Em busca de investimentos

Nos EUA, Haddad defende "reglobalização sustentável" e diz que Brasil está em posição privilegiada

Ministro também disse que há interesse em aprofundar os laços com os Estados Unidos, independente de quem ocupa a Casa Branca

Fernando Haddad avalia que a relação do Brasil com múltiplos blocos econômicos e sua vocação para investimentos "verdes" colocal o país na liderança por um novo modelo de globalização. Foto: Ministério da Fazenda
Fernando Haddad avalia que a relação do Brasil com múltiplos blocos econômicos e sua vocação para investimentos "verdes" colocal o país na liderança por um novo modelo de globalização. Foto: Ministério da Fazenda

RIO — O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou, nesta segunda (5/5), durante participação no Milken Institute Global Conference, em Los Angeles, que o Brasil está em posição privilegiada para liderar uma nova fase da globalização baseada em princípios sustentáveis. 

Ele destacou o papel do país na promoção do multilateralismo e disse que o êxito da presidência brasileira no G20 no ano passado deve fortalecer a atuação do país na COP30, que será realizada em Belém, no fim de 2025.

“O Brasil está numa posição, independentemente dos desafios globais, muito favorável. Porque os princípios que o Brasil defende no mundo são princípios completamente aderentes à necessidade de uma reglobalização sustentável“, afirmou Haddad.

Para o ministro, o protagonismo do Brasil se deve ao histórico da diplomacia multilateral brasileira e à rede de relações consolidadas com grandes blocos econômicos, bem como às oportunidades para receber investimentos em soluções limpas. 

“O Brasil defende o multilateralismo. O Brasil tem todas as parcerias consolidadas com o Sudeste Asiático, com a Europa, com Estados Unidos, Mercosul. Tem ótimas relações com os grandes blocos econômicos. Acabamos de fechar um acordo com a União Europeia”, pontuou.

Haddad disse que há interesse em aprofundar os laços com os Estados Unidos, independentemente de quem está à frente do governo. 

“Fizemos isso na administração Biden, faremos isso na administração Trump. Há complementaridades importantes entre as nossas economias que podem ser exploradas e devem ser exploradas”.

Transição ecológica

Haddad reiterou ainda que o governo brasileiro está comprometido com um plano de crescimento sustentável baseado na atração de investimentos e na transição ecológica. 

Ele citou o Plano de Transformação Ecológica (PTE) e o Tropical Forest Forever Facility (TFF) como pilares da nova economia verde do país, com ações que abrangem desde biofertilizantes até recuperação de pastagens e biocombustíveis como o SAF.

“O conjunto de projetos que o país já tem disponível (…) vai convencer o mundo de que o Brasil pode crescer a uma taxa mínima de 3%. Se nós continuarmos com o plano que foi apresentado ao país depois da eleição de 2022, o Brasil vai continuar recebendo muito investimento”.

Segundo Haddad, o objetivo do governo é atrair mais investimentos privados para o país. Ele destacou os avanços na legislação de concessões e parcerias público-privadas, além dos sinais de reindustrialização em setores como papel e celulose, automobilístico, energia limpa e logística.

Data centers e investimentos

Outro setor esperado para a chegada de investimentos é o de data centers — motivo da viagem do ministro aos EUA. 

Haddad confirmou a proposta de desoneração total de investimentos e exportações de serviços ligados a data centers no Brasil, em texto que será enviado ao Congresso Nacional para implementação de um marco legal para data centers, como antecipado pela agência eixos.

A medida é considerada estratégica para o avanço da digitalização e consolidação do Brasil como hub regional de tecnologia limpa.

“Há um campo enorme de parcerias que podem ser estabelecidas. Isso já está acontecendo (…) E a visita aqui tem o intuito de chamar a atenção de um setor que, na nossa visão, pode aproveitar muito mais as oportunidades que estão sendo oferecidas pelo país”.

G20 e COP30

Para o ministro, a presidência brasileira do G20 em 2024 alcançou um êxito diplomático ao conseguiu aprovar um comunicado final unânime, reiterando agendas consideradas importantes para o governo Lula (PT), que espera viabilizar o financiamento de projetos de transição energética, incluindo biocombustíveis.

Segundo ele, esse resultado ampliou a credibilidade do Brasil como articulador global e servirá de base para ampliar consensos na Conferência das Partes da ONU sobre o Clima (COP30), que vai ocorrer em novembro em Belém. 

“No ano passado tivemos muito êxito na presidência do G20. Depois de muitos anos, conseguimos construir um comunicado unânime (…) O trabalho do G20 vai acabar ajudando na COP, porque as pessoas vão estar um pouco mais familiarizadas com os debates que estão sendo endereçados em torno de pagamento por serviços ambientais, crédito de carbono e assim por diante”. 

Papel do Brics

O ministro também enxerga como estratégica a articulação do Brics — grupo que, além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, agora inclui Egito, Emirados Árabes, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e, mais recentemente, Indonésia.

A visão é que o bloco pode cooperar na construção de uma ordem internacional mais multilateral.

“Até pouco tempo atrás, 20 anos atrás, nós estávamos muito habituados a pensar G7, G8… A hora que você abre um pouco mais e reconhece que tem novos atores no cenário global, que tem um destaque muito grande, você começa a mudar um pouco a ordem das coisas”, disse Haddad. 

Além dos países-membros, no ano passado foram anunciados os países parceiros, que incluem Cuba, Bolívia, Turquia, Cazaquistão, Belarus, Tailândia, Vietnã, Nigéria, Uganda, entre outros.

A agenda brasileira na presidência do Brics inclui a transição energética e a reforma dos mecanismos financeiros globais, em que pretende fazer uma ponte entre os acordos alcançados durante a presidência do G20 em 2024 e a COP30, que acontece em Belém, no final deste ano.

Na semana passada, os Ministros das Relações Exteriores do Brics divulgaram um documento em defesa do financiamento climático e a industrialização de minerais críticos em países do Sul Global

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