BRASÍLIA — Os cortes na geração de energia renovável no Brasil (curtailment) podem aumentar em 300% até 2035, segundo a consultoria Wood Mackenzie. A projeção é que o país deve adicionar 76 gigawatts (GW) em nova capacidade de geração solar e eólica terrestre na próxima década, mas enfrenta gargalos de infraestrutura para escoar essa energia.
Segundo o relatório, a taxa média de corte no Sistema Interligado Nacional (SIN) passará de cerca de 2% em 2025 para 8% em 2035. No submercado Nordeste, a situação é ainda mais crítica, com previsão de 11% de corte médio na geração — percentual que contrasta com os 2% projetados para o Sudeste/Centro-Oeste.
A curva crescente de curtailment ocorre mesmo diante da expansão da capacidade de transmissão entre Nordeste e Sudeste, que deve ultrapassar 30 GW até 2035.
O estudo destaca ainda a contribuição crescente, embora ainda modesta, dos sistemas de armazenamento em baterias a partir de 2031, com papel relevante para mitigar os cortes apenas a partir de 2033.
“Mesmo com 11 GW de nova transmissão previstos até 2029, os cortes continuarão crescendo exponencialmente”, afirma Marina Azevedo, analista sênior da Wood Mackenzie.
“O sistema elétrico não está acompanhando o ritmo da expansão das renováveis, especialmente durante o pico de geração solar, entre 8h e 17h”, acrescenta.
Além da limitação técnica da rede, o mercado enfrenta outros entraves, como o aumento das tarifas de importação sobre módulos fotovoltaicos, novas cobranças pelo uso do sistema de transmissão e incertezas regulatórias que desincentivam investimentos.
Muitos projetos estão em compasso de espera, aguardando definições sobre leilões e subsídios.
Papel das baterias e armazenamento
A Wood Mackenzie reforça que a transmissão, sozinha, não basta para conter o avanço dos cortes. A implantação de baterias e medidas de resposta à demanda serão fundamentais para evitar o desperdício de energia gerada — e, consequentemente, os prejuízos para geradores.
“Baterias vão permitir transformar energia desperdiçada em oportunidades de arbitragem, compensando as perdas financeiras dos geradores”, destaca Fernando Dorand, analista da consultoria.
A estimativa é que a partir de 2032 o armazenamento comece a ganhar escala no país, graças à queda de custos e ao avanço tecnológico.
A efetivação dessa solução, contudo, depende de incentivos regulatórios. A realização do leilão específico para armazenamento, atualmente em discussão, será crucial, na visão da consultoria. O adiamento do certame pode comprometer a viabilidade da implantação em larga escala, agravando os riscos de corte.