Os investimentos em energias renováveis precisam ser multiplicados por três nas economias emergentes para promover a transição energética globalmente. A afirmação é do diretor executivo da Agência Internacional de Energia, Fatih Birol, para quem a guinada em projetos de infraestrutura energética em países em desenvolvimento, principalmente no Sudeste asiático, ainda é uma ameaça para concretizar ambições globais de redução de emissões.
Ainda que algumas das principais economias em desenvolvimento contem com investimentos de monta em renováveis, como é o caso da Índia na geração solar, e do Brasil na produção de energia eólica, boa parte das economias que se expandem ainda baseiam a maior parte de seus projetos de infraestrutura em fornecimento de energia de fontes com altas taxas de emissões, como no sudeste asiático.
“Eu gostaria muito que entendêssemos: na ausência de uma grande aceleração da transição para energia limpa em investimentos limpos nesses países, não temos chance de alcançar nenhuma das metas globais de que estamos falando diariamente”, afirmou o diretor da IEA durante debate no Fórum Econômico Mundial, em Davos.
Para Birol, a guinada no financiamento de projetos nessas regiões é essencial – e viável. Mas agora é hora de definir como se deve desbloquear o fluxo de investimentos em energia limpa para esses países. “Capital está disponível”, afirmou.
Esta é a segunda vez em que Birol foca sua participação no Fórum na necessidade de acelerar a transição energética em países em desenvolvimento. No ano passado, o executivo já havia criticado o foco dos debates de Davos, afirmando que as perspectivas abordadas tratavam da realidade das potências ocidentais, deixando de lado a realidade da população nos países emergentes.
“Como vamos lidar com o problema da queima de carvão em países em desenvolvimento sem afetar suas economias? Sem provocar grandes impactos sobre as populações pobres da Ásia?”, criticou em 2020.
Viabilizar a transição energética a partir da mudança de foco dos investimentos é central. “Se o objetivo é atingir emissões líquidas zero, se é combater as mudanças climáticas globalmente, não há como fazer isso sem acelerar enormemente o investimento em energia limpa”, disse hoje o diretor da IEA.
Promover a transição energética a partir de critérios mais rígidos de financiamento esteve no centro da mesa que debateu formas de acelerar a transição energética nesta quarta-feira em Davos.
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Next Generation EU
A comissária para Energia da Comissão Europeia, Kadri Simson, frisou que a União Europeia atua para colocar os “valores verdes” no centro do seu pacote de recuperação econômica, o chamado Next Generation EU. O plano, que prevê investimentos de € 750 bilhões nesta década, exige que 37% desses recursos sejam destinados a gastos relacionados ao clima e ao combate às mudanças climáticas.
Para ela, no entanto, é hora de convencer bancos, seguradoras e fundos de pensão de que eles também precisam investir no clima. A Europa é hoje a grande liderança em investimentos ESG, em que a aplicação de valores é gerida sob critérios de sustentabilidade, com exigências ambientais, sociais e de governança. No mundo todo, cerca de US$ 30 trilhões em investimentos já seguem esses critérios.
Mas muitos investidores ainda precisam ser convencidos de que investir em projetos de energia limpa é uma boa escolha. Jo Taylor, presidente e diretor executivo do Ontario Teachers ‘Pension Plan, e David Victor, professor da Universidade da Califórnia em San Diego, concordam que muitos investidores com foco em retorno de curto prazo ainda não se veem atraídos por projetos de energia verde.
“Há muito capital disponível, mas capital que ainda não sabe em que acreditar e onde focar na transição energética”, disse Victor.
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