Mulheres no setor de energia

Diversidade e equidade impulsionam a transição energética, defende chair do Cigre International

Para Solange David, ampliar a diversidade no setor elétrico é essencial para acelerar a inovação e enfrentar os impactos sociais da crise climática

A transição energética passa também por uma transformação social, com maior presença de mulheres em setores estratégicos da economia e, no setor elétrico, pela compreensão da diversidade como fator de inovação e eficiência, de acordo com a avaliação de Solange David, chair do Women in Energy no Cigre International.

Ela explica que a crise climática tem efeitos desproporcionais sobre mulheres, crianças e jovens, citando a “tragédia em Petrópolis” cujo número mortes muitas vezes concentra-se “numa determinada população de crianças e mulheres”, reflexo que, segundo ela, repete-se em outros locais do Brasil e do mundo.

“E por quê? Quais as razões? Porque as mulheres, muitas vezes, não estão nos locais de trabalho, estão nas suas residências, cuidando, às vezes, das crianças que não estão nas escolas e que, às vezes, deveriam estar”, disse ao estúdio eixos na sexta-feira (4/7), em entrevista durante a EVEx Brasil 2025, em Natal (RN). 

Para a chair do Women in Energy, esses impactos devem ser considerados em políticas públicas — especialmente sobre mulheres, crianças e jovens — e em projetos voltados ao aumento da participação feminina no mercado de trabalho, em especial no setor energético.  “É mais do que transição energética, é uma transição ecológica e climática”, defendeu. 

Acrescentando que a equidade de gênero vai além, inclusive, da questão social, e deveria ser pensada e implementada como estratégia econômica: “a força de trabalho masculina não é suficiente para atender tudo isso”, disse, referindo-se ao avanço da demanda por profissionais nas novas tecnologias para a transição.

Solange David afirma ainda que a maior presença das mulheres nos setores profissionais, além da economia, contribui também para o bem-estar das famílias e o desenvolvimento das regiões e países, inclusive no avanço tecnológico.

Com formação em Direito, a executiva defende a atuação feminina em áreas tradicionalmente masculinas como ciências, tecnologia e engenharia.

Ela cita projetos de incentivo à presença de mulheres nas chamadas carreiras STEM (sigla em inglês para ciência, tecnologia, economia e matemática) como caminho para ampliar o protagonismo feminino na transição energética. 

“As mulheres estão presentes em todos esses espaços e nessas áreas e desenvolvendo juntamente com todos os profissionais”, afirmou.

Solange também vê avanço na presença feminina em cargos de liderança em tecnologias emergentes. 

Ela mencionou a atuação de mulheres à frente da indústria brasileira de hidrogênio verde, da cadeia de captura e armazenamento de carbono (CCS) e do setor eólico offshore. 

“É a materialização de tudo que a gente está dizendo, ou seja, a qualificação feminina”, disse. E também fez referência à presidente da Abeeólica, Elbia Gannoum, atualmente enviada especial de Energia da COP30.

O papel do Cigre e da iniciativa Women in Energy

Com sede em Paris, o Cigre foi criado em 1921 para promover a integração de conhecimento técnico entre países na área de geração, transmissão e distribuição de energia, e, atualmente, reúne mais de 90 países. 

O Cigre Brasil replica essa estrutura desde 1971, com comitês de estudo e intercâmbio técnico entre profissionais e instituições do setor.

A iniciativa Women in Energy surgiu em 2014 no Cigre internacional com o objetivo de ampliar a participação das mulheres em um espaço historicamente dominado por homens, como a engenharia. 

“Nós até mesmo numa correspondência com uma realidade mundial social, precisamos integrar mais as mulheres nesta sociedade, que é uma sociedade que gera conhecimento, que gera trabalho, que produz resultados”, reforçou a chair.

O fórum, inicialmente voltado para engenheiras, passou a incluir mulheres de diversas áreas, como Direito, Economia, Administração e Jornalismo. Segundo Solange, a proposta é acompanhar movimentos globais por maior equidade nas atividades econômicas, como os programas da ONU voltados para energia e igualdade de gênero.

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