Fora do tom, Brasil critica totalitarismo de empresas e defende comércio eletrônico na Amazônia

Fora do tom, Brasil critica totalitarismo de empresas e defende comércio eletrônico na Amazônia

Os representantes do governo brasileiro tiveram uma atuação apagada e fora do tom no Fórum Econômico Mundial de 2021. Em duas mesas de debate, o chanceler Ernesto Araújo desenhou inimigos imaginários enquanto o vice-presidente, Hamilton Mourão, defendeu uma agenda com projetos desidratados pelo próprio governo ou rejeitados pelo Congresso, além do comércio online como ferramenta para dinamizar a economia da Amazônia.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, desistiu de participar de um painel sobre o sistema financeiro internacional, nesta sexta (29)

Em uma mesa montada para debater as possibilidades de cooperação internacional com foco no combate à pandemia da Covid-19 e às ameaças das mudanças climáticas, o ministro das Relações Exteriores preferiu nesta sexta (29) partir para o ataque a outras nações e empresas de tecnologia.

Araújo afirmou que uma ameaça às democracias atualmente é o “tecnototalitarismo”. A expressão foi inventada pelo chanceler brasileiro, que precisou explicá-la no painel. É uma referência ao que ele considera uma ameaça à liberdade individual por governos ou grandes empresas de tecnologia.

Araújo negou que a referência a totalitarismo fosse uma sugestão de oposição à China, mas afirmou que “novas tecnologias podem ser ótimas para a democracia, mas também podem ser instrumentos do controle totalitário e não queremos isso”. Ele convidou os Estados Unidos e “outros países democráticos” a se juntar ao “desafio” de combater essa ameaça.

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O tema escolhido pelo chanceler é uma clara referência às recentes medidas de restrição a postagens tomadas por redes sociais nos Estados Unidos contra o ex-presidente Donald Trump, e no Brasil contra o presidente Jair Bolsonaro, no caso de informações inverídicas sobre a pandemia da Covid-19.

O debate seguiu moderado pelo presidente do Fórum Econômico Mundial, Børge Brende, em uma painel montado para discutir a cooperação global. Outros convidados trataram da cooperação internacional no combate à pandemia, na necessidade de redesenhar regras para o comércio internacional e sobre o reforço ao multilateralismo, que muitos participantes de Davos acreditam que deve ocorrer com a posse de Joe Biden nos Estados Unidos. Araújo fugiu dos temas.

“Qualquer mudança nos EUA é imensa para nós”, afirmou o ministro. “Se o foco é em mudança climática, OK, mas queremos fundamentar relação em liberdades”, insistiu.

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A ministra das Relações Exteriores da Espanha, Arancha González Laya, pediu que os países evitem entrar em confrontos e se disse esperançosa de que o novo governo dos EUA tenha uma postura participativa na Organização Mundial do Comércio (OMC) para permitir a atualização das regras que regem o órgão, ao lado da China. Pediu ainda que tensões geopolíticas não interfiram no esforço comum dos países para combater as mudanças climáticas e afirmou que a cooperação global é a forma mais efetiva de combater a pandemia e seus impactos.

François-Philippe Champagne, ministro da Inovação, Ciência e Indústria do Canadá, afirmou que a eleição de Biden nos EUA é uma boa notícia para as perspectivas de aumento da colaboração entre os países, tanto no combate à Covid-19, quanto para a necessidade de retomada da economia global.

Mourão defende medida provisória rejeitada

O vice-presidente Hamilton Mourão participou de debate sobre as possibilidades de financiamento à bioeconomia sustentável na Amazônia na última quarta (27),. Com poucos dados concretos sobre a atuação do governo, afirmou que o Executivo tem feito esforços para zerar o desmatamento ilegal da Amazônia – enquanto dados do próprio governo mostram que a devastação na região em 2020 superou em três vezes as metas apresentadas pelo Brasil para a Convenção do Clima.

Mourão também defendeu a regularização de terras na floresta e disse que o fortalecimento da economia na região depende de mecanismos de pagamentos por serviços ambientais.

O projeto enviado pelo governo ao Congresso para a regularização fundiária na Amazônia, a MP 910/2019, caducou sem debate na Câmara dos Deputados depois que o texto foi criticado até por integrantes da Frente Parlamentar Agropecuária por permitir a legalização de grandes porções de terras desmatadas. Na oposição, a matéria era chamada de MP dos grileiros. Até hoje, o governo não enviou nova proposta.

Este mês, o governo apresentou as metas para seu principal projeto piloto de pagamento por serviços ambientais, o Floresta +. O documento apresentado corta um terço da área inicialmente prevista para o projeto  de preservação florestal.

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Comércio eletrônico é ferramenta importante para Amazônia, diz Mourão

Mourão afirmou que é crucial que o setor privado liderem pesquisas e programas científicos na região. “Governos, especialmente no cenário da pós-pandemia, não terão excedente disponível para direcionar somas para esse tipo de atividade”, disse.

Por último, o vice-presidente afirmou que plataformas de comércio eletrônico “parecem ser o melhor caminho” para garantir recursos para os produtores locais da região. Segundo ele, o comércio online provou durante a pandemia ser um instrumento confiável para manter o comércio e a dinâmica de mercado.

“Devemos nos aproveitar dessas ferramentas para tornar disponíveis para o mundo produtos amazônicos autênticos e sustentáveis”, afirmou.

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