BRASÍLIA — O Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) assinaram contrato nesta terça-feira (17/6) para o desenvolvimento do projeto de microrreatores nucleares (MRN, também conhecido pela sigla em inglês SMR) brasileiro.
O investimento será de R$ 50 milhões, sendo R$ 30 milhões via Finep e R$ 20 milhões da empresa Diamante Geração de Energia, que é a proponente do projeto. O desenvolvimento inclui, ainda, duas coexecutoras: a Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e a Terminus Pesquisa e Desenvolvimento de Energia. Também fazem parte nove instituições científicas e tecnológicas (ICTs), sendo quatro universidades e cinco institutos de pesquisa.
A Diamante Energia, dona do complexo termelétrico Jorge Lacerda, em Santa Catarina, vê oportunidades na indústria nuclear para a transição energética das usinas a carvão. Uma das alternativas apontadas pelo presidente da empresa, Pedro Litsek, está nos pequenos reatores.
“Quando nós convidamos o almirante Bento Albuquerque para visitar o complexo Jorge Lacerda, a primeira coisa que ele nos disse foi que ali seria o local ideal para a instalação de um pequeno reator modular. Foi ali que tivemos o primeiro olhar essa tecnologia e estamos fazendo estudos de viabilidade para a instalação dos SMRs no nosso programa”, disse Litsek.
Atendimento a sistemas isolados
Uma das utilidades reforçada pela ministra de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos (PCdoB/PE) , foi o atendimento a sistemas isolados pelos microrreatores.
“Esses equipamentos podem revolucionar a forma como a energia nuclear é utilizada, com uma pequena pegada de carbono, alta segurança e facilidade de transporte. São capazes de levar energia limpa a regiões remotas, mas também atenderá à indústria, data centers e até mesmo infraestruturas de carregamento de veículos elétricos”, enumerou a ministra.
O uso para atender sistemas isolados vinha sendo levantado pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD/MG), desde o lançamento do programa Energias da Amazônia, em 2023.
A ideia é substituir geradores à diesel nessas localidades pelos microrreatores. A operação com diesel na Amazônia enfrenta dificuldades logísticas, como a sazonalidade dos rios – o que afeta a navegabilidade – e de armazenamento.
“O Brasil com tanto investimento em eólica e solar, que são energias intermitentes, passa pela necessidade da estabilização do seu sistema. E como é que nós vamos fazer isso? Com as nossas térmicas, em especial, as nossas térmicas a urânio, que é um combustível que nós temos em abundância”, defendeu Silveira em maio, após voltar de viagem com Lula à Rússia.
Pequenos reatores para reduzir emissões
Em maio de 2024, a Petrobras iniciou pesquisas sobre a possibilidade de uso de pequenos reatores nucleares como fonte de eletricidade de baixo carbono para as atividades de produção de petróleo e gás. A companhia tem ampliado esforços nos últimos anos para reduzir as emissões nas operações, de modo a ganhar competitividade em meio à transição energética com a extração de um petróleo com menos emissões associadas.
Também em 2024, a estatal brasileira Nuclep e a empresa russa Rosatom assinaram um acordo de confidencialidade, visando à cooperação para a geração de energia nuclear offshore no Brasil, a partir dos SMRs.
A Associação Brasileira do Hidrogênio (ABH2) também tem feito esforços para destravar novas oportunidades para o hidrogênio de baixa emissão de carbono, com destaque para os pequenos reatores modulares. A entidade firmou um memorando de entendimento com a Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan) para integrar esforços entre os setores nuclear e de hidrogênio.