NESTA EDIÇÃO. Relatório do FMI aponta incremento de 1,7 bilhão de toneladas de carbono em cinco anos, com a expansão da inteligência artificial.
Mas minimiza impactos: “ganhos econômicos serão maiores”.
E ainda: governo brasileiro prepara regime especial para atrair gigantes de data centers.
EDIÇÃO APRESENTADA POR
Sob as atuais políticas energéticas, o aumento da demanda por eletricidade impulsionado pela inteligência artificial pode adicionar 1,7 bilhão de toneladas (Gt) às emissões globais de gases de efeito estufa entre 2025 e 2030, aponta o Fundo Monetário Internacional (FMI) em seu mais recente relatório sobre a economia global.
O volume é semelhante às emissões de GEE relacionadas à energia da Itália em um período de cinco anos, o que é preocupante. No entanto, o documento examina que o custo social dessas emissões extras é “pequeno em comparação com os ganhos econômicos esperados com a IA”.
“Apesar dos desafios relacionados aos preços mais altos da eletricidade e às emissões de GEE, os ganhos da IA para o PIB global provavelmente superarão os custos das emissões adicionais”, diz o relatório.
As projeções usam como base o carbono ao preço médio de US$ 39 por tonelada. Isso resultaria em um custo social adicional de cerca de US$ 50,7 bilhões a US$ 66,3 bilhões, o que corresponde a 1,3% a 1,7% do aumento impulsionado pela IA no PIB global entre 2025 e 2030.
Mas esses acréscimos no PIB podem não ser distribuídos uniformemente entre os países e entre os diferentes grupos da sociedade, potencialmente exacerbando desigualdades já existentes, alerta.
“Os formuladores de políticas e as empresas devem trabalhar juntos para garantir que a IA atinja seu potencial máximo, minimizando os custos sociais”, conclui.
Esta semana estão ocorrendo as reuniões de primavera do FMI e do Banco Mundial, pautadas pelas incertezas geopolíticas intensificadas pelas tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em sua guerra comercial.
Nesta quinta (24/4), a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, disse que a organização permanecerá “focada” na prevenção de crises de balanço de pagamentos e incorporará as preocupações do governo dos Estados Unidos em suas políticas, mas continuará apoiando os países afetados pelas mudanças climáticas. (CNN)
Projeções
Nos dois cenários projetados para a expansão da participação da inteligência artificial na economia, o FMI aponta para aumento de emissões relacionadas ao consumo de energia por grandes centros de dados.
Na análise que considera as políticas energéticas atuais, o aumento de emissões em 2030 é de 5,5%, 3,7% e 1,2% nos EUA, Europa e China, respectivamente, com um crescimento médio global de 1,2%.
Em termos cumulativos, isso se traduz em um aumento global nas emissões de GEE de 1,7 Gt entre 2025 e 2030.
Já em um futuro com políticas energéticas alternativas, uma modesta descarbonização do setor elétrico limitaria o aumento total acumulado das emissões globais de GEE a 1,3 Gt até 2030.
O clima perde, a economia ganha. Segundo as estimativas, no cenário mais emissor, as transformações trazidas pela IA elevam a taxa média de crescimento anual do PIB global em 0,5 ponto percentual entre 2025 e 2030, em linha com estimativas anteriores do FMI, que variam entre 0,1 p.p e 0,8 p.p.
No cenário alternativo, esses ganhos são ligeiramente reduzidos devido às políticas de tarifas feed-in (mecanismo para incentivar renováveis).
“Os custos fiscais totais dessas tarifas variam de 0,3% a 0,6% do PIB em todos os países e são financiados por meio do aumento de impostos fixos, o que reduz ligeiramente o consumo das famílias. No entanto, os benefícios do crescimento da expansão da IA superam em muito esses custos, resultando em um crescimento médio anual do PIB semelhante em ambos os cenários”, analisa o FMI.
No Brasil, governo prepara para atrair data centers
O governo federal está fechando os detalhes para enviar ao Congresso Nacional uma proposta de criação de um novo marco legal para data centers, visando antecipar investimentos em infraestrutura e reduzir a dependência brasileira por serviços digitais.
Com uma proposta de desoneração de capex, o governo estima que será possível atrair até R$ 2 trilhões em dez anos, além de fomentar a indústria nacional – incluindo o consumo de energia renovável, que atravessa por uma crise por falta de demanda e desequilíbrios no setor.
O secretário do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Uallace Moreira, antecipou à agência eixos que a proposta está bem avançada e o presidente Lula definirá nos próximos dias se o marco legal será enviado ao Congresso por medida provisória ou projeto de lei.
O diagnóstico é que a indústria nacional vai se beneficiar da demanda por insumos, como os robustos sistemas de refrigeração e o alto consumo por energia necessária para rodar os supercomputadores.
Cobrimos por aqui
Curtas
UTE Brasília. A Termo Norte sugeriu ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) a data de 17 de junho para a audiência pública sobre o licenciamento ambiental da Usina Termelétrica Brasília. A audiência é um passo para a usina conseguir o licenciamento ambiental, mas o empreendimento ainda depende de outros debates para sair do papel.
Belo Monte. A Norte Energia, controladora de Belo Monte, avalia a possibilidade de construir barragens adicionais na bacia do Rio Xingu. O objetivo é aumentar a capacidade de armazenamento de água, principalmente para os períodos secos.
Geração própria. A demanda por fontes renováveis e a busca dos consumidores por menor dependência das distribuidoras devem levar a geração distribuída a um crescimento de 25% no Brasil em 2025, projeta Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD). Em março, a micro e minigeração distribuída de energia atingiu 5 milhões de unidades consumidoras.
Acesso a energia. O senador Cleitinho (Republicanos/MG) defendeu na quarta (23) o corte de recursos do fundo eleitoral e partidário para direcionamento a políticas sociais, como o subsídio da conta de luz para famílias de baixa renda. Cleitinho afirmou que a proposta do governo de beneficiar cerca de 30 milhões de brasileiros com a isenção na conta de energia elétrica tem seu apoio, desde que o custo não recaia sobre o restante da população.
Furto de cabos. A Polícia Civil do Rio de Janeiro faz, nesta quinta-feira (24/4), operação para desarticular esquema de furto de cabos. De acordo com a polícia, o grupo criminoso é especializado em furtar cabos de concessionárias de serviços públicos, como empresas de telecomunicações e de energia elétrica.
Biobunker. A Petrobras, por meio da Petrobras Singapore (PSPL), testou, na terça-feira (22/04), o abastecimento do navio graneleiro Luise Oldendorff, afretado pela Vale, com 24% de biodiesel adicionado ao bunker.
Inovação energética. Startups com soluções disruptivas para o setor de energia podem participar do Global Impact Challenge (GIC), competição internacional que chega ao Brasil com a SingularityU Brazil (parceira da principal universidade do Vale do Silício no Brasil). O objetivo é identificar e impulsionar soluções audaciosas para grandes desafios globais. O foco central da edição será o setor de energia. As inscrições podem ser feitas até junho.