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Diálogos da Transição
eixos.com.br | 26/01/21
Editada por Nayara Machado
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As emissões de metano do setor de energia precisarão cair para cerca de 20 milhões de toneladas por ano até 2030 — uma queda de mais de 70% em relação aos níveis de 2020. Este é o valor que seria tecnicamente possível abater, segundo o mais recente estudo da Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em inglês).
Chamado Driving Down Methane Leaks from the Oil and Gas Industry, o documento apresenta um roteiro regulatório sobre as emissões globais de metano da indústria de petróleo e gás.
Embora o metano tenda a receber menos atenção que o CO2, ele é um potente gás de efeito estufa e a redução das emissões vindas do setor de energia será crítica para evitar consequências mais graves das mudanças climáticas.
“É por isso que nós precisamos, primeiro, olhar para as emissões de metano, quão grande elas são, de onde elas vêm, de quais países e, em segundo lugar, pensar quais tipos de políticas governos e indústria podem adotar para minimizar, senão anular, suas emissões”, explicou o diretor executivo da IEA, Fatih Birol, durante o lançamento do relatório.
Na ocasião, a IEA também lançou um kit de ferramentas, o Methane Tracker 2021, que inclui, pela primeira vez, dados sobre vazamentos de metano em larga escala detectados por satélite e está atualizado com as últimas estimativas de emissões globais e por país para 2020.
A agência estima que o setor de petróleo e gás emitiu cerca de 72 milhões de toneladas de metano (aproximadamente 2,1 Gt CO2-eq) em 2020 — pouco mais de 5% das emissões globais de gases de efeito estufa relacionadas à energia.
Embora as emissões em 2020 tenham sido um pouco menores em comparação com 2019 (80 milhões de toneladas), a análise indica que houve também uma redução na incidência de vazamentos em grande escala, provavelmente resultado das quedas de produção por conta da pandemia de covid-19.
Ação necessária
Reduzir as emissões de metano das operações de petróleo e gás está entre as ações mais efetivas economicamente e de maior impacto para atingir as metas climáticas globais. É por isso que um número crescente de jurisdições vem reconhecendo o papel da ação regulatória combinada à ação voluntária da indústria.
“Um dos objetivos de qualquer novo esforço político deve ser melhorar a medição e o relato dos dados de emissões, o que pode, por sua vez, levar a intervenções regulatórias mais eficientes”, diz o documento.
De acordo com a IEA, a experiência mostra que os países já podem dar um importante “primeiro passo” com base nas ferramentas existentes, que podem incluir as conhecidas “fontes problemáticas” combinadas com programas de monitoramento das maiores fontes de emissões.
Além disso, a IEA indica que ações voluntárias da indústria não serão suficientes.
O desenho regulatório precisará compreender o que impede empresas em diferentes países e contextos de mercado a realizar ações para a redução do metano.
Segundo o relatório, são três as principais barreiras que explicam por quê as empresas não estão seguindo nesta direção:
- Informação: Existe uma lacuna de informação significativa em muitas empresas sobre o metano, tanto em relação aos seus impactos ambientais e, mais especificamente, o nível e as fontes de emissões das operações da empresa.
- Infraestrutura: Em muitos casos, o gás capturado pode ser facilmente colocado no mercado. No entanto, em outros casos, particularmente quando o gás é coproduzido com o petróleo, podem não existir caminhos ou negócios existentes para levar o gás para uso produtivo.
- Incentivos de investimento: As oportunidades de investir na redução do metano devem competir com outras oportunidades de investimento. Mesmo quando a redução é eficaz em termos de custos, as empresas podem optar por direcionar o capital para investimentos onde uma taxa de retorno mais alta é possível. Além disso, as empresas estatais podem não se beneficiar diretamente das medidas de redução de custos porque devolvem os lucros ao tesouro do governo e, em seguida, recebem dotações pré-determinadas para cobrir as operações.
No caso da meta global para 2030, a agência afirma que uma parcela significativa das emissões pode ser abatida sem custo líquido.
“O valor do metano capturado é suficiente para cobrir o custo da medida de abatimento, ou seja, já deve haver um incentivo econômico para evitar a liberação deste gás para a atmosfera”, diz o relatório.
A parte exata das emissões que podem ser evitadas sem custo líquido vai variar de ano para ano e de região para região, e o preço do gás será um ponto chave.
“Em 2020, os preços do gás natural em todo o mundo foram muito mais baixos do que nos anos anteriores, de modo que a parcela de redução que se paga é menor do que nos anos anteriores. Mas vai se recuperar à medida que os preços do gás natural subirem”, explica a agência.
Biden, API e a regulamentação do metano
O novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, apresentou um plano energético de US$ 2 trilhões voltado para o incentivo de iniciativas de energia limpa. O democrata também promete fortalecer a regulação do setor de óleo gás, restringindo as emissões de metano e o fracking em algumas terras federais.
A ideia tem incomodado petroleiros reunidos no Instituto Americano de Petróleo (API, sigla em inglês), um dos principais grupos de lobby do setor petrolífero no mundo, com centenas de membros, entre eles, grandes petroleiras internacionais como Equinor, ExxonMobil e Shell.
Segundo a agência Platts, Mike Sommers, CEO do API, declarou no dia 13 de janeiro que o instituto entraria em conflito com a administração Biden se ela perseguisse novos limites para a perfuração em terras e águas federais, chamando as propostas lançadas durante a campanha de uma política de “importar mais petróleo”.
O CEO também disse estar aberto a trabalhar com o governo Biden em novas regulamentações sobre as emissões de metano, mas renovou as críticas às regras do tipo “comando e controle”.
Segundo Sommers, o API apoia o corte das emissões de metano tanto por meio de políticas econômicas quanto por meio de ações mensuráveis da indústria.
Na mesma semana, a Total divulgou que decidiu deixar o API em 2021, “após uma análise detalhada das posições climáticas” da associação de petroleiras.
Dentre as justificativas, a petroleira francesa citou decisão da associação de fazer lobby contra regras para limitar as emissões de metano nas operações de óleo e gás. A Total se diz favorável às restrições desde 2019.
“Além disso, a API deu seu apoio durante as últimas eleições [dos EUA] a candidatos que argumentaram contra a participação dos Estados Unidos no Acordo de Paris”, completou em nota.
Curtas
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