Transição forçada

Comissão Europeia anuncia roteiro para eliminar dependência energética da Rússia até 2027

Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 2022, a UE já reduziu as importações de gás russo de 150 bilhões de metros cúbicos em 2021 para 52 bcm em 2024

Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, profere "Discurso do Estado da União de 2022" (Soteu, na sigla em inglês), em 14/9/22, em Estrasburgo (Foto CC-BY-4/União Europeia)
Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen (Foto CC-BY-4/União Europeia)

RIO — A Comissão Europeia apresentou na segunda (5/5) um novo roteiro do plano REPowerEU, com medidas para eliminar totalmente a dependência da União Europeia (UE) em relação à energia russa. O objetivo é encerrar as importações de gás, petróleo e energia nuclear provenientes da Rússia até 2027.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que a guerra na Ucrânia expôs de maneira brutal os riscos de “chantagem econômica, coerção e choques de preços”. 

“Com o REPowerEU, diversificamos nosso fornecimento e reduzimos drasticamente a dependência dos combustíveis fósseis russos. Agora é hora de cortar completamente os laços com um fornecedor não confiável”, declarou. 

“A energia que chega ao nosso continente não deve financiar uma guerra de agressão”.

Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 2022, a UE já reduziu as importações de gás russo de 150 bilhões de metros cúbicos em 2021 para 52 bcm em 2024, baixando a participação russa no mercado europeu de gás de 45% para 19%. 

As importações de carvão russo foram totalmente banidas por sanções, e o petróleo russo representa agora apenas 3% das compras do bloco, ante 27% no início de 2022. 

Mesmo no setor nuclear, países que ainda utilizam reatores do tipo VVER, de design russo, avançam na substituição do combustível por fontes alternativas.

Apesar dos avanços, a UE viu um aumento nas importações de gás russo em 2024, o que levou a Comissão a propor ações mais coordenadas. 

Fim de novos contratos

Uma das principais medidas previstas é o fim de novos contratos com fornecedores russos de gás natural, seja via gasodutos ou GNL (gás natural liquefeito), além do encerramento dos contratos de mercado spot até o fim de 2025. 

A expectativa é cortar um terço das importações restantes ainda neste ano e eliminar totalmente o gás russo até o final de 2027.

O novo roteiro prevê também o fim gradual das importações de petróleo e produtos nucleares russos. 

Em junho, a Comissão apresentará propostas para restringir a compra de urânio enriquecido e outros materiais nucleares russos, bem como para combater a chamada “frota fantasma” da Rússia, usada para transportar petróleo burlando sanções.

Países deverão elabrorar seus planos nacionais

Os Estados-membros da UE deverão apresentar, até o fim de 2025, planos nacionais detalhando como pretendem contribuir para o abandono da energia russa.

A Comissão se comprometeu a trabalhar junto aos países para garantir que a transição ocorra sem comprometer o abastecimento ou provocar choques de preços.

“A mensagem para a Rússia é clara. Nunca mais vocês chantagearão nossos Estados-Membros. Nunca mais os euros irão alimentar seu cofre de guerra. Seu gás será banido. Sua frota fantasma será detida”, afirmou Dan Jørgensen, comissário para Energia e Habitação. 

“Fazemos isso para preservar nossa segurança. Mas também é um passo importante rumo à independência energética, produzindo nossa própria energia limpa e acessível, em vez de importar combustíveis fósseis caros”, completou.

De acordo com projeções da própria Comissão, a demanda de gás na UE deve cair entre 40 e 50 bcm até 2027. 

Ao mesmo tempo, a oferta global de GNL crescerá significativamente, com a capacidade de importação europeia podendo chegar a 200 bcm até 2028, cinco vezes mais que as importações atuais de gás russo.

Transição forçada

A iniciativa também integra o plano mais amplo da UE para fortalecer sua competitividade industrial, promover energia acessível e acelerar a transição para fontes renováveis, como parte do chamado Green Deal europeu, lançado em 2019.

O fim da dependência energética da Rússia representa, segundo Bruxelas, não apenas uma resposta geopolítica à guerra, mas um passo decisivo rumo à autonomia estratégica e à sustentabilidade energética da Europa.

“A utilização da energia como arma por parte de Putin reforça a necessidade de acelerar essa transição, diversificar o fornecimento e apostar em nossas próprias capacidades para garantir segurança no abastecimento energético e estabilidade nos preços”, disse Teresa Ribera, vice-presidente da Comissão Europeia para Transição Limpa.

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