Minerais estratégicos

Câmara de Comércio dos EUA defende cooperação com Brasil para minerais críticos 

Amcham Brasil e U.S. Chamber of Commerce destacam riscos da concentração da cadeia de minerais na China

Montadoras Volkswagen e BYD disputam lítio no Brasil; entenda o que está em jogo com aquisição da Sigma Lithium. Na imagem: Contêineres içados despejam grande volume de lítio em embarcação para exportação (Foto: Divulgação Sigma Lithium)
Exportação de lítio extraído no Vale do Jequitinhonha (MG) para a China (Foto: Divulgação Sigma Lithium)

RIO — A Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) e a U.S. Chamber of Commerce entregaram nesta quinta (5/6) aos governos brasileiro e norte-americano uma proposta conjunta de cooperação estratégica para o fortalecimento da cadeia de minerais críticos.  

O plano propõe uma aliança pragmática entre os dois países para diversificar a cadeia de suprimentos de minerais essenciais à transição energética, como nióbio, grafite, níquel e terras raras — que terão um aumento exponencial de demanda nos próximos anos, mas cuja produção e beneficiamento estão muito concentrados na China.

O documento, entregue aos representantes de ambos os países, destaca que a China responde por cerca de 70% do refino global de 19 dos 20 minerais considerados estratégicos. 

“Até 2030, projeta-se que apenas um país controle o processamento de 46% do cobre, 57% do lítio, 74% do cobalto, 77% das terras raras e 93% do grafite”, alertam as câmaras de comércio. 

A avaliação das entidades é que a falta de diversificação pode representar um risco para a segurança econômica e tecnológica do Brasil e Estados Unidos.

“O crescimento econômico e a resiliência do Brasil e dos Estados Unidos dependem da segurança no fornecimento desses minerais e do domínio de tecnologias que agreguem valor ao longo de toda a cadeia produtiva”, afirma a proposta.

O Brasil é apontado como um fornecedor estratégico de matérias-primas minerais — com a maior reserva mundial de nióbio, a segunda maior de grafite e terras raras, e a terceira de níquel — enquanto os Estados Unidos detêm maior capacidade industrial para processamento e desenvolvimento tecnológico.

“O Brasil é um player global na mineração (…) No entanto, exceto no caso do nióbio, o país ainda não é um grande processador mineral. Os Estados Unidos, por sua vez, possuem menores volumes de reservas, mas contam com empresas capacitadas no desenvolvimento de tecnologias de processamento e incentivos para reduzir a dependência de fornecedores únicos”, completa. 

Para Abrão Neto, CEO da Amcham Brasil, o Brasil está estrategicamente posicionado para se consolidar como um parceiro confiável na diversificação das cadeias globais de suprimento. 

Cinco propostas

As organizações empresariais apontam cinco frentes prioritárias de cooperação. Entre elas, a criação de um plano conjunto com metas para mapeamento geológico, pesquisa e desenvolvimento, rastreabilidade, financiamento e cooperação regulatória.

Também sugere o mapeamento geológico do solo brasileiro em conjunto com os serviços geológicos dos dois países; e um acordo entre BNDES, DFC (U.S. International Development Finance Corporation) e Exim Bank para financiamento de projetos de extração e processamento mineral.

Além disso, o documento propõe a conexão entre empresas brasileiras e norte-americanas na atividade mineral, e a adoção de padrões internacionais de responsabilidade socioambiental, com foco em inclusão e desenvolvimento local.

“Nossa proposta é mutuamente benéfica para ambas as nações e contribuirá para impulsionar a inovação e o crescimento (…) É uma oportunidade de aproveitar o potencial de ambos os países por meio de uma agenda estratégica e pragmática”,  afirmou Marty Durbin, vice-presidente sênior de Políticas da Câmara de Comércio dos EUA. 

Parcerias anteriores

A cooperação em minerais críticos já havia ganhado impulso no fim do governo de Joe Biden.

Durante a Cúpula de Líderes do G20, realizada em novembro de 2024 no Rio de Janeiro, os presidentes Lula e Biden anunciaram a criação da “Nova Parceria Brasil-EUA para a Transição Energética”, que incluia o fortalecimento da cadeia de suprimento de tecnologias limpas — com destaque para minerais estratégicos.

O acordo previa colaboração bilateral em energia limpa, industrialização verde e incentivo ao financiamento conjunto de projetos sustentáveis. 

Antes disso, também houve um aporte de cerca de US$ 150 milhões por meio da Mineral Security Partnership (MSP), iniciativa liderada pelos EUA, para viabilizar um projeto de exploração e beneficiamento de terras raras no Brasil, em 2024.

No entanto, com a volta de Donald Trump à presidência norte-americana, existem dúvidas sobre a continuidade dessa aproximação com o Brasil no tema dos minerais críticos. 

O republicano tem adotado uma postura mais protecionista em relação à cooperação multilateral, e um desmonte de políticas de combate às mudanças climáticas. 

Por outro lado, recentemente, Trump assinou decretos sobre o tema, que determinam a  identificação de minerais críticos podem ser extraídos do fundo do mar, prevendo parcerias com outros países, e a aceleração de licenças para a exploração doméstica desses recursos em terra.

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