O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reforçou nesta sexta-feira (6/6), durante discurso na Universidade de Paris 8, que a ausência de uma regulação das redes digitais interessa apenas às grandes corporações.
Lula disse que também é necessário criar uma governança sobre o uso da inteligência artificial (IA). Ele contou que a Cúpula dos Brics, que será realizada em junho, no Brasil, irá adotar uma declaração conjunta sobre IA.
“As oportunidades que se abrem com a inteligência artificial são ilimitadas, mas os riscos não são menores”, afirmou o presidente brasileiro, logo após receber o título de doutor honoris causa da universidade pública em Saint Denis, município da região metropolitana de Paris.
Em seu discurso, Lula defendeu a educação como forma de transformação social e afirmou que as pessoas mais pobres devem ter o direito de escolher qual carreira e curso querem fazer.
“Muitos escolhem o que fazer querem. Mas muitos outros não têm o direito de escolher o que estudar porque ‘nasceram para ser pobres’. Não é normal a gente aceitar a ideia de que há pessoas que nasceram para ser pobres”, disse Lula.
“No meu país, a filha de uma empregada doméstica pode disputar um banco da universidade com a filha da patroa de sua mãe. Só o Estado pode garantir oportunidade para todo o mundo”, disse Lula, mencionando os programas ProUni e Fies.
O Brasil é um país que poderia ser muito mais desenvolvido se, no passado, uma política de elite tivesse feito o necessário para isso, afirmou. “Tento imaginar que tipo de elite tinha o Brasil que não levava em conta a necessidade de educar seu povo para tornar o país competitivo em termos de indústria, comércio”, disse Lula.
O presidente declarou que planeja criar uma universidade para os indígenas e outra externa para esportes, a exemplo da Universidade de Integração Latino-Americana (Unila), atualmente criticada por parlamentares da oposição por ter desempenho abaixo da média nacional.
Em seu discurso, Lula afirmou também que é preciso investir mais na educação em período integral, ampliar o currículo escolar, abrangendo temas como a crise climática.
“É preciso colocar mais ensino da vida real para que todos aprendam a cuidar do meio ambiente”, disse, acrescentando que o governo tem a meta de, até 2030, ter 80% das crianças do ensino fundamental já alfabetizadas no segundo ano. “A educação é a ferramenta mais poderosa para solucionar os homens sociais”.
Genocídio em Gaza
Um exemplo do que fez na quinta-feira (5/6) durante coletiva à imprensa, Lula reafirmou sua indignação sobre a guerra na Ucrânia e o genocídio em Gaza. “A intolerância e o extremismo corroem a confiança das instituições”, disse.
Ele repetiu que defender a educação também é uma forma de resguardar valores da democracia. “A extrema direita usa o mesmo método das ditaduras no século passado que é atacar estudantes e professores. A extrema direita tem medo da educação porque sabe que está lá onde nasce a consciência”, disse.
O presidente disse se sentir honrado em receber o título de doutor honoris causa, assim como recebeu a professora e pesquisadora brasileira, Marilena Chauí. “A homenagem de hoje não é só um reconhecimento pessoal.”
“Tenho certeza de que esse título é muito mais uma homenagem à capacidade de resistência do povo brasileiro do que a qualquer outra coisa que eu tenha feito pelo país”, afirmou.
* Por Karla Spotorno. A jornalista foi convidada da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg).