RIO – A desvalorização recente dos preços do petróleo exigirá mais austeridade na execução do plano de investimentos da Petrobras. A presidente da estatal, Magda Chambriard, disse nesta terça (13/5) que “chegou a hora de apertar os cintos” e que isso pode significar ajustes no plano, mas que não planeja cortar projetos, por ora.
Os novos sistemas de produção de Sergipe Águas Profundas (SEAP) e de revitalização de campos maduros da Bacia de Campos, ainda não contratados, no entanto, estão sendo revisados para serem adequados à nova realidade de preços.
“Nossos projetos são robustos, resilientes, de forma que o patamar de US$ 65 [o barril do petróleo] nos obriga a reduzir custos, impõe desafios, mas que de forma nenhuma nos levariam à postergação de projetos”
“Postergar projetos lucrativos – e todos os nossos são testados a US$ 45 [o barril] – significa destruir valor. E não estamos dispostos a isso”, disse Magda, ao participar de teleconferência com analistas sobre os resultados financeiros do 1º trimestre.
O preço do Brent acumula uma queda superior a 10% desde abril, embora, nos últimos dias, a cotação da commodity opere em alta, em resposta à trégua tarifária entre Estados Unidos e China.
Como a Petrobras responde à queda de preços
Magda destacou que a realidade do mercado demanda medidas de austeridade, simplificação e otimização de projetos, redução de custos de investimentos e operacionais.
O plano de negócios 2025-2029 da Petrobras prevê investimentos de US$ 111 bilhões – sendo US$ 98 bilhões na carteira de projetos em implantação e US$ 13 bilhões na carteira em avaliação.
O diretor Financeiro e de Relacionamento com Investidores, Fernando Melgarejo, disse que a companhia será rigorosa na inclusão de projetos na carteira em implementação, mas que a companhia buscará “todas as alternativas” para aumentar a competitividade dos projetos, a fim de viabilizá-los.
“Temos ranqueado os projetos prioritários, mas, antes de chegarmos numa lógica de redução de capex [de investimentos], temos que buscar todas as alternativas de redução de custos, para que consigamos manter o capex, fazer a execução de projetos. Porque os projetos de hoje são o futuro da Petrobras. Então, priorizaremos esse ponto”.
Os ajustes no plano estratégico, segundo o Melgarejo, seguem três frentes principais:
- minimizar os efeitos inflacionários com otimização de gastos: o que inclui redução de gastos corporativos transversais;
- mitigar o impacto de preços menores no fluxo de caixa livre: o que passa pela simplificação de projetos de engenharia, reavaliação de escopo de projetos licitados, mas que não se demonstraram atrativos; redução de custos de sistemas que aguardam descomissionamento; e reavaliação de estruturas de custos de campos maduros terrestres;
- e priorizar projetos que tragam fluxo de caixa no horizonte de prazo mais curto: o que inclui maior rigidez na inclusão de projetos na carteira de implementação.
Melgarejo mencionou que algumas dessas iniciativas já estão sendo implementadas, como a simplificação do projeto de Sergipe Águas Profundas; e a reavaliação do escopo das licitações dos projetos de revitalização de Albacora; de Marlim Leste/Marlim Sul; e de Barracuda-Caratinga.
Para 2025, a meta de investimentos de US$ 18,5 bilhões segue mantida.
“A maioria dos projetos já está contratado, não tem muitos sobressaltos para dar este ano”, disse a diretora de Engenharia, Tecnologia e Inovação, Renata Baruzzi.
Melhores margens possíveis nos combustíveis
Magda citou ainda que, além de mais austeridade na execução do plano de investimentos, a desvalorização dos preços internacionais do petróleo também exigirá da Petrobras trabalhar “com boas margens” na comercialização de seus produtos.
Em meio à queda recente dos preços internacionais, provocada pela perspectiva de aceleração do aumento da oferta pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e pelas preocupações sobre o enfraquecimento da demanda, a Petrobras acelerou a redução dos preços do diesel no mercado interno. Foram três quedas desde abril.
“Nossos produtos, sabemos disso, são valorados pelo mercado internacional, variam com o preço e câmbio, sem que tenhamos controle dessas duas variáveis. O que sabemos, e temos certeza, é de que temos a obrigação de reagir a essas flutuações”, afirmou Magda.
O diretor de Logística, Comercialização e Mercados, Claudio Schlosser, acrescentou que a empresa tem visões diferentes sobre precificação para o diesel e gasolina, ao justificar o fato de a empresa manter o preço da gasolina congelado nas refinarias desde julho do ano passado.
E citou que, enquanto a tendência de consumo de diesel é de queda, na gasolina o movimento é ascendente, diante da recomposição de estoques nos Estados Unidos.