IRA em xeque

Instituto Americano do Petróleo pede manutenção de subsídios ao hidrogênio limpo nos EUA

Empresários pedem que os subsídios ao hidrogênio limpo, previstos na Lei de Redução da Inflação, continuem em vigor até 2029 

Presidente Donald Trump assina ordens executivas para apoiar a indústria do carvão durante evento 'Unleashing American Energy', em 8 de abril de 2025 (Foto Casa Branca)
Donald Trump assina ordens executivas para apoiar a indústria do carvão durante evento 'Unleashing American Energy' (Foto Casa Branca)

RIO — Mais de 250 empresas e entidades do setor de energia e indústria — incluindo o Instituto Americano do Petróleo (API, na sigla em inglês) — enviaram na quinta (5/6) uma carta ao Congresso dos Estados Unidos pedindo a manutenção dos incentivos fiscais ao hidrogênio de baixo carbono.

Endereçada ao líder da maioria no Senado, John Thune, e ao presidente do Comitê de Finanças, Mike Crapo, a carta pede que os subsídios ao chamado hidrogênio limpo, previstos na Seção 45V da Lei de Redução da Inflação (IRA) continuem valendo pelo menos até 31 de dezembro de 2029. 

O setor teme que a revogação antecipada do incentivo, aprovada pela Câmara no mês passado como parte de um pacote fiscal, afugente investimentos bilionários em infraestrutura e enfraqueça a liderança americana na corrida global pelo hidrogênio.

A indústria de óleo e gás, que já defendia os incentivos do 45V para o hidrogênio, chegou a apoiar a iniciativa do Congresso dos EUA.

Segundo o presidente do Instituto Americano de Petróleo, a revisão dos incentivos e políticas do IRA ajudava “a restaurar o domínio energético norte-americano”, especialmente em relação ao fim da “taxa do metano” e garantia de avanços na obtenção de novas licenças de exploração.

Entretanto, como signatário da nova carta, o Instituto reforça seu apoio à manutenção do 45V.

“O crédito 45V é essencial para alcançar os objetivos da administração Trump de dominação energética global, geração de empregos e independência energética”, afirma o documento, que reuniu apoio de diferentes segmentos, incluindo energia fóssil, nuclear, renovável, indústria química e transporte.

Entre os apoiadores da medida estão também a Associação Americana de Gás, a Câmara de Comércio dos EUA, a Citizens for Responsible Energy Solutions (CRES), além de hubs regionais de hidrogênio como o HyVelocity (Texas) e o ARCHES (Califórnia).

Corrida global com a China

Um dos argumentos da carta é que sem o 45V, os EUA perderiam espaço para a China, que vem acelerando sua estratégia para dominar a cadeia global de fornecimento de hidrogênio e equipamentos com eletrolisadores. 

Segundo os signatários, enquanto em 2020 a China detinha menos de 10% da capacidade de fabricação global de tecnologias de hidrogênio, hoje já responde por mais de 60%.

“Não agir agora, preservando o 45V, significa ceder o futuro do hidrogênio à China”, afirmam na carta.

“Enquanto os Estados Unidos debatem seu compromisso, a China executa uma estratégia abrangente e coordenada para dominar a cadeia global de suprimentos de hidrogênio (…) Se os Estados Unidos recuarem na produção de 45V, correm o risco de repetir o caminho de outros setores — onde a China conquistou a liderança global”. 

Impacto econômico

O documento ressalta ainda que o incentivo fiscal representa uma “extraordinária relação custo-benefício” para o governo americano.

Eles citam estimativas do Joint Committee on Taxation, apontando que o custo total do crédito 45V seria de US$ 9,2 bilhões em dez anos, menos de US$ 1 bilhão por ano, frente a mais de US$ 40 bilhões em investimentos em projetos de hidrogênio em desenvolvimento apenas no Texas e na Louisiana. 

Os signatários pontuam que os sete hubs regionais selecionados por meio da lei de infraestrutura bipartidária já têm ao menos US$ 4-5 bilhões em investimentos privados comprometidos, mas “desde que o 45V permaneça em vigor

Eles ainda mencionam uma análise recente da Citizens for Responsible Energy Solutions (CRES), que demonstram que estes projetos poderiam gerar 60 mil empregos por ano em todo o país entre 2025 e 2035 e gerar mais de US$ 12 bilhões em PIB anualmente. 

Ameaça ao setor

A decisão da Câmara de antecipar o fim do 45V para dezembro de 2025 foi vista como uma ameaça ao futuro da indústria de hidrogênio no país, sobretudo diante do tempo necessário para estruturar grandes projetos industriais. 

“Manter o início da construção do programa 45V até pelo menos 31 de dezembro de 2029 permitiria a pista mínima necessária para os ciclos de desenvolvimento plurianuais que esses projetos exigem. Qualquer coisa menos que isso colocaria bilhões em investimentos comprometidos — e dezenas de milhares de empregos — em risco”, completa.

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