A JBS, líder mundial no setor de proteína, se comprometeu a zerar suas emissões de gases causadores do efeito estufa (GEEs) até 2040 e investir US$ 1 bilhão, nos próximos dez anos, em soluções para alcance da meta.
O anúncio feito na semana passada vem após um 2020 complicado para a companhia, que perdeu investimentos de um dos maiores fundos do mundo após denúncias de supostamente comprar gado proveniente de áreas ligadas ao desmatamento da Amazônia.
A companhia prometeu que até 2025 toda sua cadeia de fornecedores de gado – incluindo os fornecedores de seus fornecedores – será livre de desmatamento ilegal na Amazônia. Nos demais biomas brasileiros a meta é até 2030.
Parte dos US$ 1 bilhão em investimentos será aportado na melhoria de práticas agrícolas e desenvolvimento de tecnologias de sequestro de CO2, reflorestamento e restauração florestal.
Além dos recursos do Fundo JBS pela Amazônia, lançado pela empresa em setembro do ano passado, que prevê contribuição de R$ 250 milhões nos próximos cinco anos em iniciativas na Amazônia.
Em reunião com acionistas, o CEO da companhia, Gilberto Tomazoni, disse que todas as ações da JBS já passam pela lente da sustentabilidade.
“Colocamos a sustentabilidade no centro de nossa estratégia. Essa foi uma visão estratégica que nos levou a um compromisso público global”, afirmou Tomazi.
“O Fundo pela Amazônia, que visa o desenvolvimento financeiro sustentável das comunidades locais com iniciativas de reflorestamento, bioeconomia e desenvolvimento tecnológico, está a todo vapor. Já selecionamos o primeiro projeto para essas iniciativas”, concluiu.
Além do Brasil, as ações da JBS incluem suas atividades em países da América do Sul, América do Norte, Europa, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia. A companhia também vai aderir ao RE 100, convertendo completamente suas operações para 100% de eletricidade renovável até 2040, segundo os planos anunciados.
A empresa prometeu fornecer atualizações anuais sobre seu progresso e divulgar seus riscos financeiros ligados à mudança do clima, baseados na iniciativa TCFD – Task Force on Climate-related Financial Disclosure.
“Já estamos investindo na economia circular para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e aumentar nossa competitividade em todas as fábricas de plástico reciclado, fertilizantes manufaturados e biodiesel, utilizando resíduos industriais como principal matéria-prima”, explicou Tomazi.
Histórico
Em julho do ano passado, o fundo finlandês Nordea retirou todos os seus investimentos da JBS, cerca de € 40 milhões, com base no histórico ambiental da empresa e na resposta à pandemia da covid-19.
Com cerca de € 220 bilhões sob sua gestão, sendo 30% desse montante com foco em ESG, o fundo tomou a decisão após falta de transparência e diálogo da companhia.
“A JBS era de longe o mais problemático (dos frigoríficos brasileiros) por diversas razões, tem desafios em várias dimensões ESG. (…) Tentamos ter um diálogo e com a JBS foi difícil porque não houve muito entusiasmo da parte deles. Então decidimos vendê-la”, afirmou na ocasião o chefe de investimentos do Nordea, Eric Pedersen, em entrevista ao O Eco.
Em reposta a JBS disse que “todos os seus instrumentos de governança são rígidos e têm sido aprimorados e evoluído de forma robusta nos últimos anos. A JBS também está totalmente comprometida com a erradicação do desmatamento em toda sua cadeia de fornecimento”.
No mesmo mês, a Anistia Internacional lançou o relatório Da floresta à fazenda (no original, From Forest to Farmland), resultado de seis meses de investigação de uma equipe internacional da ONG que encontrou indícios de que a carne vendida em supermercados com o selo da JBS era proveniente de bovinos criados ilegalmente em áreas protegidas da Amazônia.
Segundo o relatório, a JBS comprou de fornecedores indiretos gado de uma área dentro da Reserva Extrativista Rio Ouro Preto, unidade de conservação federal. A empresa também teria comprado gado de fazendas em terras indígenas da Reserva Rio Jacy-Paraná e da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau.
“Há indicações de que esses agricultores podem ter empregado a prática de lavagem de gado (transferência de gado entre fazendas intermediárias para dar aparência de legalidade aos animais) para burlar os sistemas de monitoramento existentes e vender gado criado nessas áreas protegidas à JBS”, dizia o relatório.
A JBS respondeu por meio de nota que “não compra gado de nenhuma fazenda envolvida com irregularidades em áreas protegidas”.
Pouco depois, em agosto, a rede de supermercados Tesco do Reino Unido suspendeu a compra de carnes da JBS após pressão de consumidores britânicos e ONGs ambientais.
O Greenpeace internacional também havia lançado o relatório How JBS is still slaughtering the Amazon (Como a JBS continua devorando a Amazônia, em tradução livre), denunciando que a empresa brasileira não estava cumprindo com a promessa feita, há mais de dez anos, em garantir que seus produtos não sejam originários de áreas desmatadas.
O relatório também descrevia a diminuição da transparência da JBS em relação à origem de seus fornecedores. Segundo o Greenpeace, “a companhia tem retrocedido de forma sistemática na oferta de informações sobre seus fornecedores diretos nos canais próprios de comunicação institucional”.
Na época, a JBS reafirmou seu compromisso com o fim do desmatamento em toda a sua cadeia de suprimentos, dizendo que vinha liderando “ o setor em medidas para aprimorar a rastreabilidade da cadeia de suprimentos” .