Diversidade será um elemento para compensar retrocessos causados pela pandemia

Novos empregos, velhos padrões. Na imagem: Mulher trabalha em parque eólico na África do Sul (Foto: Global Wind Energy Council)
Trabalhadora em parque eólico na África do Sul (Foto: Global Wind Energy Council)

Além da catástrofe sanitária, a pandemia da covid-19 aumentou ainda mais as desigualdades socais de gênero e raça no mercado de trabalho. Apesar do retrocesso, a diretora executiva do Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), Cristina Pinho, acredita que a agenda ESG deve acelerar a inclusão e a diversidade nas empresas do setor.

“Nós involuímos em vários aspectos da defesa da mulher, dos poderes da mulher na sociedade brasileira nessa pandemia. Mas no aspecto das nossas empresas, haverá sim uma evolução rápida por conta da agenda ESG, do bolso que vai doer, do dinheiro caro para os investidores”, afirmou a diretora durante webinar da Rio Oil and Gas.

No Brasil, as mulheres correspondem atualmente por apenas 36% dos cargos gerenciais e ganham o equivalente a 77% do rendimento dos homens. A indústria de óleo e gás não foge à regra. O setor fornecedor tem a menor porcentagem de mulheres em cargos sênior da indústria, apenas 7%.

“O fortalecimento do ESG no atual cenário de incertezas e desafios reforça a importância da dimensão social e desdobramentos em prol da igualdade de gênero, raça, orientação sexual para resiliência das empresas”, disse Cristina Pinho.

Além do gênero, a desigualdade racial agrava ainda mais esse quadro. De acordo com Luanda Botelho, analista de indicadores sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), “todos os indicadores são ainda piores em relação às mulheres pretas ou pardas”.

“Menos da metade de mulheres pretas ou pardas com criança pequena em casa estava trabalhando, enquanto para mulheres brancas esse percentual ficou e 62,9%”, exemplificou Botelho.

A Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio (Pnad Contínua), do IBGE, demonstrou que a pandemia tirou 8,5 milhões de mulheres do mercado de trabalho no terceiro trimestre de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019.

“Mesmo que as mulheres sejam mais escolarizadas que os homens, elas ainda têm maior dificuldade para participar do mercado de trabalho (…) E mesmo quando conseguem fazer a transição do ambiente doméstico para o mercado de trabalho, elas encontram dificuldades de conseguir e manter um posto”, explica Luanda.

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Uma pesquisa (.pdf) realizada no ano passado pelas organizações Gênero e Número e Sempreviva Organização Feminista, revelou que 50% das mulheres entrevistadas passaram a cuidar de mais uma pessoa durante a covid-19.

Já o Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), publicou em fevereiro desse ano, levantamento em que 40,5% das mulheres entrevistadas apresentavam sintomas de depressão, 34,9%, de ansiedade e 37,3% de estresse.

“Nós mulheres ainda estamos vivendo esse período pandêmico tão extenso. E está tudo confuso. Muitas mulheres estão com potencial de burn out, ou já tiveram”, acredita Anna Carvalho, diretora da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Petróleo (Abespetro) e executiva da Expro.

Ela afirma que o setor de óleo e gás é um ambiente machista e que apesar da pandemia ter freado a inclusão de mulheres no setor, a tendência é que o cenário se transforme no médio prazo.

“O setor petrolífero é bem machista (…) O fornecedor ao ser prestador de serviços precisa ver que esse percentual mínimo de liderança feminina precisa ser trabalhado. Se isso vai mudar a curto prazo, eu acredito que não. Mas a médio prazo eu não tenho a menor dúvida”, conclui.

Além de conciliar a vida profissional com as tarefas domésticas, as mulheres ainda enfrentam outro desafio, a violência e o assédio no ambiente profissional. Anna Paula Duarte, diretora da Schlumberger, defende a necessidade de acolhimento dessas mulheres após a contratação.

“Existem várias empresas, como a minha, que a meta de contratação é de 50, 60% do sexo feminino (…) Porém, mais do que a cota de entrada, temos que criar as condições para essas profissionais se desenvolverem”, afirma a diretora.

“Diversidade não é bom porque é só legal, politicamente correto… ela realmente afeta nos números, na produtividade, e na inovação. Um empresa diversa é muito mais inovadora”, defende Anna Paula.