subitem que exerceu a maior pressão individual no IPCA, com uma contribuição de 0,12%, informou o IBGE na quinta-feira (10/7). A alta foi impulsionada pela entrada em vigor da bandeira tarifária vermelha patamar 1.

Renovação das concessões. O Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que a EDP Espírito Santo tem condições para renovar o contrato de concessão por mais 30 anos. A corte recomendou que a Aneel regulamente assuntos pendentes. É o primeiro processo de extensão entre as distribuidoras. 

  • O próximo passo para a extensão do contrato cabe ao Ministério de Minas e Energia (MME), que decidirá pela assinatura do acordo.

Opinião. Com a reforma no marco regulatório do mercado de GLP argentino, o país dá um passo relevante rumo à modernização do setor, ao mesmo tempo em que adota boas práticas internacionais que combinam liberalização com fundamentos operacionais sólidos, escreve Fabrício Duarte, o diretor executivo da Associação Internacional de Gás Liquefeito de Petróleo (AIGLP).

Edge multada. A diretoria da ANP rejeitou o recurso da Edge, proprietária do TRSP, e manteve a multa no valor de R$ 85 mil contra a empresa por iniciar a operação do terminal sem autorização da agência.

  • O terminal iniciou as atividades em abril de 2024, mas a licença de operação da ANP só foi dada em julho daquele ano, condicionada a não injeção de gás no Subida da Serra, gasoduto da Comgás. 
  • O relator, diretor Daniel Maia, afirmou que quando o TRSP entrou em operação existiam duas pendências que impediam a autorização, que só foram protocoladas em maio de 2024.

Revisão das tarifas. A Abegás defende que a revisão tarifária das transportadoras, prevista este ano, será uma oportunidade para “expurgar custos indevidos” das tarifas pagas pelos usuários. E pede, junto à ANP, a revisão integral da Base Regulatória de Ativos (BRA) da TAG e NTS.

  • As transportadoras, aliás, se preparam para lançar uma plataforma eletrônica de comercialização de gás, voltada para o mercado em geral. Será o próximo passo da Plataforma Eletrônica de Gás, que começa a rodar este mês uma nova versão, inicialmente voltada para compra e venda de molécula para fins operacionais.

Opinião: Encerramento de concessões de gás canalizado em estados como RJ, SP e MS pode ser oportunidade para modernizar regras e integrar o biometano à infraestrutura de distribuição, escreve Leonardo Campos Filho, o sócio-diretor da Siglasul Consultoria.

Carro Sustentável. Lula assinou na quinta (10/7) o decreto que regulamenta o programa Mover, instituindo o conceito de Carro Sustentável e estabelecendo nova tabela do IPI com incentivos fiscais para veículos mais eficientes e com menor impacto ambiental. 

  • Carros com emissão inferior a 83g de CO2 por quilômetro, compostos por mais de 80% de materiais recicláveis e montados no país terão IPI zerado.
  • Com o novo cálculo do imposto, carros a gasolina vão pagar uma tarifa maior que modelos a etanol no país. O IPI partirá de alíquota base de 6,3% e poderá sofrer acréscimos ou descontos, a depender de uma série de critérios de sustentabilidade ambiental.

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