Em discurso na última sessão da cúpula do Brics no domingo (6/7), no Rio de Janeiro, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), criticou os incentivos dados pelo mercado à produção de petróleo e gás. Segundo ele, no ano passado, os 65 maiores bancos do mundo concederam 869 bilhões de dólares em financiamentos ao setor.
“Oitenta por cento das emissões de carbono são produzidas por menos de 60 empresas. A maioria atua nos setores de petróleo, gás e cimento. Os incentivos dados pelo mercado vão na contramão da sustentabilidade”, disse o presidente.
O presidente brasileiro destacou também que é preciso triplicar energias renováveis e duplicar a eficiência energética, uma vez que o aquecimento global ocorre “em ritmo mais acelerado que o previsto”.
Financiamento climático
Lula falou ainda sobre a Declaração-Quadro sobre Finanças Climáticas do Brics, que está sendo lançada nesta segunda-feira (7/7), que, segundo ele, “apresenta fontes necessárias e modelos alternativos para o financiamento climático“.
O Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que será lançado na COP30, em novembro, em Belém, é outra aposta de financiamento, ao remunerar serviços desses ecossistemas para o planeta, de acordo com Lula.
O presidente afirmou que, dez anos depois do Acordo de Paris, ainda faltam recursos para uma “transição justa e planejada”.
“Os países em desenvolvimento serão os mais impactados por perdas e danos. São também os que menos dispõem de meios para arcar com mitigação e adaptação”.
Marina afirma estar disposta a ‘superar contradições’
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (Rede), defendeu, no domingo (6/7), que é preciso planejamento para enfrentar as mudanças climáticas e promover a transição energética. Ao falar sobre os investimentos na exploração de combustíveis fósseis no país, a ministra afirmou que as “contradições existem no mundo inteiro, não só no Brasil”.
Marina concedeu entrevista durante a Cúpula do Brics, que ocorre entre este domingo e segunda (7), no Rio de Janeiro, sob a liderança do presidente Lula.
A ministra foi questionada por jornalistas sobre os projetos do governo e da Petrobras como a exploração de petróleo na Margem Equatorial do Brasil, extensa área marítima que vai do Rio Grande do Norte ao Amapá e onde o Rio Amazonas deságua no Oceano Atlântico.
“Nós vivemos um momento de muitas contradições, e o importante é que estamos dispostos a superar essas contradições”, disse.
“Em Dubai [na 28ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas – COP28, em 2023] nós assumimos o compromisso de fazer a transição para o fim de combustível fóssil, com países ricos liderando essa corrida, países em desenvolvimento vindo em seguida”, lembrou.
“E o que eu tenho dito é que é preciso que tenhamos uma espécie de mapa do caminho para essa transição. A pior forma de enfrentarmos uma situação adversa, e ela é adversa para todos, é não nos planejarmos para ela. Por isso que, muito corretamente, foi estabelecido que é uma transição justa e planejada”, acrescentou.
Por outro lado, Marina citou como exemplo o compromisso brasileiro de zerar o desmatamento até 2030, enquanto tem na agricultura o maior peso da sua balança comercial. “Já conseguimos reduzir desmatamento em 46%, na Amazônia, e em 32%, no país inteiro”, lembrou.
“E olha que coisa interessante, nós conseguimos reduzir desmatamento nessa quantidade, evitamos lançar mais de 400 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera e, ao mesmo tempo, a nossa agricultura cresceu 15% e nós tivemos um aumento da renda da per capita em mais de 11%, e o Brasil conseguiu abrir mais de 300 mercados para a sua agricultura”, destacou a ministra.