O desafio da redução de emissões do metanol até 2050

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Diálogos da Transição

eixos.com.br | 09/02/21

Editada por Nayara Machado
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O metanol é um dos quatro produtos químicos básicos — ao lado de etileno, propileno e amônia — usado para fabricar quase todos os outros produtos químicos.

Lidar com as emissões da sua produção é, portanto, um componente-chave para a descarbonização do setor químico e poderia também contribuir com o setor de transportes, onde é usado como combustível.

Lançado no final de janeiro, o Innovation Outlook: Renewable Methanol (.pdfda Agência Internacional de Energia Renovável (Irena, sigla em inglês) indica como o mundo poderia reduzir sua pegada de carbono produzindo metanol renovável a um custo competitivo até 2050.

Atualmente, menos de 0,2 milhão de toneladas de metanol renovável é produzida por ano.

A maior parte do que é usado no mundo — cerca de 98 milhões de toneladas — é produzida a partir de gás natural ou carvão, com emissões anuais estimadas de 0,3 bilhão de toneladas de CO2, cerca de 10% das emissões do setor de produtos químicos e petroquímicos.

Além disso, a produção de metanol quase dobrou na última década, com uma grande parte desse crescimento ocorrendo na China.

Seguindo as tendências atuais, a Irena estima que a produção pode aumentar para 500 milhões de toneladas por ano até 2050, liberando 1,5 bilhão de toneladas de CO2 por ano, se nada for feito para descarbonizar.

O uso como combustível, seja em mistura com a gasolina ou para a produção de biodiesel, seja na forma direta nos motores, também tem crescido rapidamente desde meados da década de 2000.

Juntas, essas aplicações representam cerca de 31% do consumo de metanol.

Embora tenha sido proibido em alguns países, como os Estados Unidos, devido a problemas de contaminação das águas subterrâneas, o uso direto tem aumentado em outras regiões, como Ásia e México.

De menos de 1% em 2000, a parcela de uso direto do metanol como combustível aumentou para mais de 14% em 2019.

Outro emprego que tem crescido é na produção de biodiesel, que o utiliza na reação com óleos e gorduras.

No Brasil, ele é visto como crucial na produção do biocombustível — que no ano passado alcançou o volume de mais de 6 bilhões de litros –. um mercado potencial para o metanol de origem renovável.

Demanda estimulada pode reduzir custos

Embora sua expansão esteja travada pelo elevado custo de produção quando comparado ao metanol à base de gás natural e carvão, a Irena afirma que o metanol renovável é uma das alternativas sustentáveis mais fáceis de implementar.

O custo de produção de metanol à base de combustível fóssil está na faixa de US$ 100-250 por tonelada (t).

Já o renovável pode variar entre US$ 320-2.400/t dependendo da rota utilizada.

A agência estima que, até 2050, o custo pode cair para algo em torno de US$ 220-630/t, caso sejam adotadas políticas de incentivo.

“Como acontece com qualquer outra alternativa aos combustíveis fósseis, para que o metanol renovável decole no setor químico e como um combustível renovável, a demanda e a oferta devem ser estimuladas por políticas, regulamentos e mandatos adequados“, diz o documento.

Estes estímulos podem incluir padrões de combustíveis renováveis, incentivos fiscais, impostos de carbono, pisos de preços garantidos no longo prazo e impostos mais baixos sobre combustíveis renováveis ​​e matérias-primas, entre outros.

Raio-X do metanol renovável

  • Pode ser produzido a partir de uma variedade de matérias-primas sustentáveis, como biomassa, resíduos ou CO2 e hidrogênio;
  • Tem a mesma estrutura química do fóssil — CH3OH –, o seja, a substituição pode ser direta, tanto na produção de químicos, quanto como combustível;
  • Seu uso na substituição de combustíveis fósseis reduz emissões de gases de efeito estufa e, em alguns casos, outras emissões prejudiciais, como óxidos de enxofre, óxidos de nitrogênio e material particulado;
  • É um combustível versátil que pode ser usado em motores de combustão interna e em veículos e embarcações híbridos e com células combustível;
  • Compatível com a infraestrutura de distribuição existente;
  • Atualmente, a principal barreira ao metanol renovável é o seu custo mais elevado em comparação com as alternativas fósseis;
  • Esse diferencial de custo ainda levará algum tempo para ser superado. Porém, seu valor também pode ser equalizado pelo potencial de redução de emissões em comparação com as opções existentes;
  • Lidar com as diferenças do processo e facilitar o aumento da produção e uso pode ajudar a reduzir custos, mas exigirá uma variedade de intervenções políticas.

Curtas

Os brasileiros estão preocupados com o aquecimento global e acreditam na ação humana como a principal causa das mudanças climáticas. Resultados de uma pesquisa Ibope mostram que 92% dos entrevistados reconhecem que o aquecimento global já está acontecendo e 72% acreditam que isso pode lhes prejudicar muito e às suas famílias…

…Além disso, 77% acreditam na ação humana como a principal causa das queimadas na Amazônia, e 84% concordam que elas prejudicam a imagem do Brasil no exterior.

Outra pesquisa realizada pela KPMG com CEOs globais de energia, inclusive o Brasil, apontou que 76% deles querem garantir ganhos de sustentabilidade e mudanças climáticas com a crise de saúde pública. Além disso, para 62% o gerenciamento de riscos climáticos determinará se eles podem manter os empregos nos próximos cinco anos e 48% disseram que a Covid-19 demonstrou a necessidade de se concentrar nos fatores ESG.

Raízen assinou um acordo comercial para integração dos ativos da Biosev, subsidiária brasileira da Louis Dreyfus Holding, que contempla nove unidades produtoras localizadas nos estados de SP, MS e MG, e capacidade instalada de moagem de até 32 milhões de toneladas de cana, no total…

…A operação inclui também cogeração de energia, com capacidade de exportação de até 1.3 GWh de energia elétrica/ano, e uma área de 280 mil hectares de cana plantada.

A agenda de colaboração bilateral em energia do Reino Unido com o Brasil ainda terá espaço para projetos de gás natural. A embaixadora interina do Reino Unido no Brasil, Liz Davidson, explica que atualmente, o trabalho entre os dois países se concentra no gás natural como combustível de transição, além de eólica offshore, armazenamento de energia solar e smart grid. epbr

Nos EUA, o indicado pelo presidente Joe Biden para comandar a agência ambiental EPA, Michael Regan, defendeu durante sua sabatina que o país deverá criar milhões de empregos ao investir pesado para descarbonizar a economia. Por decisão do novo governo democrata, todas as agências americanas devem levar em conta as questões climáticas em suas decisões. epbr

A Holanda quer estimular a aplicação de combustíveis sustentáveis de aviação para que as companhias aéreas europeias possam voar inteiramente com renováveis até 2050. Pela primeira vez no mundo, um voo de passageiros parcialmente realizado com querosene sintético produzido de forma sustentável decolou no país, fruto de uma parceria entre Shell e KLM. IG Economia

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