5º maior emissor de metano

Pesquisa indica apoio de brasileiros no combate às emissões de metano, mas ações vão em outra direção

Pesquisa do Global Methane Hub aponta que 90% dos brasileiros apoiam ações para reduzir emissões de metano; índice é o maior da América Latina

Trabalhador inspeciona instalações da GNR Fortaleza, usina de biometano a partir do aterro de Caucaia (CE), parceria entre Ecometano (MDC) e Marquise Ambiental (Foto: Barbosa Neto/Divulgação)
Planta da GNR Fortaleza, usina de biometano a partir do aterro de Caucaia (CE), parceria entre Ecometano (MDC) e Marquise Ambiental (Foto: Barbosa Neto/Divulgação)

LYON (FR) — Pesquisa encomendada pelo Global Methane Hub coloca os brasileiros no topo do ranking dos que apoiam ações para mitigar as emissões de metano na América Latina. No Brasil, 90% dos entrevistados disseram apoiar medidas neste sentido, ante 82% na média da região.

Além disso, 53% dos que responderam à pesquisa no Brasil dizem ter familiaridade com o metano e cerca de 80% apoiam uma medida política que exija a captura e o uso da poluição por metano desperdiçada na cadeia de suprimentos de petróleo e gás

O levantamento foi realizado de forma online pela Burson Insights, Data & Intelligence em 17 países e com mais de 1350 entrevistas. Em média, 82% dos entrevistados nesses países são favoráveis aos esforços de mitigação. 

A maioria dos entrevistados também acredita que são necessárias políticas específicas de monitoramento e medição das emissões de metano na agricultura (85%) e a criação de um programa para reduzir emissões provenientes de resíduos, com exigência de separação de recicláveis e proibição de resíduos orgânicos em aterros (90%).

Mudança cultural

Na teoria, os brasileiros estão engajados. Na prática, nem tanto.

Em entrevista à agência eixos, o presidente da Marquise Ambiental, Hugo Nery, observa que a população brasileira ainda não realiza ações efetivas para colaborar com a redução das emissões de metano, como a coleta seletiva, e é preciso uma mudança de mentalidade. 

“Se começássemos a fazer o trabalho da educação ambiental, se fizéssemos exigências legais para que o gerador [de lixo] participasse do processo, levaria vinte a trinta anos para que a gente venha a ter essa mudança de comportamento e destinação adequada desses resíduos”, aponta Nery.

De gás de efeito estufa a substituto de combustíveis fósseis

Uma das soluções para evitar que o gás seja lançado na atmosfera contribuindo com a crise climática é transformá-lo em combustível, por meio da destinação dos resíduos a aterros sanitários com biodigestores.

Quando captado em aterros sanitários com tecnologia adequada, o biogás — cuja uma das moléculas é o metano — pode ser tratado e transformado em biometano, um combustível renovável com poder calorífico semelhante ao do gás natural.

É o que faz, por exemplo, a GNR Fortaleza, resultado de uma parceria entre a Marquise Ambiental e a MDC Energia.

A instalação no Ceará já representa 15% do gás consumido no estado e, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), responde por 32% de todo o biometano produzido no Brasil.

Outro caminho é a compostagem. Segundo Nery, a operação dessas plantas de biometano pode chegar a um bilhão de reais durante sua vida útil, o que pode não fazer sentido para pequenos municípios.

“Você exigir que um município de até 5 mil habitantes tenha um aterro sanitário, não faz sentido lógico. Ele não deveria ter aterro sanitário, ele deveria ter compostagem. Neste caso, é preciso um esforço dos municípios de separar a massa orgânica dos outros alimentos para não contaminar e ir para uma compostagem”, explica.

“A partir dessa compostagem não geraria mais o chorume, o metano seria recuperado e você ainda teria adubo para a própria agricultura local. O que eu vejo é que a maioria dos gestores públicos ainda acha que o resíduo urbano é lixo, e não entende o potencial e a maneira técnica que precisa ser feita”, completa.

5º maior emissor

De acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (Seeg), o Brasil é o quinto maior emissor de metano do mundo e tem registrado aumento das emissões.

O gás representa um quarto do total das emissões do país, segundo o coordenador do Seeg, David Tsai. A principal fonte é o gado de corte.

“Apesar de o país ter assinado o Global Methane Pledge em 2021 — um acordo voluntário internacional para reduzir as emissões de metano em 30% até 2030 —, elas aumentaram 6% nos últimos três anos. O Brasil precisa urgentemente moldar políticas para reverter essa trajetória nos próximos cinco anos”, afirmou Tsai.

Segundo a instituição, as moléculas de metano são 28 vezes mais potentes que as de gás carbônico num período de 100 anos e contribuem para cerca de metade do aquecimento global atual. Por isso, o Observatório do Clima defende a necessidade de reduzir o metano em 45% para diminuir o aquecimento em 0,3 ºC até 2040.

A pesquisa do Methane Hub aponta ainda que 88% dos entrevistados brasileiros apoiam totalmente ações para minimizar impactos de mudanças climáticas, e 85% apoiam Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, em inglês), que incluem a meta para redução de emissões de metano assumida no Acordo de Paris.

“No Brasil, os impactos climáticos não são apenas riscos futuros — eles estão acontecendo agora. É por isso que os brasileiros estão demonstrando alguns dos maiores níveis de apoio a ações climáticas ousadas nas Américas. Eles entendem o que está em jogo e veem a redução do metano como uma prioridade para evitar o aquecimento do planeta mais rapidamente”, analisa o CEO do Global Methane Hub, Marcelo Mena, em nota.

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