Desmatamento

Itamaraty: governo vê com preocupação UE classificar Brasil como 'risco médio' de desmatamento

Governo contesta regra que usou dados de 2015 a 2020 para avaliar desmatamento, e pode barrar exportações de soja e carne à UE a partir de dezembro

Vista aérea do desmatamento em Lábrea, no Amazonas, estado com alto índice de desmate da floresta entre os nove estados amazônicos (Foto Victor Moriyama-Greenpeace)
Vista aérea do desmatamento em Lábrea, no Amazonas, estado com alto índice de desmate (Foto Victor Moriyama-Greenpeace)

O governo brasileiro recebeu com preocupação a classificação do Brasil como “risco médio” associado a desmatamento publicada neste domingo (25/5) pela Comissão Europeia, informou o Ministério das Relações Exteriores (MRE), em nota.

“No que tange especificamente ao processo de classificação de risco tal como figura na lei europeia, prevaleceu a discricionariedade de critérios tanto para avaliação quantitativa quanto qualitativa dos países, com base em recorte temporal retroativo (2015-2020). Em especial, é motivo de estranheza que a grande maioria dos países que ainda detêm e preservam as maiores áreas de floresta tropical nativa do planeta tenham sido classificados em categoria de risco superior à de países que praticam agricultura de clima temperado”, disse o Itamaraty na nota.

A classificação, chamado de benchmarking, integra a lei antidesmatamento do bloco, que proíbe a entrada de produtos ligados a desmatamento nos países europeus a partir de 30 dezembro deste ano. De acordo com o risco estabelecido pela Comissão Europeia os países terão maiores ou menores exigências a cumprir no processo de comprovação de que os produtos não estão ligados ao desmatamento. A normativa atinge as cadeias de gado, cacau, café, óleo de palma, borracha, soja e madeira.

O Itamaraty afirmou ainda que a lista publicada pela Comissão Europeia, a metodologia e as fontes de dados utilizadas serão examinadas de forma detalhada pelo governo brasileiro.

“O Brasil continuará insistindo com as autoridades comunitárias a respeito da importância de que sejam privilegiados o diálogo e a cooperação, por meio da coordenação e consulta aos países sobre a especificidade de seus sistemas produtivos, para buscar reduzir as consequências negativas da implementação da lei antidesmatamento e diminuir seu impacto atual e futuro para produtores e exportadores brasileiros”, afirmou o MRE.

Na nota publicada pelo Itamaraty, o governo brasileiro reafirmou seu “posicionamento crítico” em relação à lei europeia.

“A legislação constitui medida unilateral e discriminatória e desconsidera os esforços nacionais e multilaterais para a preservação de áreas florestais e enfrentamento da mudança do clima. A medida acarreta ônus significativo e desproporcional aos países que praticam a agricultura tropical de maneira responsável e sustentável como o Brasil, com impactos ainda maiores para produtores de menor escala”, criticou o Itamaraty.

No ano passado, o governo brasileiro pediu à União Europeia a revisão da legislação.

Por Isadora Duarte

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