diálogos da transição

Clima, plástico e mineração pressionam oceanos

Economia oceânica contribui com cerca de 11% das emissões globais de gases de efeito estufa e também está refém da crise do clima

ONU adota primeiro tratado do mundo para proteger a biodiversidade em alto mar. Na imagem: Quatro navios de carga transitam no oceano azul (Foto: Pixabay)
(Foto: Pixabay)

NESTA EDIÇÃO. Políticas para descarbonizar o transporte marítimo podem reduzir o impacto climático do setor, mas precisam mitigar riscos para países em desenvolvimento.

Ao mesmo tempo, é preciso lidar com a poluição plástica e com uma corrida por minerais de transição que ameaça chegar ao fundo do mar.


EDIÇÃO APRESENTADA POR

Políticas para descarbonizar o transporte marítimo e iniciativas de portos verdes devem reformular os custos comerciais, a logística e a competitividade do setor, mas os impactos correm o risco de ser desproporcionais para países com acesso limitado a financiamento e tecnologias.
 
Este é um dos alertas da agência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad) em seu mais recente relatório sobre o comércio global.
 
O documento (.pdf) foi publicado às vésperas da Conferência dos Oceanos da ONU (UNOC3), com uma lista de recomendações para as discussões que ocorrerão em Nice, na França, na próxima semana – e devem contar com a participação do presidente Lula (PT).
 
Em questão está o impacto do clima sobre a economia oceânica e vice-versa
 
Ao mesmo tempo em que o ecossistema marinho apoia a biodiversidade, regula o clima e sustenta a segurança alimentar, o emprego e o crescimento econômico, a economia azul – que atingiu o recorde de US$ 2,2 trilhões em 2023 – também tem contribuído para a crise climática.
 
De acordo com a ONU, o setor contribui para pelo menos 11% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE), a maior parte relacionada ao turismo (4%) e ao transporte (3%). 
 
Fora a contribuição para as mudanças climáticas, a sobrepesca, a poluição e o subinvestimento colocam em risco os recursos naturais de meios de subsistência de mais de 600 milhões de pessoas que dependem da pesca.
 
A indústria de transporte está atenta ao seu impacto: em abril, os países membros da Organização Marítima Internacional (IMO) chegaram a um acordo sobre um mecanismo para induzir a substituição de combustíveis fósseis nas embarcações por alternativas de menor impacto.
 
A intenção é ser net zero em 2050 ou próximo disso, ajudando a mitigar a crise climática.
 
Mas o documento desta quarta (4/6) indica que alcançar esses objetivos vai demandar significativos investimentos, transferência de tecnologia e apoio a economias em desenvolvimento – gargalos históricos em negociações de acordos.



A poluição plástica também está na ordem do dia. Os polímeros produtos da petroquímica representam cerca de 80% da poluição oceânica.
 
A estimativa é que entre 75 e 199 milhões de toneladas de plástico já estejam presentes no oceano, com um adicional de 8 a 10 milhões de toneladas entrando a cada ano. 
 
“De grandes manchas de lixo a microplásticos, essa poluição representa sérias ameaças aos ecossistemas marinhos e à saúde humana, com microplásticos cada vez mais presentes em peixes”, diz a Unctad.
 
Mas apesar desses riscos, as exportações de materiais plásticos e produtos à base de plástico atingiram o recorde de US$ 1,2 trilhão em 2022, representando quase 4% do comércio global, critica. 
 
Outro ponto abordado no documento é a mineração submarinaO tema é controverso e tem usado o argumento da transição energética e sua fome por minerais críticos para se justificar.
 
Mas os opositores apontam que os prejuízos ambientais não compensam os supostos ganhos com energia renovável. 
 
“O interesse geopolítico no acesso a minerais essenciais está renovando a atração governamental e empresarial pela mineração em águas profundas”, destaca.
 
“Como um todo, a mineração submarina provavelmente afetará significativamente os delicados ecossistemas e os serviços que eles fornecem, incluindo o fornecimento, o suporte e a regulamentação de serviços ambientais e culturais”, pontua.


Foz do Amazonas. FUP e sindicatos de petroleiros protocolaram ação popular contra a ANP para suspender o leilão de 47 blocos exploratórios na Bacia da Foz do Amazonas, marcado para 17 de junho. A ação aponta uma contradição institucional. O grupo questiona a legalidade do processo, já que a Petrobras — controlada pela União — não obteve licença ambiental do Ibama para operar na mesma região.

  • Vale dizer: o Ibama realizou nesta quarta (4/6) a vistoria da Sonda NS-42, da Foresea, contratada pela Petrobras para a perfuração de poço exploratório no bloco FZA-M-59.

R$ 2,3 bi para SAF em Maringá. A norte-americana Satarem America Inc. anunciou, na terça-feira (3/6), a intenção de construir uma fábrica de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) na cidade de Maringá (PR), em um investimento próximo a US$ 425 milhões (cerca de R$ 2,3 bilhões). Inicialmente, o local vai usar etanol como matéria-prima.

Déficit de potência. O diretor de Planejamento do ONS, Alexandre Zucarato, afirmou que o estoque de usinas termelétricas a serem antecipadas se esgotou e reiterou a importância da realização de um leilão de potência para atender à carga. Durante o evento Aquecimento MegaTalks, nesta quarta (4/6), Zucarato disse que as alternativas à contratação via leilão foram tomadas mas que será necessário aumentar a quantidade de potência.

Reforma do setor elétrico 1. O governo federal espera que a implantação de tarifas horárias possa ajudar a suavizar a rampa de consumo do fim da tarde, disse nesta quarta (4) o secretário Nacional de Energia Elétrica, Gentil Nogueira. Com o sinal indicativo aos consumidores, a expectativa é que haja uma diminuição da demanda no período de maior consumo.

Reforma do setor elétrico 2. Para o CEO da Norsk Hydro, Anderson Baranov, a aprovação do atual texto da Medida Provisória 1300/2025, a reforma do setor elétrico, pode encarecer o custo da energia para a indústria, com efeitos sobre a competitividade do setor e a geração de empregos. Confira na entrevista à agência eixos

Eficiência na iluminação pública. Os contratos de parcerias público-privadas para iluminação pública no Brasil somam R$ 32 bilhões em 173 municípios, mostra um panorama do setor lançado nesta quarta (4/6) pela ABCIP. De acordo com o relatório (.pdf), as PPPs permitiram a implantação de 5 milhões de pontos de luz de tecnologia LED, reduzindo drasticamente o consumo de energia.
 
Bioeconomia na Amazônia. O Edital Projetos de Pesquisa em Economia Sustentável na Amazônia lançado pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) vai selecionar propostas de cientistas e pesquisadores da Amazônia Legal, com foco na proteção ou restauração da região. São R$ 10 milhões para até 15 projetos. Parceria com o Bezos Earth Fund, o edital pode ser consultado aqui.
 
DER-SP contrata inventário de carbono. O Departamento de Estradas de Rodagem de São Paulo anunciou a contratação de um inventário de emissões e a implementação de ações práticas para reduzir o impacto ambiental em suas operações e obras. É o primeiro órgão estadual e o primeiro de gestão de estradas do Brasil a assumir formalmente um compromisso de descarbonização de suas operações. 

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