OSLO — A Eneva está conduzindo estudos para avaliar o potencial de captura e armazenamento de CO2 (CCS, na sigla em inglês) em dois polos estratégicos para sua operação. Os projetos miram a criação de uma nova frente de negócios com foco em descarbonização e geração de créditos de carbono.
Os alvos são a proximidade dos seus campos de gás natural na Bacia do Parnaíba, no Maranhão, e a Bacia do Paraná, onde a empresa possui blocos exploratórios próximos a usinas de etanol de outras companhias.
“O que a gente vem estudando são tecnologias de redução das emissões de carbono, vislumbrando tanto uma futura taxação quanto um potencial novo modelo de negócio a partir da geração de crédito”, disse Frederico Miranda, diretor de Exploração, Reservatórios e Tecnologias de Baixo Carbono da Eneva, em entrevista à agência eixos.
“Hoje o principal desafio para colocar de pé projetos de captura de carbono é a inexistência de um mercado regulado de carbono efetivo no Brasil“, comenta o executivo.
“É um produto que não tem preço. Existe só um mercado voluntário internacional que também tem os seus desafios em termos da certificação dos créditos de carbono no Brasil, pelo desafio na aceitação da certificação desses créditos ligados aos biocombustíveis brasileiros”., explica.
Eneva mira armazenamento de CO2 para usinas de etanol
Os estudos fazem parte de uma frente ampla de pesquisa e desenvolvimento (P&D) conduzida pela empresa com universidades e instituições de ciência e tecnologia.
No Mato Grosso do Sul e no oeste de São Paulo, a Eneva mapeia áreas com potencial para armazenar o CO2 emitido por usinas de etanol, biogás e bioenergia, no que é conhecido como BECCS — a captura do carbono biogênico associada à produção de biocombustíveis.
“São produtores de etanol principalmente, que estão localizados na Bacia do Paraná, onde nós temos quatro blocos exploratórios em que temos uma campanha de prospecção para gás natural em andamento”, explica Miranda.
Segundo o executivo, os dados geológicos da região, coletados por antigas operadoras como a Petrobras, indicam a presença de amplos reservatórios salinos.
Miranda explica que são “candidatos a um aprofundamento do estudo para entender qual seria a capacidade e as melhores localizações para um possível futuro armazenamento de CO2 associado com a produção de biocombustíveis, biogás e bioenergia”.
A empresa já iniciou conversas com usinas interessadas em participar dessa cadeia. “Algumas das usinas estão dentro dos nossos blocos exploratórios, o que faz com que nossa campanha de prospecção de gás gere informações também úteis para futuros projetos de BECCS” diz.
Os estudos também envolvem a análise da instalação de gasodutos capazes de transportar o carbono capturado das usinas até o poço onde será injetado, oriundo de uma ou múltiplas usinas, considerando a criação de potenciais hubs de captura de CO2 na região.
O diretor explica que uma das vantagens é que as usinas estão localizadas no estado do Mato Grosso do Sul, “justamente em cima dos sites potenciais para o armazenamento em reservatórios salinos”, o que reduz os custos para transporte.
Outro fator que pode tornar a atividade mais competitiva é própria da natureza da produção do etanol, em que a fermentação produz um gás de 95% a 98% de CO2 puro, “o que já é praticamente o CO2 capturado, exigindo um tratamento mínimo após a fase de captura” e, consequentemente, reduzindo custos.
Além disso, essas usinas de etanol, em geral, também contam com térmicas de cogeração a partir da biomassa e com unidades de produção de biometano, que também podem ser fontes para o CO2 capturado.
Carbono em campos depletados de gás no Maranhão
No Maranhão, onde está localizado o Complexo Parnaíba — maior parque termelétrico a gás do país — a Eneva já realizou um estudo preliminar de armazenamento geológico em um de seus campos de gás e no reservatório salino abaixo da acumulação, o campo de Gavião Real, que entrou em produção em 2013 e, provavelmente, vai ser o primeiro campo a ser depletado.
“A gente fez um estudo utilizando os dados de exploração e desenvolvimento do campo de Gavião Real e abaixo desse campo também existe um reservatório salino, ambos com potencial significativo”, revela Miranda.
Por lá, a companhia também avaliou a captura de CO2 das próprias térmicas a gás da Eneva. Contudo, Miranda ressalta que neste caso, a concentração do CO2 é muito baixa, de apenas 4%, o que tornaria o custo para captura muito elevado.
Alternativa para descarbonização das térmicas
Para as térmicas, a alternativa tem sido investir em eficiência energética e substituição de combustíveis fósseis mais intensivos em carbono.
Segundo ele, os projetos de fechamento de ciclo em Parnaíba 5 e 6, por exemplo, evitaram a emissão de 400 mil toneladas de CO2 por ano.
“A gente evitou aumentar [as emissões], gerando mais eletricidade com o mesmo consumo de gás, ou seja, mais elétrons com a mesma molécula [de gás]. Com esse tipo de projeto a Eneva contribui para a descarbonização do setor elétrico nacional”.
Miranda também cita o investimento de R$ 2,2 bilhões na térmica de Jaguatirica 2, em Roraima, estado que antes era abastecido com térmicas a óleo diesel e óleo combustível, e hoje é atendido por uma usina a “ciclo combinado” movido a gás natural e vapor d’água.
“Com isso também a gente evitou, reduziu a emissão em 200 mil toneladas de CO2 por ano”. Além disso, as turbinas térmicas da Eneva também já estão preparadas para um futuro com hidrogênio.
“Hoje trabalhamos com turbinas que já têm uma capacidade de consumir e queimar cerca de 30% a 50% de hidrogênio, de acordo com as especificações dos fabricantes. Ainda assim não é algo que vislumbramos como viável na realidade atual”, conta o executivo.
Para ele, a combinação entre projetos de captura, eficiência energética e flexibilidade operacional das térmicas confere à empresa um papel central na transição e segurança energética.
“Hoje temos um papel fundamental na segurança energética do Brasil, com flexibilidade e segurança para o sistema, que são peças-chave para a soberania de um país”, completa.