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A aposta chinesa no SAF de cana do Brasil

Com investimento de US$ 1 bi, chinesa Envision mira produção de combustível sustentável para aviação com cana brasileira

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante audiência com o presidente da Envision, Lei Zhang (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante audiência com o presidente da Envision, Lei Zhang (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

NESTA EDIÇÃO. Chinesa Envision investirá US$ 1 bilhão em biorrefino no Brasil, diz governo durante visita de Estado.

O investimento é estratégico por dois motivos: previsão de demanda e oferta de matéria prima.


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O governo brasileiro anunciou nesta segunda (12/5) que o país deve receber US$ 1 bilhão em investimento da chinesa Envision Group para produção de hidrogênio e amônia verdes e combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) a partir da cana-de-açúcar, no primeiro Parque Industrial Net-Zero da América Latina. 
 
Os detalhes do empreendimento ainda não foram divulgados. O anúncio ocorreu na quarta visita de Estado do presidente Lula (PT) à China, após encontros com executivos de empresas chinesas ligadas aos setores de energia sustentável e defesa. 
 
Sediada em Xangai, a multinacional chinesa Envision tem como atividades principais a fabricação de turbinas eólicas, sistemas de armazenamento de energia e soluções de hidrogênio verde – um insumo para a produção de SAF.
 
O investimento no Brasil é estratégico por dois motivos: previsão de demanda e oferta de matéria prima.
 
Segundo maior mercado de combustível de aviação do mundo, a China iniciou, em setembro de 2024, um projeto piloto para o primeiro uso de SAF em voos partindo de aeroportos domésticos em Pequim, Chengdu, Zhengzhou e Ningbo. (S&P Global)
 
Mas a iniciativa, por si só, não é suficiente para assegurar investimentos. Os produtores chineses aguardam a definição de um mandato para uso do renovável, que pode variar de 2% a 5% misturado ao combustível de aviação tradicional até 2030. A expectativa era que fosse anunciado em 2024, o que não ocorreu, levando algumas refinarias a adiar a abertura de novas plantas. (Reuters)
 
Enquanto isso, no Brasil, a recém aprovada lei do Combustível do Futuro estabelece um mercado cativo para o SAF a partir de 2027, quando as companhias aéreas serão obrigadas a descarbonizar suas operações substituindo o querosene fóssil.



No cenário internacional, também a partir de 2027, todos os signatários do Corsia terão que cumprir metas de redução de emissões e os combustíveis sustentáveis são parte da estratégia – embora a produção global ainda represente menos de 1% da demanda.
 
Hoje, quase a totalidade do SAF produzido no mundo tem como matéria prima o óleo de cozinha usado, o que já vem impondo dificuldades à expansão do biorrefino pela escassez. É aí que a cana de açúcar entra como promessa e o Brasil, com sua experiência no etanol, como um mercado potencial.
 
Estudo publicado em abril pelo Ministério da Fazenda aponta que o SAF de etanol (cuja rota de produção é conhecida como ATJ) tem potencial teórico para gerar até 6,5 bilhões de litros por ano na próxima década, representando 23% do potencial de produção estimado do país. 
 
Já o etanol de milho vem logo atrás, com 5,5 bilhões de litros, ou 20% da capacidade projetada.

A visita oficial à China rendeu ainda uma série de negociações relacionadas a fertilizantes, data centers e renováveis — áreas estratégicas que o governo brasileiro busca desenvolver através de investimento internacional.
 
Nesta segunda, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), confirmou uma reunião da delegação brasileira com executivos da China Chemical Engineering Corporation (CNCEC) sobre a instalação de uma fábrica de fertilizantes no Paraná
 
O interesse do governo brasileiro é a execução, pela CNCEC, de estudos de viabilidade técnica e financeira para uma planta com capacidade de produzir 520 mil toneladas de ureia por ano. (CNN)
 
O saldo de acordos inclui a assinatura de um memorando de entendimento entre o MME, a estatal chinesa Windey Energy Technology Group e o Senai Cimatec. O documento foi assinado no domingo e tem como foco a cooperação bilateral em energias renováveis e tecnologias de baixo carbono.
 
Já na agenda de data centers, está previsto um compromisso da comitiva, na terça (13), representantes da Byte Dance, dona do Tik Tok. De acordo com Silveira, as tratativas incluem a instalação no Ceará
 
Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), o presidente Lula anunciará a política para data centers assim que voltar da China.


IA com nuclear. Em missão à China e à Rússia, o ministro Alexandre Silveira (PSD) afirmou que a adoção de reatores nucleares modulares (SMRs, na sigla em inglês) será essencial para garantir energia limpa e firme aos projetos de data centers que já começam a se instalar no Brasil. 
 
Na semana passada, a estatal russa Tenex manifestou interesse em ampliar sua atuação no Brasil, com foco na exploração de urânio e lítio. A expectativa de Silveira é que esse acordo avance para projetos de SMR.
 
Foz do Amazonas. Cientistas, pesquisadores e cidadãos amazônidas lançaram uma carta-manifesto, direcionada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contra a proposta de criação de fundos compensatórios para “ressarcir o Amapá” pela não exploração de seu potencial energético na Margem Equatorial brasileira.
 
Decreto do biometano em consulta. O MME colocou em consulta pública, nesta segunda (12), a minuta de decreto regulamentador do biometano, um próximo passo para viabilizar o mandato previsto na lei do Combustível do Futuro. A proposta recebe contribuições até 19 de maio. A audiência pública está marcada para 21 de maio, na sede da pasta em Brasília.
 
Renovabio no STJ. Produtores de biocombustíveis e distribuidoras pediram para ingressar como partes interessadas na ação movida pelo MME, no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em busca da suspensão das liminares que favorecem empresas inadimplentes com as metas do RenovaBio. Movimento reuniu distribuidoras representadas pelo Sindicom; produtores de etanol (Unica, Copersucar e Sifaesp) e biodiesel (Abiove, Aprobio e Ubrabio). 
 
Gigafábrica de baterias. O governo britânico anunciou, na última sexta-feira (9/5), a mobilização de £ 1 bilhão em investimentos para a construção de uma “gigafactory” em Sunderland, no norte da Inglaterra, que produzirá baterias para veículos elétricos. 
 
Faz parte do Plano para Mudança do governo, que busca fortalecer as regiões industriais e prevê o fornecimento de baterias para 100 mil carros elétricos por ano, um aumento de seis vezes na capacidade atual do país, segundo comunicado do governo.

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