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Transição aquece demanda de cobre, mas a oferta está sob pressão

Mais da metade das reservas globais de cobre estão localizadas em apenas cinco países

Mina de cobre na Suécia (Foto: Neta623/Pixabay)
Mina de cobre na Suécia (Foto: Neta623/Pixabay)

NESTA EDIÇÃO. Relatório da UNCTAD alerta que a demanda por cobre para nova economia verde e digital deve crescer mais de 40% até 2040, em meio a desafios de escassez e disputas geopolíticas.

Com a produção primária insuficiente e a necessidade de 80 novas minas até 2030, a sucata de cobre está rapidamente se tornando um material estratégico.


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Essencial para fabricação de veículos elétricos, energia renovável, infraestrutura de inteligência artificial, data centers e redes inteligentes, o cobre deve ver sua demanda saltar mais de 40% até 2040, testando a capacidade do mercado global de lidar com a pressão sobre recursos minerais, analisa a agência da ONU para Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, em inglês).

Relatório (.pdf) publicado nesta terça (6/5) alerta que uma iminente escassez de cobre pode paralisar a transição mundial para energia limpa e infraestrutura digital.

Atender à necessidade projetada para o cobre exigiria 80 novas minas e US$ 250 bilhões em investimentos até 2030, mas baixos teores do minério, riscos geopolíticos e longos prazos de desenvolvimento — até 25 anos para novas minas — desafiam o setor. 

Um dos principais pontos de atenção está na restrição do fornecimento. 

Mais da metade das reservas globais de cobre estão localizadas em apenas cinco países: Chile, Austrália, Peru, Congo e Rússia. Mas a maior parte do valor é agregada em outros lugares. A China atualmente importa 60% do minério e produz mais de 45% do produto refinado.

Fechar a lacuna de oferta exigirá licenciamentos mais rápidos, melhor tecnologia, parcerias mais sólidas e rotas comerciais mais diversificadas, inclusive abrindo oportunidades para países em desenvolvimento, que precisam passar a agregar valor aos seus minérios, defende a agência da ONU.

O problema é que quando eles tentam subir na cadeia, enfrentam barreiras comerciais. Enquanto o cobre refinado normalmente é tarifado abaixo de 2%, os impostos aumentam acentuadamente — até 8% — sobre produtos acabados, como fios, tubos e canos.

“Essa ‘escalada tarifária’ desestimula as exportações de valor agregado e limita os produtores ao papel de fornecedores de matéria-prima”, observa. 



A produção primária insuficiente tem atraído alguns grupos em direção ao fundo do oceano, onde acredita-se ser possível extrair grandes volumes de manganês, cobre, lítio, cobalto, entre outros. O tema é controverso porque o impacto dessa atividade no ecossistema marinho ainda é desconhecido — e pode anular os esforços de transição energética a que esses materiais se destinam.

Há uma alternativa mais sustentável: reciclar.

Segundo a UNCTAD, a sucata de cobre está rapidamente se tornando um material estratégico já que a reciclagem preserva as propriedades físicas e químicas do metal sem degradação, além de exigir menos energia que a mineração e o refino. Significa também menos emissões de gases de efeito estufa.

“À medida que as indústrias priorizam cada vez mais os princípios da sustentabilidade e da economia circular, o cobre reciclado desempenha um papel vital no atendimento à demanda. Os países também podem obter benefícios econômicos exportando sucata de cobre para países com infraestrutura avançada de reciclagem”, aponta o estudo.

Esse movimento já começou. Dados do International Copper Study Group mostram que quase um terço do uso global de cobre em 2023 — 4,5 milhões de toneladas — veio de fontes recicladas, com países ricos liderando as exportações de resíduos para reciclagem. 

Em 2023, os Estados Unidos sozinhos foram responsáveis ​​por 14,5% dessas exportações, seguidos pela Alemanha (6,7%), Japão (6,7%), Malásia (5%) e Holanda (3,7%). Por outro lado, China, Canadá e Coreia lideram as importações.

Vale dizer: em abril de 2025, o governo brasileiro regulamentou a importação de resíduos sólidos utilizados na transformação de materiais e minerais estratégicos, para permitir o aproveitamento do cobre, entre outros 15 minérios.


Haddad nos EUA. Na segunda (5/5), durante participação no Milken Institute Global Conference, em Los Angeles, Haddad disse que o Brasil está em posição privilegiada para liderar uma nova fase da globalização baseada em princípios sustentáveis.

E confirmou que o governo vai propor a desoneração total de investimentos e exportações de serviços ligados a data centers no Brasil em texto que será enviado ao Congresso Nacional, como antecipado pela agência eixos.

R$ 85 bi para minerais estratégicos. O BNDES anunciou nesta terça (6/5) que recebeu inscrições de 124 propostas de planos de negócios para investimentos em minerais estratégicos, no edital aberto em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O investimento potencial dos projetos totalizou R$ 85,2 bilhões, tendo como destaque iniciativas voltadas a terras raras, lítio, cobre e grafite.

Reforma do setor elétrico. A edição de uma medida provisória para conduzir a reforma do setor elétrico gera o risco de uso do projeto para ampliar a geração termelétrica, afirma o Instituto E+ Transição Energética. A entidade defende manutenção da renovabillidade da matriz para que o país desenvolva uma indústria de baixo carbono.

Cortes de geração. O mercado de geração centralizada solar fotovoltaica no Brasil deve retrair em 2025 devido ao agravamento dos cortes de geração, o curtailment, aponta levantamento da Greener. Segundo a consultoria, houve 17,1% de curtailment médio nos conjuntos solares entre abril de 2024 e março de 2025, o que ampliou a percepção de risco entre investidores.

Fiscalização de combustíveis. Parlamentares ligados ao setor de biocombustíveis e ao agronegócio apresentaram projeto de lei complementar para autorizar a ANP a acessar documentos fiscais de órgãos fazendários. O PLP 109/2025 foi apresentado nesta terça-feira (6/5). Os autores do projeto justificam a necessidade da medida visando o fortalecimento das ações de fiscalização e cruzamento de dados.

Novo comando na Elera Renováveis. O grupo anuncia Karin Luchesi como sua nova CEO, a partir de 14 de maio. Com 25 anos de experiência no setor elétrico, a executiva é formada em Engenharia de Produção de Materiais pela UFSCar com MBA Executivo em Finanças pelo Insper. André Flores, que acumulou a função de CEO interino ao final de 2024, retorna à posição de managing partner na Brookfield Asset Management, no Brasil.

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