NESTA EDIÇÃO. Eduardo Paes quer abrigar o maior hub de data center da América Latina e promete até 3 GW de energia limpa – só não diz como.
Haddad vai aos EUA apresentar ao Google, Amazon e NVDIA programa de subsídios para o setor.
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O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), anunciou esta semana que quer transformar a cidade no maior hub de data centers da América Latina e ficar entre os dez maiores do mundo, com o lançamento do projeto Rio AI City.
É um empreendimento ambicioso. Os planos incluem a construção de um campus de inteligência artificial de última geração na região do Parque Olímpico, com capacidade inicial de 1,8 gigawatts até 2027 e expansão para 3 GW até 2032.
Segundo Paes, o abastecimento será totalmente com “energia limpa” e com fornecimento ilimitado de água.
Se essa eletricidade virá de eólica, solar, nuclear ou uma combinação de fontes ainda não está claro, no entanto.
A prefeitura não respondeu aos questionamentos da agência eixos sobre a origem da energia, se há projetos em andamento ou mesmo capacidade para o município abrigar esta adição de capacidade.
Levar eletricidade 100% limpa para o mega hub não é simples. A região Sudeste/Centro-Oeste, onde se concentra boa parte do consumo industrial nacional (como siderurgia, mineração e química pesada), tem uma taxa de renovabilidade de cerca de 79%, de acordo com dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) referentes a 2023.
Além de correr o risco de ter que disputar a conexão na rede com projetos de hidrogênio verde.
Uma opção seriam projetos off-grid, desconectados do Sistema Interligado Nacional (SIN) — mas isso pode tirar a competitividade da instalação.
Sonho vs. realidade
Em 2023, o consumo carioca alcançou 15,2 milhões de MWh de acordo com dados do Data Rio. A demanda está abaixo dos cerca de 17 milhões de MWh registrados em anos anteriores a 2019, com recuos na indústria, comércio, iluminação pública e área rural.
A instalação de um projeto com o porte anunciado por Paes tende a impactar significativamente a demanda energética local, o que justifica a necessidade de vir acompanhado de adições de capacidade instalada – e de preferência livre de carbono.
No mundo, um estudo da Universidade de Stanford, publicado na Nature Electronics, estima que, até 2030, a quantidade de energia necessária para treinar modelos de IA – não só os usados pelos cientistas, mas até os mais corriqueiros como chatGPT, por exemplo – ultrapassará o consumo energético global atual.
Trazendo para a realidade do Rio, o desafio energético passa ainda por questões básicas como a desigualdade social que afeta o acesso à eletricidade e a qualidade da rede, a violência e as ocupações irregulares que dificultam a manutenção e o fornecimento, e a necessidade de diversificar fontes para reduzir a dependência de combustíveis fósseis.
Em busca de investidores
Ainda de acordo com a prefeitura carioca, a Invest.Rio, agência de promoção de investimentos da Prefeitura, já iniciou negociações com investidores nacionais e internacionais para viabilizar o projeto.
Se sair do papel, a Rio AI City promete apoiar inovação na área de inteligência artificial, criando condições para a instalação de novos supercomputadores, no estilo do Santos Dumont, administrado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação no Laboratório Nacional de Computação Científica.
A infraestrutura deverá ser conectada com o Porto Maravilha, onde Paes planeja um espaço de mais de 200 mil metros quadrados para integrar startups e empresas ao projeto.
Governo federal também está de olho nos data centers
A possibilidade de atrair investimentos na cadeia de valor de centros de dados e inteligência artificial também está na ordem do dia do governo federal.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), vai aos EUA no fim desta semana promover o programa nacional de data centers, um pacote de subsídios que busca incentivar a instalação desses empreendimentos no Brasil.
As agendas envolvem reuniões com executivos da Google e da Amazon e da fabricante de processadores e chips, NVDIA, que dominou o mercado voltado aos sistemas de inteligência artificial.
Na segunda (28/4), durante evento do Banco Safra, em São Paulo, o ministro disse ser inexplicável o Brasil ser deficitário na balança comercial de serviços de tecnologia da informação, dada as vantagens competitivas para instalação dos centros de processamento de dados no país.
A lista de vantagens incluiria infraestrutura nacional de dados e a oferta de energia limpa.
A proposta já foi discutida com o presidente Lula (PT) e com a Casa Civil. Haddad não mencionou na entrevista, mas o governo cogita editar uma medida provisória com o pacote de desoneração de investimentos. O regime especial está sendo batizado de Redata, como mostrou a eixos na semana passada.
Cobrimos por aqui
Curtas
Candidato anti-Trump vence eleição no Canadá. Mark Carney, do Partido Liberal, venceu as eleições canadenses ontem depois de uma virada histórica. Com 312 dos 343 assentos do Parlamento decididos, os liberais haviam conquistado 154 cadeiras, 23 a mais do que o Partido Conservador.
- O candidato conservador Pierre Poilievre não conseguiu vencer nem no distrito em que disputava uma vaga no Parlamento e ficará sem mandato. (UOL)
- O clima também pode comemorar uma vitória. Economista formado em Harvard e Oxford, Carney vinha se dedicando em tempo integral ao clima nos últimos anos. Ele foi o fundador e primeiro líder do Gfanz, uma coalizão internacional cujo objetivo é colocar o setor financeiro no caminho do net zero. (Reset)
Preocupados com metano? Pesquisa encomendada pelo Global Methane Hub coloca os brasileiros no topo do ranking dos que apoiam ações para mitigar as emissões de metano na América Latina. No Brasil, 90% dos entrevistados disseram apoiar medidas neste sentido, ante 82% na média da região. A teoria indica engajamento. A prática, nem tanto.
Baterias nos EUA. A indústria de armazenamento, ainda fortemente dependente da China, anunciou que empresas do setor planejam investir dezenas de bilhões de dólares para estabelecer uma cadeia de suprimentos nos Estados Unidos. Antes disso, porém, o setor faz um apelo crucial: a adoção de políticas fiscais e tarifárias estáveis
Brics contra CBAM. Em documento divulgado na terça-feira (29/4), ao fim da reunião de chanceleres no Rio de Janeiro, os países membros do Brics reafirmaram sua rejeição ao Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira da União Europeia (CBAM, na sigla em inglês) e defenderam o fortalecimento da parceria entre os membros no mercado de carbono.
Apagão na Europa. O apagão de grandes proporções que atingiu a Península Ibérica e também partes da França na segunda-feira (28/4) evidenciou a dificuldade da Espanha de equilibrar o fornecimento intermitente das renováveis, além da falta de flexibilidade e da alta dependência de importações do sistema elétrico de Portugal. A conclusão é da Rystad Energy.
InovaSolar. A Engie Brasil Energia está com inscrições abertas para o desafio InovaSolar, uma chamada pública para financiamento de projetos de inovação com foco em soluções para usinas solares. Podem participar Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs), universidades, startups, empresas de base tecnológica e consultorias sediadas no Brasil. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas até 9 de junho.