RIO — Atores de uma disputa societária pelo mega bloco de óleo e gás de Stabroek, na Guiana, Chevron e ExxonMobil protagonizaram nesta terça-feira (17/6) um embate também por áreas exploratórias na Bacia Foz do Amazonas, no Brasil — onde geólogos apostam haver um potencial de reservas semelhante ao do país vizinho.
A disputa entre as duas petroleiras estadunidenses na Guiana, que já se desdobrou para uma arbitragem internacional, transbordou para o lado de cá da fronteira, durante o 5º Ciclo de Oferta Permanente de Concessões da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
As duas estiveram em lados opostos nos consórcios que participaram do leilão — e a Chevron se saiu vencedora, ao desbancar, em sociedade com a chinesa CNPC, o consórcio ExxonMobil/Petrobras em todos os sete blocos em que os dois lados competiram.
- Ao todo, a Chevron encerrou o leilão tendo arrematado nove áreas exploratórias na região;
- Já a ExxonMobil ficou com dez blocos, todos em parceria com a Petrobras e sendo cinco deles como operadora.
Disputa envolve aquisição da Hess pela Chevron
A disputa entre as majors na Guiana começou quando a Chevron apresentou uma proposta pela compra da Hess, no contexto do movimento de consolidação das petroleiras independentes dos Estados Unidos.
A aquisição marcaria a entrada da Chevron na Guiana, já que a Hess detém 30% do bloco Stabroek, com 11 bilhões de barris de óleo equivalente recuperáveis descobertos.
Sócias da Hess na área, ExxonMobil e CNOOC questionaram o negócio. Alegam que, em caso de transferência de controle, elas têm o direito a adquirir a fatia da Hess no bloco.
Isso porque uma cláusula no contrato permite bloquear a transferência de controle e exercer o direito de preferência em caso de venda do ativo ou mudança de um dos sócios.
Chevron e Hess entendem de outra forma e afirmam que a operação, da forma como foi concebida, não se encaixa na cláusula.
A disputa foi parar em arbitragem, então, em 2024, na Câmara Internacional de Comércio (ICC), em Paris.
Sucesso na Guiana atrai olhos para o Brasil
As grandes descobertas na Guiana na década passada foram fundamentais para o interesse pela Bacia da Foz do Amazonas, na avaliação da diretora de Estudos do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Heloísa Borges.
“Todas as empresas que entraram, fora a Petrobras, já estão na Guiana. Então a gente imagina que elas também estão confiantes com o potencial do Brasil”, disse em entrevista à agência eixos.
Borges destacou que as áreas arrematadas no leilão desta terça-feira estão na região em que a EPE mapeou potencial para 6 bilhões de barris de reservas recuperáveis.
“Quando se tem os poços e as descobertas, isso permite que a gente reinterprete as informações no Brasil. Cada sucesso exploratório na Guiana permite aprender mais sobre o Brasil e de forma mais certeira ficar mais confiante no potencial daquela bacia”, afirmou.
Sem produzir nenhuma gota de petróleo até 2019, a Guiana conseguiu atrair investimentos acelerados. As suas descobertas foram desenvolvidas em menos de uma década e o país caminha para atingir a produção de 1 milhão de barris/dia antes de 2027.
A diretora-geral interina da ANP, Patrícia Baran, ressaltou que há semelhanças nas formações geológicas da Guiana e da Bacia da Foz do Amazonas.
“Isso aumenta a confiança dos agentes em encontrar de fato áreas a serem desenvolvidas economicamente”, afirmou à agência eixos. (veja na íntegra)
Outro fator considerado positivo foram as sinalizações de avanço no processo de licenciamento da Petrobras para perfurar o primeiro poço em águas profundas na Bacia da Foz do Amazonas.