Baixa prioridade

Orçamento de ministérios para transição energética está aquém de urgência climática, diz Inesc

Relatório aponta pulverização de ações do governo federal com recursos insuficientes

Esplanada dos Ministérios, em Brasília (Foto Antônio Cruz/Agência Brasil)
Esplanada dos Ministérios, em Brasília (Foto Antônio Cruz/Agência Brasil)

BRASÍLIA — Sede da cúpula climática das Nações Unidas em 2025, a COP30, o Brasil quer mostrar ao mundo seu protagonismo na transição energética e descarbonização da economia, mas faltam recursos e coordenação na Esplanada dos Ministérios, aponta um levantamento publicado nesta terça (29/4) pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).

O relatório Orçamento e Direitos: balanço da execução de políticas públicas analisa a execução orçamentária do governo federal em dez áreas consideradas prioritárias pela organização, entre elas, a transição energética.

E conclui que é preciso promover maior articulação entre as diferentes ações executadas pelos ministérios, além de aumentar as dotações orçamentárias das iniciativas federais neste sentido.

“Sabemos que o orçamento é escasso para pautas sociais, muito por conta do comprometimento com as emendas [parlamentares], que acabam capturando o orçamento público para fazer esse jogo político. E quando olhamos para transição fica muito mais escasso, porque o que vem avançando é via tarifa”, observa Cássio Carvalho, assessor político do Inesc.

Em entrevista à agência eixos, Carvalho avalia que o orçamento direto do governo federal para áreas relacionadas a renováveis e biocombustíveis, por exemplo, é muito baixo quando comparado ao que vai para petróleo e gás, especialmente quando se analisa o Ministério de Minas e Energia (MME).

“O MME deveria ser a locomotiva [da transição], mas acaba tendo um orçamento irrisório. Temos que ver o motivo disso, porque não adianta, por exemplo, eles tentarem fazer uma reforma do setor elétrico se não tem orçamento”, critica.

No estudo, o Inesc aponta que o orçamento do MME entre 2023 e 2024 teve apenas duas apenas duas ações especificamente destinadas à transição energética: “Estudos da Indústria de Biocombustíveis” e “Incentivo à Geração de Eletricidade Renovável”.

E que os recursos autorizados para essa área caíram 83,06% na comparação anual — de R$ 835.237,07 em 2023 para R$ 141.413,26 em 2024.

Além disso, essas ações representaram apenas 0,002% do total autorizado para ações discricionárias do MME em 2024, que foi de R$ 6,92 bilhões.

O orçamento público é uma decisão da equipe econômica, a junta liderada por Fazenda e Planejamento (MPO). E aprovado pelo Congresso Nacional.

Além de Minas e Energia, o relatório analisou os ministérios de Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA); Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS); Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI); Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC); e Agricultura e Pecuária (MAPA).

Fazenda e Meio Ambiente nem sequer entraram no capítulo destinado à transição.

Segundo o assessor do Inesc, o levantamento olhou ação por ação dos ministérios e não encontrou nada exclusivo para transição energética que se qualificasse na metodologia usada pelo estudo, nem mesmo no Plano de Transformação Ecológica.

Para Carvalho, a falta de uma centralidade causa a pulverização de ações, situação que é ainda mais crítica pela escassez de recursos.

Sem orçamentos para investimento em obras, por exemplo, cabe a essas pastas — MME, Fazenda, MDIC e outros — o desenho de políticas públicas, como o Combustível do Futuro e o marco legal do hidrogênio, aprovados em 2024.

A agência eixos procurou o MME mas não obteve resposta até o fechamento desta edição. O espaço segue aberto.

Orçamento de 2025

Em 2025, pela primeira vez, o “Programa Transição Energética”, incluído no Plano Plurianual 2024–2027, contará com dotação orçamentária específica, com R$ 10,11 milhões autorizados.

De acordo com o Inesc, é o único recurso previsto pelo MME exclusivamente voltado à promoção da transição energética no país.

O instituto compara a cifra com o “Programa Petróleo, Gás Natural, Derivados e Biocombustíveis”, que receberá, neste ano, R$ 53,10 milhões — mais de cinco vezes o montante destinado à transição energética.

O programa tem como objetivo “ampliar investimentos na exploração e produção de petróleo e gás natural, na infraestrutura de escoamento e processamento de gás
natural, no abastecimento de combustíveis e na redução da dependência externa de derivados, de forma a promover a segurança energética e a proteção dos interesses do consumidor, aliado a uma maior ênfase na transição energética”, segundo o PPA 2024-2027.

“Para alcançar uma transição energética com justiça socioambiental, é imperativo que o Brasil reavalie suas prioridades políticas e redirecione seus recursos financeiros para apoiar a descarbonização da sua economia, garantindo direitos, participação e transparência. Somente assim o Brasil poderá cumprir suas metas climáticas”, defende o assessor do Inesc.

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