Em meio a conflitos geopolíticos de toda sorte, apostar na produção nacional de hidrogênio é reduzir riscos e garantir abastecimento energético e segurança para a indústria.
Toda vez que estoura um novo conflito bélico, a exemplo da guerra iniciada entre Israel e Irã, os olhos se voltam às cadeias de suprimento e aos riscos no fornecimento de matérias-primas e energéticos essenciais para a economia mundial.
A semana começa com o mercado prendendo o fôlego com a ameaça do Irã de fechar o Estreito de Ormuz após ataque dos EUA, o que levaria a uma forte alta do preço do barril de petróleo.
A Rystad Energy calcula que cerca de 12 milhões de barris de petróleo bruto são escoados diariamente pelo estreito. Com os produtos refinados, o volume chega a 20 milhões de barris/dia, o que representa quase um quinto da demanda global.
A região recebe boa parte da produção do Oriente Médio, incluindo GNL de grandes exportadores, como o Qatar e os Emirados Árabes.
Dependência de fertilizantes importados
Além do alerta no setor de óleo de gás, os fertilizantes também são alvos de preocupação.
A ureia está entre os insumos mais delicados do mercado. O Irã é o terceiro maior produtor e exportador global, com uma capacidade anual em torno de 9 milhões de toneladas, das quais entre 4,5 e 5,5 milhões são destinadas ao mercado externo.
O Brasil absorve cerca de 17% dessas exportações, como um dos principais compradores da ureia iraniana.
Após os ataques dos EUA, houve um aumento de 20% nos preços da ureia, refletindo o receio de uma possível interrupção nas exportações.
O mesmo risco — que não se confirmou — veio após o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia. Sendo a Rússia o maior fornecedor de fertilizantes nitrogenados do Brasil, que importa mais de 80% da sua demanda.
É uma alta exposição brasileira ao risco, mesmo tendo uma boa relação com a Rússia, especialmente, com o agronegócio sendo um dos principais responsáveis por equilibrar nossa balança comercial.
Em 2024, o Brasil importou US$ 8,3 bilhões em diesel em 2024, 65% vindo da Rússia. É certo que as importações neste caso, ajudaram a reduzir o preço do diesel no Brasil, mas a exposição ao risco externo permanece.
Sobretudo, se lembrarmos que o modal rodoviário é o principal meio de transporte no país, responsável por cerca de 65% das cargas movimentadas e quase 95% do transporte de passageiros, de acordo com a Pesquisa CNT de Rodovias.
Riscos de desabastecimento também incidem sobre a geração termelétrica. O Brasil já acendeu um alerta com a oferta insuficiente de gás natural da Bolívia que seja capaz de atender a demanda de termelétrica, hoje essencial para evitar o corte de energia, em meio à cenários de escassez hídrica.
Papel do hidrogênio na redução de riscos
As oscilações de preço, além de disponibilidade de oferta, seja de energéticos ou seus produtos derivados, poderiam ser balanceadas com a produção nacional de hidrogênio de baixo carbono.
No transporte rodoviário, na indústria, no agronegócio e na geração elétrica, o hidrogênio é um elemento que pode trazer resiliência e segurança em momentos de crise.
Em Macaé, no Rio de Janeiro, e em Guarulhos, São Paulo, já existem testes de ônibus urbanos a hidrogênio, em substituição à frota de diesel.
Além da utlização direta do hidrogênio no transporte, ele também é matéria-prima para um séria de combustíveis sustentáveis, seja para o modal rodoviário, seja para o transporte marítimo e aéreo.
Térmicas a gás natural, em operação no Brasil, já possuem turbinas com capacidade de até 50% para funcionar com hidrogênio. Outras 100% a hidrogênio tentam participação no leilão de capacidade de reserva.
Plantas de produção de fertilizantes nitrogenados a partir de hidrogênio verde também já foram anunciadas. Duas delas em Uberaba, Minas Gerais.
Conflitos e desafios geopolíticos continuarão existindo.
É preciso entender que o hidrogênio, para além do valor descarbonizante em vários elos da economia, deve ter sua importância reconhecida também como um instrumento de segurança de mercado e soberania industrial.
E isso se intensifica se olharmos o potencial de produção de hidrogênio no Brasil a partir da eletrólise e da biomassa e do etanol, que juntamente com os biocombustíveis, formaria um portfólio essencial capaz de dar mais previsibilidade e tranquilidade à indústria nacional, em substituição parcial das importações.
E com isso, ainda tornar o Brasil um polo de atração de novas indústrias de olho nesta qualidade.