BRASÍLIA – A Casa Branca informou nesta terça-feira (13/5) que a empresa saudita DataVolt planeja aplicar US$ 20 bilhões em data centers dentro dos EUA, em mais um capítulo da corrida global por investimentos em infraestrutura de dados e energia voltados à demanda por serviços de inteligência artificial.
No mesmo anúncio, a gestão de Donald Trump mencionou que Google, Oracle, Salesforce, AMD e Uber prometeram injetar US$ 80 bilhões em “tecnologias transformadoras” nos dois países.
O tema é de interesse do Brasil. O governo brasileiro deve anunciar uma política de atração de investimentos em data centers após a volta do presidente Lula (PT) de viagens ao exterior.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), defende que além de uma rede de transmissão de dados robusta, os data centers são uma forma de aproveitar a energia limpa gerada no Brasil. O país, contudo, está enfrentando gargalos na infraestrutura de transmissão, com projetos rejeitados, em razão do risco de sobrecarga.
Arábia Saudita sinaliza projetos de US$ 600 bi
O comunicado divulgado pela Casa Branca afirma que os projetos e negócios negociados entre empresas do país têm potencial para mobilizar US$ 600 bilhões em investimentos.
No setor de infraestrutura, empresas americanas como Hill International, Jacobs, Parsons e AECOM participarão de “grandes projetos” na Arábia Saudita, incluindo o novo aeroporto internacional King Salman e a cidade de Qiddiya. Esses contratos somam US$ 2 bilhões em exportações de serviços dos EUA.
A Casa Branca também celebrou exportações adicionais, como turbinas a gás da GE Vernova (US$ 14,2 bilhões) e aeronaves Boeing 737-8 para a AviLease (US$ 4,8 bilhões). Na saúde, a Shamekh IV Solutions investirá US$ 5,8 bilhões, incluindo a construção de uma fábrica de fluidos intravenosos em Michigan.
Os investimentos incluem ainda fundos setoriais com foco nos EUA: um fundo de energia de US$ 5 bilhões, outro de tecnologia aeroespacial e de defesa no mesmo valor, além de US$ 4 bilhões para o setor esportivo.
O pacote inclui ainda o maior acordo de vendas de defesa da história dos EUA: “quase US$ 142 bilhões” em equipamentos e serviços fornecidos por mais de uma dezena de empresas americanas. O acordo cobre “avanços da força aérea, defesa antiaérea, segurança marítima, modernização terrestre e comunicação”.
Segundo o comunicado, esse conjunto de acordos “foi construído rapidamente nos últimos quatro meses” e representa “o maior conjunto de acordos comerciais já registrados entre os dois países”.
Energia é gargalo para hidrogênio e data centers
O governo brasileiro busca soluções para o problema de falta de capacidade no Sistema Interligado Nacional (SIN) para conexão de projetos de hidrogênio verde e data centers. O hidrogênio já foi contemplado com incentivos ano passado, mas o gargalo na rede impede a partida dos projetos.
O Ministério de Minas e Energia (MME) avalia com o Operador Nacional do Sistema (ONS) a possibilidade de liberar, na estimativa de agentes, até 2 GW de capacidade de conexão.
Na semana passada, o secretário de Transição Energética e Planejamento do MME, Thiago Barral, afirmou que as informações estavam sendo apresentadas pelo ONS e não era possível antecipar o valor.
Na China, o ministro Alexandre Silveira citou a interlocução com o órgão, com vistas à viabilizar os projetos em Pecém, no Ceará.
“Criamos todos os mecanismos, o Operador Nacional do Sistema abriu espaço para recepcionar esses investimentos, o nosso planejamento, a nossa EPE está fazendo todo o esforço para o mais rápido possível reforçar a transmissão até o porto de Pecém”, disse.
O Ministério de Minas e Energia e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) divulgarão, até o fim do ano, estudos para atacar o problema.
Sobrecarga em projetos de hidrogênio verde no Nordeste
Recentemente, o ONS vetou o pedido da espanhola Solatio para conectar à rede uma planta de hidrogênio e amônia verdes de 3 GW/ano na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) de Parnaíba, no Piauí.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) chancelou a decisão, ampliando a lista de empreendimentos eletrointensivos parados por limitações na infraestrutura de transmissão.
O parecer técnico do ONS aponta risco de sobrecarga estrutural e colapso de tensão em subestações da região, agravado pela ausência de reforços previstos no curto prazo no Potee.
A negativa reproduz os argumentos que travaram projetos semelhantes, como os da Casa dos Ventos e da Fortescue no Porto do Pecém (CE).
Avaliada em R$ 27 bilhões, a iniciativa da Solatio se soma a um portfólio bilionário sem acesso ao sistema interligado. Dados do Ministério de Minas e Energia indicam 11 projetos formalmente pleiteando conexão, que somam 45 GW de capacidade até 2038.
No Pecém, a Casa dos Ventos prevê investir R$ 49 bilhões em hidrogênio verde e outros R$ 50 bilhões em um data center. Mesmo munida de estudos que apontavam sobra de 2 GW na área, a companhia também recebeu parecer desfavorável.
A australiana Fortescue, com aporte estimado em R$ 17,5 bilhões e capacidade inicial de 1,2 GW (expansível a 2,1 GW), enfrentou resultado semelhante.
Ao todo, projetos em Ceará, Piauí, Pernambuco e Minas Gerais aguardavam chegar à decisão final de investimento (FID) até o fim de 2025, mas o cronograma agora depende de um destravamento na malha de transmissão do país.
Com informações do Estadão Conteúdo